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O turismo com fotos falsas que exige horas de fila para fazer uma imagem fake num templo de Bali

Não há água: é um jogo de espelhos feito com a câmera parta deixar a imagem mais 'instagramável'

Héctor Llanos Martínez
A foto compartilhada no Twitter por Polina Marinova (dir.) e a registrada pela agência de turismo.
A foto compartilhada no Twitter por Polina Marinova (dir.) e a registrada pela agência de turismo.

Polina Marinova é uma jornalista búlgara que mora em Nova York. Na última quinta-feira, ela compartilhou uma mensagem no Twitter sobre a decepção que teve ao saber que as imagens no templo Pura Lempuyang, de Bali (Indonésia), são montagens. Coloca-se um espelho ou uma superfície refletora na parte inferior da lente da câmera para gerar na imagem um efeito aquático que não é real.

“Eis aqui uma prova de que os influencers do Instagram estragaram tudo. Meus sonhos e esperanças se partiram em mil pedaços ao descobrir que a água sob as Portas do Céu é somente um pedaço de vidro debaixo de um iPhone”, diz o tuíte, compartilhado mais de 7.000 vezes nas primeiras 24 horas.

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Nos comentários da mensagem de Marinova, outras pessoas confirmam o truque do espelho. “Isso aconteceu comigo há duas semanas. Cheguei lá e disse: ‘Espere, onde está a água?’ Me senti enganada”, disse uma delas.

Verne entrou em contato com a agência de viagens Indonesia en Tus Manos, situada em Madri e especializada no país asiático, que nos explicou a história por trás da nova moda. “Na primeira vez que vi uma foto assim nas redes sociais, pensei que o lugar tinha sido inundado”, disse por telefone o agente de turismo Alejandro Viato. “Não costuma haver água ali, além de uma pequena poça.”

A operadora confirmou que, para conseguir esse efeito, nem sequer é preciso um filtro. “Moradores do lugar se oferecem para fazer a foto em troca de alguns euros colocando o celular a 90 graus contra uma superfície que faça reflexo”, explica. Um vidro, um espelho e até a capinha do celular servem para o truque. Neste vídeo do usuário do YouTube Antarik Anwesan, pode-se constatar o ardil a partir do minuto 1:48.

“Morei na Indonésia e não conhecia o lugar. Não era dos mais populares até dois anos atrás. O efeito Instagram o transformou num destino muito popular. Há pessoas que vêm até a agência com uma dessas fotos na mão pedindo que as levemos até lá”, diz Viato. O templo Pura Lempuyang fica dentro de uma trilha que leva ao topo do monte Lempuyang. As portas onde os visitantes costumam fazer fotos estão diante do vulcão Agung, o mais alto de Bali.

O problema é que a obsessão por fazer uma foto falsa para as redes sociais lotou de turistas esse templo, localizado no extremo leste da ilha.

“Os guias com quem trabalhamos pediram que não os levemos lá nos meses de julho e agosto. As filas de espera costumam ser de três horas. Recomendamos aos nossos clientes que invistam esse tempo em visitas a outros lugares”, diz um agente de viagens. “Embora esse templo seja bonito, você não vai encontrar a água e, nos dias nublados, nem verá o vulcão ao fundo. Não vale à pena arriscar um dia de visita.”

A moda das fotos para o Instagram é tão forte que outras operadoras organizam tours especializados em fotos com poses fingidas, percorrendo apenas lugares como esse templo. Uma parada obrigatória é esta gangorra no alto de uma colina em Ubud, um povoado no sul de Bali. A fila para chegar até lá leva mais de uma hora, dizem as resenhas dos viajantes publicadas na Internet. Nesta imagem, pode-se ver a influencer espanhola Marta Lozano posando no lugar.

“É uma pena fazer esse tipo de tour, porque você perde a experiência real. Isso está saindo do controle”, lamenta Viato, que ressalta a parte positiva de todo esse absurdo. “Centenas de famílias locais vivem graças aos 2 ou 3 euros (8,40 ou 12,60 reais) que cobram dos turistas para fazer as fotos falsas.”

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Bali swing In Ubud 🌴

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