Khamer, a última parada para os deslocados no Iêmen
Desde o final de março, intensos combates se intensificaram na província de Hajjah. O conflito entre as tropas do grupo Ansar Allah e as forças leais ao presidente Abdrabbuh Mansur Hadi, apoiadas pela coalizão liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes, deslocou milhares de pessoas. Algumas delas buscaram segurança em Khamer, na província vizinha de Amran, onde equipes de Médicos Sem Fronteiras estão prestando assistência médica e cirúrgica
Vista geral do campo de Dahadh. Nos últimos anos, as equipes dos MSF distribuíram kits de emergência para as pessoas no campo de Dahadh em várias ocasiões e operaram clínicas móveis para fornecer assistência médica, até que o acesso ao campo não foi mais permitido pelos proprietários das terras.Agnes Varraine-Leca (MSF)Tuabit é o supervisor do campo de Dahadh. Ele lamenta a falta de serviços e de mais banheiros no local, especialmente para as mulheres, que evitam ir aos locais sozinhas à noite por estarem muito longe. Tem viva na memória a noite em que sua família fugiu de Saada e o caminho interminável cruzando o território.Agnes Varraine-Leca (MSF)Mohammed Hamoud, toca o alaúde. Ele vive no campo de Dahadh, a um quilômetro da cidade de KhamerAgnes Varraine-Leca (MSF)Desde a primavera passada (outono no Brasil), Ahmad vive com sua esposa e três filhos nas ruínas de uma casa antiga perto da mesquita de Khamer. A família vem da província de Hajjah, de onde eles fugiram em abril. Ex-comerciante, Ahmad perdeu tudo nos combates e bombardeios que afetaram Kuchar, uma área montanhosa a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Arábia Saudita. Em março, mais de 5.300 famílias haviam conseguido fugir do distrito, mas milhares estavam presas nas áreas afetadas pelos combates, sem possibilidade de abrigo. Segundo as Nações Unidas, estima-se que há 3,65 milhões de pessoas deslocadas no Iêmen.Agnes Varraine-Leca (MSF)A família de Tareq chegou a Khamer em fevereiro de 2018 fugindo dos combates em Kuchar. O filho de Tareq morreu porque não conseguiu receber cuidados médicos. Eles ficaram completamente isolados e encurralados pelo fogo cruzado. Antes de chegar a Khamer, a família teve de passar por uma infinidade de postos de controle. Agora, os 26 membros da família vivem juntos em uma casa grande. Tareq não quer voltar para Kuchar, suas terras foram muito castigadas e prefere ficar a salvo em Khamer.Agnes Varraine-Leca (MSF)Dois de cada três deslocados do campo de Dahadh chegaram ao local em 2015, no início da guerra. Fugiam de bombardeios aéreos intensos da coalizão apoiada por Arábia Saudita e Emirados Árabes à província de Saada, um reduto do grupo Ansar Allah.Imagem do campo de Dahadh. No início do ano, 20 mil pessoas tiveram que sair de suas aldeias e cidades por causa de confronto no norte de Abs e na província de Amran e vieram somar-se às milhares de famílias que já estavam no exílio. As batalhas mais violentas ocorreram em Abs, perto da fronteira com a Arábia Saudita, onde MSF apoia um hospital de campanha. É o mesmo local que foi parcialmente destruído por um ataque aéreo em 15 de agosto de 2016, que matou 19 pessoas. Dois anos depois, em junho de 2018, um novo bombardeio da coalizão liderada por Arábia Saudita e Emirados Árabes destruiu um centro de tratamento de cólera que havia acabado de ser construído pelos MSF na mesma cidade.Quase um quarto de todos os ataques aéreos registrados realizados pela coalizão atingiram Saada desde o início do conflito, de acordo com o grupo de monitoramento Yemen Data Project. Declarada zona hostil pela coalizão em 2015, esta é a província mais bombardeada no Iêmen.