México denuncia um leilão de mais de 20 peças pré-hispânicas em Nova York

Peritos dizem se tratar de monumentos arqueológicos alguns dos objetos que a Sotherby’s oferece ao lance mais alto até 18 de maio

Uma figura olmeca de pedra (esquerda) e uma efígie maia no leilão na casa Sotheby’s.SOTHEBY'S
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O Ministério da Cultura do México e o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) tomaram medidas legais e diplomáticas contra um leilão de mais de 20 peças pré-hispânicas em Nova York. Até 18 de maio a casa Sotherby’s oferece objetos da cultura maia e olmeca, entre outras, que os especialistas mexicanos consideram “monumentos arqueológicos”. O país latino-americano prossegue a luta para recuperar o patrimônio que se expõe na Europa e nos Estados Unidos e que não tem um bom histórico recente: em fevereiro, a casa Christie’s arrecadou três milhões de dólares (15,8 milhões de reais) num leilão de peças pré-hispânicas em Paris.

As autoridades mexicanas apresentaram uma queixa ao procurador-geral da República e “contra quem for o responsável” pela venda dessas peças, algumas das quais poderão ser vendidas por até 70.000 dólares (369.000 reais), segundo estimativas da casa de leilões. A venda on-line começou no dia 11 de maio e os interessados poderão disputar esses tesouros pré-hispânicos até o dia 18, no âmbito do leilão anual de arte da África, Oceania e América, em que também são comercializados objetos provenientes da Colômbia, Madagascar e Fiji “recém-chegados ao mercado”, segundo a promoção da firma britânica. Por causa das restrições da pandemia de covid-19 nos Estados Unidos, quem desejar ver os objetos em Nova York antes dos lances deve marcar um horário. Tanto o Ministério da Cultura como o INAH, no entanto, concentram seus esforços na contenção do “tráfico ilícito de bens culturais” e na recuperação do “patrimônio mexicano” no exterior.

No lote, há, por exemplo, um machado maia do clássico tardio (entre os anos 550 e 950) que tem preço estimado entre 50.000 e 70.000 dólares. Até a manhã desta sexta-feira, três pessoas já tinham feito ofertas e o valor atual é de 38.000 dólares (201.000 reais). O objeto, uma efígie que poderia ser a representação de um jaguar, um morcego ou uma cobra, estava relacionado ao jogo de bola, mas seu uso ainda não está claro para os peritos, segundo a casa de leilões em seu site. Em relação à sua procedência, a Sotherby’s apenas explica que a Albright-Knox Art Gallery, em Buffalo, adquiriu a peça em 1944 de seus proprietários anteriores. Além disso, em algum momento lhe foi acrescida uma base de madeira confeccionada pelo artista japonês Kichizo Inagaki.

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Também está em oferta uma figura de pedra verde de 10 centímetros feita pelos olmecas entre 900 e 300 antes de Cristo e adquirida em 2008 por um colecionador privado dos EUA sobre o qual a Sotherby’s não fornece mais informações. Esta peça tem um preço inicial de 25.000 dólares (131.000 reais) e pode chegar a 40.000 dólares (210.000 reais), de acordo com as previsões da Sotherby. Até agora, ninguém propôs comprá-la. Quatro outros artefatos olmecas estão à venda, quatro maias —além da efígie—, um tlatilco, seis do atual território de Colima, três de Jalisco, dois de Nayarit, um de Huasteca e um de Veracruz.

As autoridades mexicanas explicaram que “por se tratar de um caso de investigação aberta” as instituições “estão impedidas de dar mais informações”. Só têm cinco dias para interromper a venda. A legislação mexicana estabelece que os achados de objetos de culturas antigas em território mexicano pertencem à nação, mas quando saem ilegalmente do país as autoridades perdem seu rastro. Este jornal entrou em contato com a empresa Sotherby’s, mas não obteve resposta.

O México empreendeu uma cruzada para recuperar o patrimônio histórico que se encontra em coleções particulares em todo o mundo. O antecedente mais recente é um leilão de 33 peças de arte pré-hispânica em Paris, que o Governo mexicano não conseguiu impedir apesar das queixas e denúncias apresentadas. Esse leilão superou as expectativas da Christie’s, arrecadando três milhões de dólares. Entre as figuras vendidas estavam três que o INAH considera falsas. Mas nem todos os casos ficaram sem solução. O baixo-relevo de Xoc encontrado em Paris em 2015, em um leilão da firma Binoche et Giquello, foi devolvido ao México dois anos depois.

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