Morre Chica Xavier, uma ‘rainha’ da representatividade negra nas artes brasileiras
A atriz morreu neste sábado aos 88 anos, dias depois de descobrir um câncer em estágio avançado
Chica Xavier é um símbolo da representatividade negra na arte brasileira que jamais será apagado. A atriz ― cujo rosto jamais foi associado a de uma vilã ao longo de décadas na televisão ― morreu neste sábado (8), aos 88 anos. Deixou este mundo por conta de um câncer no pulmão que descobriu somente nos últimos dias, ao ser internada em um hospital do Rio de Janeiro com dificuldade para respirar na última quarta-feira. No dia de sua morte, se espalham pelas redes sociais inúmeros depoimentos de atores negros que ela inspirou (e também acolheu) ao longo dos anos.
Francisca Xavier Queiroz de Jesus foi a Dama Negra da peça Orfeu da Conceição, onde encarnou a morte nos palcos de teatro, declamando versos do poetinha Vinícius de Moraes e dançando ao som de atabaques. Na televisão, deu vida à Inácia de Renascer e à Bá de Sinhá Moça. Nascida em Salvador, começou a trabalhar muito jovem, aos 14 anos. Mas foi depois dos 20, já no Rio de Janeiro, que decolou uma longa carreira artística. Foram muitos personagens interpretados em palcos e nas mais variadas telas por mais de 60 anos ― trabalho grande que lhe rendeu, dentre tantas coisas, a publicação de uma biografia e a homenagem no nome de um centro cultural em 2011.
A maior parte da carreira de Chica Xavier foi dedicada à televisão, mas a atriz também publicou escritos nos quais defendia a fé e a religiosidade afro-brasileira. O livro “Chica Xavier canta sua prosa. Cantigas, louvações e rezas para os orixás” foi lançado há mais de 20 anos (em 1999), com ilustrações de sua filha, Izabela d’Oxóssi.
Seja no teatro, na TV ou na escrita, Chica Xavier deixa este mundo exaltada como rainha por muitos de seus colegas e companheiros de jornada. “O céu recebe hoje a nobreza. Entre nós vivia uma nobre, uma rainha elegante, sábia, afetuosa, agregadora, ombro e colo para muitos. Salve a rainha Chica Xavier!”, escreveu a também atriz Taís Araújo.
O ator Lázaro Ramos, também baiano, lembrou que Chica era inspiração para iniciar a carreira artística e exaltou o acolhimento da atriz quando se mudou para o Rio de Janeiro. “Cheguei ao Rio e tive o privilégio de trabalhar com ela e generosamente como fazia com todos ela me acolheu, me passou ensinamentos, me apresentou a sua linda família, e abriu as portas da sua casa para que eu soubesse que ali onde ela era yalorixa era um lugar de fé e acolhimento.Obrigado Dona Chica por inspirar e se doar como se doou. Obrigado pelo amor e talento que nos ofereceu”, disse em sua homenagem.
A atriz Suzana Pires usou suas redes sociais para se despedir de Chica Xavier, onde definiu a atriz como não só referência na arte, mas também como ser humano. “Um grande ícone das artes, referência artística, espiritual e humana. Uma mulher que durante toda a sua vida trouxe paz e arte onde esteve. Construiu uma família linda, de pessoas honradas e comprometidas. Chica, que a gente siga honrando todo seu talento, sua garra e sua fé. Sua continuidade é fato. Obrigada por tudo. Axé”.
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