Se pensa em investir na Bolsa, veja as regras de ouro que tornaram Soros e Buffett milionários
Estratégias dessas e outras lendas, como Peter Lynch e Bill Gross, para conquistar maior rentabilidade
Se existisse uma calçada da fama no mundo financeiro, certamente Warren Buffett, Peter Lynch, George Soros e Bill Gross teriam sua estrela dourada. Recém-começado o ano com várias incertezas – conflitos entre os Estados Unidos e o Irã, menor crescimento econômico, juros nos valores mais baixos, Brexit e tensões comerciais –, pode ser conveniente revisar a filosofia de investimento desses bilionários.
No Brasil, apesar das incertezas do cenário internacional, 2019 foi um ano de sucessivos recordes para a Bolsa de Valores. O bom humor do mercado foi intensificado com a notícia do menor risco país em nove anos. Soma-se a isso as reduções graduais da taxa de juros, que abriu as portas para o mercado de ações. Nos últimos quatro anos, o número de investidores na Bolsa triplicou, batendo 1,5 milhão de pessoas. Para o economista André Perfeito, da Necton Investimentos, 2020 vai ser o ano de se colocar essa euforia do fim de 2019 à prova: "Ano que vem vai ser "o" ano. Agora com os juros em 4,50% que o mercado financeiro vai ser de fato útil à sociedade", disse ele ao clientes, no final do ano passado. “Quando a taxa de juros real era 12% ao ano como era em 2005 todo mundo era “gênio” na Faria Lima, agora é a hora da gente mostrar serviço”.
Warren Buffett, o guru de Wall Street por excelência, também chamado de Oráculo de Omaha, tem uma fortuna próxima de 90 bilhões de dólares (367 bilhões de reais). Começou a amealhá-la quando tinha pouco mais de 11 anos, quando comprou ações de uma empresa por 38 dólares (155 reais), e ainda hoje aos 89 anos continua na ativa à frente da Berkshire Hathaway, que fechou 2019 com uma rentabilidade de 11%. “Preço é o que você paga, valor é o que você recebe”. Não se trata somente de investir barato estatisticamente. É preciso entender o que se compra (“o risco está em não saber o que se está fazendo”) e o que seu preço incorpora. Significa procurar negócios bons e compreensíveis (valores de qualidade) a preços atrativos (abaixo de seu valor intrínseco e real); de se dirigir a boas empresas cuja dinâmica seja conhecida, bem dirigidas, que saibam se adaptar às mudanças que ocorrem em sua indústria, capazes de durar muitos anos e com alguma vantagem competitiva clara. Investir de maneira inteligente a um prazo futuro (filosofia value investing). Certamente Buffett é um grande defensor do longo prazo: “Compre somente o que você ficaria feliz de manter durante 10 anos”.
Peter Lynch, o famoso investidor do fundo Magellan na Fidelity Investments, conseguiu uma rentabilidade anual média próxima de 30% entre 1977 e 1990. Sempre foi generoso ao dividir seus fundamentos de investimento. Em seu livro One Up on Wall Street oferece de maneira amena as linhas básicas de sua filosofia de investimento; em Beating the Street se estende sobre os investimentos mais relevantes de sua carreira profissional. Mesmo aposentado e dedicado à filantropia, ainda hoje continua compartilhando suas ideias (e assessora a Fidelity).
Para um investidor particular (“pode até mesmo superar os profissionais”) são essas: é preciso conhecer a empresa em que se investe e o porquê de sua escolha (“as ações não são bilhetes de loteria”); ter paciência (“é muito importante ter estômago para aguentar as correções de preço e, se não for o caso, não comprar ações”); não se deve manter ações que já não valem (“não é preciso se envergonhar por perder dinheiro; sim por se aferrar a uma ação com maus fundamentos”). Para ele, também é importante dedicar certo tempo para usar a matemática (“o nível requerido é de quarto grau, de modo que não é preciso se preocupar”) e comprovar que a empresa tem liquidez suficiente (“as bancarrotas são um grande problema”).
Soros, 8 bilhões
George Soros é quase um personagem lendário. Contam sobre ele que conseguiu colocar de joelhos o próprio Banco da Inglaterra em 1992, e ganhar 1 bilhão de dólares (4 bilhões de reais) ao operar contra a libra esterlina. Alguns dizem que com sua fortuna, de acordo com a revista Forbes superior a 8 bilhões de dólares (32 bilhões de reais), é um filantropo que, entre outras coisas, financia a educação e defende os direitos LGBT e os das minorias raciais; outros afirmam, entretanto, que simplesmente tenta manipular a política e a economia em benefício próprio.
Apesar da controvérsia que sua figura atualmente causa, ninguém no mercado financeiro nega minimamente sua capacidade como investidor. Sua estratégia pode ser resumida em quatro simples palavras: pensar, ler, refletir e escutar (principalmente quem pensa diferente). Soros valoriza as ações e bônus nos quais pretende tomar posições levando em consideração a informação que existe sobre o assunto no mercado (com euforia, medo, prevenção, desconfiança etc.). Quando decide tomar determinada posição a submete à prova no mercado. Se o resultado é positivo, a aumenta (“não há nenhuma posição de investimento grande demais”); se é negativo e simplesmente o incomoda, a abandona ainda que tenha perdas. Para Soros, investir é sobreviver: aprender a ser conservador, assumir perdas, não entrar no mercado se a situação não estiver clara e jogar forte quando a oportunidade se apresenta.
Bill Gross é conhecido como o Rei dos Bônus e, principalmente, é reconhecido pelo mérito de ter desenvolvido e mudado as regras do jogo no mercado de renda fixa e, ao mesmo tempo, obter durante mais de três décadas altas rentabilidades ao conseguir acompanhar as tendências quando julgava serem as corretas e também deixar de fazê-lo no momento oportuno. Pioneiro no uso de modelos matemáticos, Gross sempre defendeu os horizontes temporários de investimento de três a cinco anos – “sempre mais longos do que os de meus colegas” – ignorando o que ele chamava de ruído de mercado (“e quando ele se torna irracional”). Em sua opinião, sobre essa base só é preciso estruturar a carteira se com isso pode-se obter alguma vantagem de alguma tendência a curto prazo.
Aposentado há aproximadamente um ano, continuam sendo famosas as cartas que envia aos investidores em que não só dá conselhos sobre os mercados financeiros, como também outros sobre amor e assuntos mais cotidianos como o prazer dos espirros. Na última, datada de outubro, faz uma analogia entre a música Saved by Zero, do grupo de rock The Fixx, e a situação atual dos mercados com juros zero e negativos.
Alerta que é preciso se preparar para um lento crescimento econômico mundial e acha que chegou o fim das revalorizações de dois dígitos de meses e anos passados. Acha que “as ações de alto rendimento e dividendos assegurados são o que um investidor astuto deveria começar a ter”.
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