Lava de vulcão em La Palma se aproxima do mar, e contato com a água elevará o risco de gases tóxicos

Na Espanha, Defesa Civil e Capitania Marítima intensificam seus planos de segurança para impedir o acesso dos moradores à área

A erupção vulcânica no monte Cumbre Vieja, em La Palma, vista da localidade de Los Llanos, nesta terça-feira. Em vídeo, imagens da lava na noite de segunda-feira, em espanhol.
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A lava do vulcão de La Palma está a ponto de chegar ao mar, sua saída natural. A desembocadura do magma no oceano é um fenômeno que preocupa as autoridades porque sua reação com a água salgada provoca nuvens tóxicas. Por esse motivo, o dispositivo acionado pela Defesa Civil será intensificado quando isso acontecer, porque “poderá haver explosões e emissão de gases nocivos”, segundo o Pevolca, comitê encarregado de gerenciar a crise vulcânica nas ilhas Canárias. A Capitania Marítima ampliou na noite desta segunda-feira a zona de exclusão náutica, abrangendo duas milhas a partir da costa e que vai de Puerto Naos ao sul até a praia de Las Viñas (Tazacorte) ao norte. Por terra, as forças de segurança impedirão o acesso à região.

Os cientistas previam que a lava alcançaria a costa por volta das 20h desta segunda-feira (hora local, 16h em Brasília), mas o fluxo se desacelerou. Miguel Ángel Morcuende, diretor técnico do Pevolca (Plano de Emergências Vulcânicas das Canárias), disse, já de noite, que “tivemos menos atividade no vulcão, menos volume de massa magmática”. “A atividade do vulcão se desacelera. A lava está sobre o bairro de Todoque. Ainda falta metade do caminho percorrido para chegar ao mar. Não vai chegar esta noite”, acrescentou. Ainda não está claro quando o rio de lava chegará ao oceano, e se o fará por cima ou pela base da montanha de Todoque, com um avanço mais lento e depois de se abrir uma nova boca eruptiva em Tacande, a 900 metros da principal. Um cenário que os cientistas do Pevolca já previam.

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Quando a língua de lava (com temperatura aproximada de mil graus Celsius) alcançar o mar (cuja água está a pouco mais de 20 graus) ocorrerá uma explosão de vapor de água que gerará uma densa nuvem branca. A lava, com seu calor extremo, provoca esse penacho, mas também uma reação química, da qual participa principalmente o cloro, que pode irritar a pele, os olhos e as vias respiratórias. Há quatro perigos principais associados à lava que flui para o oceano, segundo o Departamento de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos: o desmoronamento repentino dos terrenos e escarpas do litoral, as explosões desencadeadas por esse colapso, as ondas de água fervendo que são geradas no entorno e, por último, a coluna de vapor tóxico com ácido clorídrico e pequenas partículas de cristais vulcânicos.

Mas nem tudo é destruição quando o mar interage com um vulcão, como se pôde observar na recente erupção submarina de El Hierro, em 2011. O navio de pesquisa oceanográfica Ramón Margalef deve chegar a La Palma na sábado à tarde para estudar detalhadamente a entrada da lava no mar, informa Nuño Domínguez. A embarcação também recolherá rochas e corais da área. Estes organismos absorvem enxofre e outros gases cuspidos pelo vulcão, por isso o Margalef espera também estudar o impacto da entrada maciça de lava sobre a fauna, explica Eugenio Fraile, pesquisador do Instituto Espanhol de Oceanografia. “Os mais afetados serão os organismos que vivem presos ao fundo marinho e que não podem se mover, e que provavelmente morrerão. Mas a recuperação pode ser rápida. Três anos depois da erupção do vulcão submarino de El Hierro estes organismos se renovaram quase por completo”, destaca.

O Instituto Geográfico Nacional (IGN) realizou modelos matemáticos para calcular os lugares pelos quais a língua de lava avançará, em função dos parâmetros da lava e das características do terreno. Com esse mapa, os cientistas tentam auxiliar os trabalhos da Defesa Civil, apontando as rotas mais prováveis, conforme explica a diretora do Observatório Geofísico Central do IGN, Carmen López: “Conhece-se a área de máxima probabilidade de ser afetado pelas línguas de lava”.

Porém, esses cálculos foram feitos a partir das nove bocas eruptivas, de duas fissuras diferentes, que já se abriram, segundo López. Mas os cientistas não descartam que novas fissuras possam surgir, que o fluxo mude ou, embora seja menos provável, que novas erupções comecem em outro ponto. Por enquanto, um cone assumiu o protagonismo. López explica que, ao alcançar a superfície, o magma procura uma saída e “pode aparecer em diferentes pontos de emissão, mas o mecanismo é o mesmo. Não seria outra erupção, mas não se descarta que possam surgir outros pontos de emissão ou outras pequenas fissuras”.

Os primeiros cálculos sugerem que o vulcão conta com 17 ou 20 milhões de metros cúbicos de lava, menos da metade dos 43 milhões que o Teneguía expeliu em 1971, mas esse é um cálculo muito preliminar, que precisa ser revisto. Sobre a duração da erupção, os cientistas acreditam que pode chegar a semanas ou inclusive meses.

6.000 desabrigados

O vulcão de La Palma, o primeiro a entrar em erupção na Espanha desde o Teneguía (também em La Palma), mantém em alerta essa ilha a 450 quilômetros da costa africana, dias depois de ele começar a cuspir fogo e cinza. A lava que ele expele, com uma altura média de seis metros (equivalente a uma casa de dois andares) já destrói centenas de residências, lavouras e infraestruturas por onde passa em localidades como Tacande e El Paraíso (um distrito do município de El Paso), informa Guillermo Vega. Até o momento, a erupção do vulcão no município canário de El Paso não deixou mortos nem feridos, mas obrigou quase 6.000 pessoas a deixarem suas casas. A situação na região está se tornando “desoladora”, na descrição do presidente do Cabildo (administração insular), Mariano Hernández Zapata, porque a lava “literalmente devora moradias, infraestruturas e lavouras que vai encontrando pelo seu caminho rumo à costa do vale de Aridane”.

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