NASA acusa a China de agir de forma irresponsável após a queda descontrolada de seu foguete

Mídia estatal chinesa afirma que destroços do ‘Longa Marcha 5B’ caíram no mar perto da Índia e Sri Lanka, depois que o foguete colocou em órbita o primeiro módulo da nova estação espacial da China

Imagem captada pelo telescópio AROAC-T08 da rede de vigilância espacial europeia mostra o foguete chinês em sua órbita ao redor da Terra.
Imagem captada pelo telescópio AROAC-T08 da rede de vigilância espacial europeia mostra o foguete chinês em sua órbita ao redor da Terra.SST.eu
Mais informações
Sonda china Tianwen-1 llega a Marte
Chegada da sonda ‘Tianwen-1’ a Marte reforça o ambicioso programa espacial da China
This Tuesday, April 6, 2021 image made available by NASA shows the Perseverance Mars rover, foreground, and the Ingenuity helicopter about 13 feet (3.9 meters) behind. This composite image was made by the WASTON camera on the rover's robotic arm on the 46th Martian day, or sol, of the mission. (NASA/JPL-Caltech/MSSS via AP)
NASA produz oxigênio respirável em Marte
Support teams work around the SpaceX Crew Dragon Resilience spacecraft shortly after it landed with NASA astronauts Mike Hopkins, Shannon Walker, and Victor Glover, and Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA) astronaut Soichi Noguchi aboard in the Gulf of Mexico off the coast of Panama City, Florida, U.S. May 2, 2021. NASA/Bill Ingalls/Handout via REUTERS  MANDATORY CREDIT. THIS IMAGE HAS BEEN SUPPLIED BY A THIRD PARTY.
Quatro astronautas retornam da estação espacial em uma cápsula privada da Space X

O foguete Longa Marcha 5B da agência espacial chinesa caiu no oceano Índico às 23h24 de sábado (horário de Brasília), informou a autoridade espacial da China. Os restos que resistiram ao atrito brutal com a atmosfera ao reentrar na Terra atingiram o mar perto da Índia e Sri Lanka. O foguete, que decolou em 28 de abril, estava caindo descontrolado desde que cumpriu sua missão de colocar em órbita o primeiro módulo da futura estação espacial chinesa, a Tianhe. Nos últimos dias, todos os organismos de acompanhamento de objetos espaciais seguiam com detalhe a evolução de sua queda para tentar indicar qual seria a trajetória e o momento mais provável em que atingiria a superfície do planeta. Finalmente, a maioria dos destroços se desintegrou ao entrar na atmosfera, e os que restaram afundaram no oceano. O comando espacial dos EUA confirmou a reentrada do foguete sobre a Península Arábica, o que coincide com a trajetória necessária para cair onde a China informou, embora o organismo americano assinale que não se sabia se os destroços caíram no mar ou em terra.

O administrador da NASA, Bill Nelson, divulgou um comunicado criticando duramente a gestão de foguetes da China: “Fica claro que a China não está cumprindo os padrões de responsabilidade em relação ao seu lixo espacial”, afirmou. “É fundamental que a China e todas as nações e entidades comerciais com viagens espaciais atuem de maneira responsável e transparente no espaço para garantir a segurança, a estabilidade e a sustentabilidade a longo prazo das atividades no espaço exterior.”

Os últimos cálculos das autoridades europeias no início da noite de sábado indicavam que o foguete cairia na Terra por volta das 22h30 (horário de Brasília), com mais de duas horas de margem de erro. Naquele momento, a estimativa do projeto de vigilância espacial impulsionado pela União Europeia (SST) era de que pudesse cair no mar perto da costa da Austrália. “Mas a incerteza continua sendo muito alta, a probabilidade de cair lá não chega nem ao dobro da de cair em outro lugar”, assinalava Jorge Lomba, chefe do programa espacial do Centro para o Desenvolvimento Tecnológico Industrial da Espanha e coordenador do SST. Por volta das 19h de sábado, tanto a agência russa Roscosmos como o Departamento de Defesa dos EUA indicavam que a Península Ibérica estaria em plena trajetória de reentrada dos destroços e que isso poderia acontecer em frente à costa norte de Portugal.

O protocolo para esses casos indica que depois da hora estimada de queda deve ser feita uma varredura com três radares para certificar que o foguete não continua em órbita. Os EUA utilizam um satélite de infravermelho para acompanhar a enorme energia que esses destroços emitem ao se chocar com a atmosfera e certificar o ponto de reentrada.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

A margem para identificar o ponto de queda era muito ampla, já que os cálculos indicavam que o foguete (as partes que resistissem ao atrito com a atmosfera) poderia cair entre os paralelos 40 graus norte e 40 graus sul: de Madri, Pequim ou Nova York, no norte, até Cidade do Cabo, Buenos Aires ou Santiago do Chile, no sul. Enquanto caía sobre a Terra, voava a uma velocidade de 28.000 quilômetros por hora girando sobre si mesmo em uma órbita elíptica, o que complicava a identificação do ponto de colisão com a atmosfera, a uma altura de 80 quilômetros.

A China tinha declarado que era “altamente improvável” que os restos do foguete causassem danos ao cair e apostava em sua desintegração ao atingir a atmosfera, onde o atrito pode causar temperaturas de 3.000 a 10.000 graus, dependendo do ângulo de entrada, da forma e do tipo de material. “A maioria dos restos do foguete se desintegrará e se destruirá durante sua reentrada na atmosfera”, disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.

A agência espacial chinesa foi muito criticada por seu descuido deliberado na hora de administrar esses foguetes. Embora não haja uma regulamentação internacional para isso, a prática habitual é projetar sistemas de controle da reentrada na Terra, como propulsores que permitam estabelecer uma trajetória, para objetos de mais de cinco toneladas. E o Longa Marcha 5B pesava mais de 20 toneladas. Em maio de 2020, a China lançou um foguete similar a este, e parte de seus destroços (alguns bastante grandes) caíram na Costa do Marfim, provocando reclamações dos Estados Unidos.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS