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Parque de Abrolhos, uma rica biodiversidade ameaçada O Parque Nacional Marítimo de Abrolhos, que concentra a maior biodiversidade do Atlântico Sul, teme ficar ainda mais vulnerável aos riscos ambientais pela oferta de quatro blocos para exploração de petróleo a 130 quilômetros de seu banco de corais. O Governo pretende vender os blocos mesmo contrariando laudos técnicos do Ibama e recomendações do Ministério Público. A esperança de ambientalistas e das comunidades locais é de que as empresas decidam não comprar os lotes diante da insegurança jurídica que os cerca. Mesmo que sejam vendidos, a exploração dos blocos precede de decisão judicial e licenciamento ambiental para acontecer. É preciso percorrer de três a cinco horas de barco —a depender do tipo de embarcação e das condições do clima— para chegar até o arquipélago de Abrolhos desde a costa mais próxima, na cidade baiana de Caravelas. O arquipélago é formado por cinco ilhas: duas abertas para visitação turística, duas só para fins científicos e a última gerida pela Marinha. O lugar atrai em média 7.000 visitantes por ano interessados na experiência com a observação de uma natureza abundante. A experiência envolve desde a observação de animais aos mergulhos para visualização de corais e trilhas que permitem a visualização da abertura dos ovos de tartarugas. Ao longo dos 70 quilômetros que separam o arquipélago da costa mais próxima, na cidade de Caravelas, pequenos grupos de baleias jubarte saltam na água. Elas, que há cinco anos saíram da lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção graças a programas de recuperação desenvolvidos em pelo menos três décadas, migram para a região de Abrolhos entre os meses de julho e novembro para se reproduzir. E são hoje um dos principais atrativos turísticos do lugar. No entorno das ilhas, é possível observar com muita facilidade várias espécies que correm sério risco de desaparecer do planeta. É o caso das espécies de tartaruga verde e da tartaruga-de-pente, que nadam principalmente próximo às pedras de origem vulcânica que formam o arquipélago. Existem pelo menos 1.300 espécies documentadas em todo o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, 45 delas na lista de extinção. Dentre as espécies que correm o risco de desaparecer do planeta, está a ave grazina (phaethon aethereus ). No Brasil, essa espécie só existe hoje em Abrolhos e Fernando de Noronha. Na ilha Sirila, a de mais fácil acesso do arquipélago e conseguentemente a que concentra mais visitas, vivem colônias de aves marítimas conhecidas como atobás brancos, espécie ameaçada de extinção. Essas aves, que podem mergulhar até 10 metros de profundidade e se alimentam de peixes, só se reproduzem uma vez por ano. Abrolhos é um dos únicos quatro locais onde elas se reproduzem no Brasil. O Parque Nacional Marítimo de Abrolhos inclui áreas de conservação de mar e da costa. Protege, por exemplo, a Reserva Extrativista (Resex) de Canavieiras, que engloba uma das maiores áreas de manguezal da Bahia. A Resex de Canavieiras, criada em 2006 para aliar a conservação ambiental e o modo de vida tradicional das comunidades, beneficia cerca de 2.600 famílias que vivem da pesca e da extração de mariscos na região. O manejo e a pesca, ali, são conhecimentos repassados de geração para geração. Com a possível exploração de petróleo em quatro blocos próximos de Abrolhos, as oito comunidades extrativistas da região temem viver uma tragédia ambiental como a de Brumadinho. As oito comunidades da Resex de Canavieiras estão organizadas sob o guarda-chuva da Associação Mãe dos Extrativistas de Canavieiras (AMEX). Um levantamento da Universidade Federal de Vitória e do ICMBio estima que a produção pesqueira primária anual da região chega a 38 milhões de reais. O aratu é um dos principais mariscos capturados pelas comunidades extrativistas de Canavieiras. Cerca de 12 mil pessoas vivem da pesca no mar e da coleta de ostras, caranguejos e crustáceos na região. Enquanto navega pelo mangue de Canavieiras, Jailton Santos Santana, de 42 anos, tenta explicar o que o território representa pra ele: "É daqui que eu tiro a minha vida, gente. Criei meus filhos pegando caranguejo aqui". Ele integra uma das 150 famílias que vivem na comunidade de Campinhos, área dentro da Resex de Canavieiras. O pescador Reginaldo Conceição Bezerra, de 67 anos, exibe a armadilha para capturar moreias com a qual trabalha. "Sou pescador velho", ele diz. E conta que começou a pescar de tarrafa aos 15 anos de idade.