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Megan Rapinoe: “Não irei à merda da Casa Branca”

Capitã da seleção dos Estados Unidos é uma ativista na luta pela igualdade e contra o presidente Trump

Megan Rapinoe (à direita) ouve o hino junto a Dunn.
Megan Rapinoe (à direita) ouve o hino junto a Dunn.Martin Rose (Getty)
Alejandro Prado

Se por algo se destaca Megan Rapinoe, além do seu futebol, é por não ter papas na língua. Quando perguntada sobre uma eventual visita ao presidente Donald Trump depois da Copa do Mundo, a capitã da seleção feminina de futebol dos EUA bufou e disparou um eloquente: “Não irei à merda da Casa Branca”. Rapinoe, destaque no jogo das oitavas de final contra a Espanha, com dois gols de pênalti, está consciente de que seria uma personagem incômoda para a Administração Trump: custa imaginar duas figuras mais antagônicas que a contestadora atleta e o polêmico mandatário.

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Aos quase 34 anos, Rapinoe é um símbolo que vai além do esporte. Sabe e utiliza sua condição para reivindicar causas sociais e lutar contra a discriminação. “Sou um protesto ambulante”, descreveu-se em uma entrevista ao Yahoo antes da Copa. Por isso não canta o hino das listras e estrelas, nem leva a mão ao coração como o resto de suas colegas; simplesmente fica em pé, estática. “Não acho que voltarei a cantar o hino”, diz.

Em 2016, a jogadora do Seattle Reign se solidarizou com Colin Kaepernick, o jogador de futebol americano que punha um joelho no chão sempre que o hino tocava, em protesto pela brutalidade policial contra os negros. Rapinoe imitou o gesto, levando a federação a criar uma norma que exigia “respeitar” o símbolo nacional, permanecendo em pé. “Suponho que, pelo fato de ser mulher e homossexual, sinto uma maior empatia em relação às pessoas que não se encontram em uma posição dominante. Achei uma obviedade. Quando alguém se afoga, você vai ajudar fica na beirada?”, disse a jogadora ao EL PAÍS.

Em 2012, Rapinoe tornou pública sua homossexualidade e desde então é uma das bandeiras LGTBI nos EUA. Sua namorada é outra estrela do esporte, a jogadora de basquete Sue Bird, que joga no Seattle Storm, da WNBA. Ambas aparecem juntas com assiduidade em reportagens fotográficas e televisivas.

“Sexista e misógino”

Rapinoe também é uma dor de cabeça para Donald Trump. “Sexista”, “misógino”, “mesquinho”, “curto de ideias", “racista” e “má pessoa” são apenas alguns dos adjetivos que a capitã dedicou ao presidente de seu país. O mandatário criticou a atitude da jogadora durante o hino — “É pouco apropriado” — e sua recusa em ir à Casa Branca: “Deveria ganhar antes de falar”, disse Trump, que imediatamente, no entanto, tratou de apagar o incêndio ao se declarar fã da seleção feminina e abrir as portas do seu gabinete “ganhem ou percam”.

“Seria uma egoísta se me calasse”, repete Rapinoe em mais de uma entrevista. A atleta assume que está no centro de uma grande plataforma, o futebol, e se empenha em utilizar seu alto-falante. Como capitã, há anos encabeça uma guerra contra sua própria federação. Em 2016, poucos meses após ganhar a Copa do Mundo, moveu uma ação judicial junto a outros ícones da equipe, como Hope Solo, Carly Lloyd, Alex Morgan e Becky Sauerbrunn, em que acusava o organismo responsável pelo futebol norte-americano de discriminação salarial. No último 8 de março, Dia da Mulher, voltou a liderar uma denúncia pela mesma razão e por ter piores condições de treinamento e de viagens que a equipe masculina. Segundo argumentam, elas ganham mais partidas, geram mais faturamento à federação e somam mais audiência televisiva. Mesmo assim, as diferenças são eloquentes: os homens podem chegar a ganhar até 70.000 reais de bicho por uma vitória, ao passo que para elas o valor não chega a 15.000. As partes envolvidas concordaram em se submeter a uma mediação após a Copa.

O hino norte-americano voltará a soar na sexta-feira perante a anfitriã França, nas quartas de final. Rapinoe calará na fila de jogadoras, e falará quando a bola começar a rolar, e também após o apito final.

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