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O medo de uma cidade sob o risco de mais um ‘tsunami’ de lama Há mais de três meses, os moradores de Barão de Cocais, em Minas Gerais, vivem sob tensão pelo risco de rompimento da barragem Sul Superior, que abastece a mina do Congo Soco. Perigo iminente alterou rotina e economia local Localizada a 100 quilômetros da capital Belo Horizonte, Barão de Cocais está em alerta desde fevereiro, quando sirenes de alerta foram acionadas pela primeira vez por conta da situação crítica de estabilidade da barragem Sul Superior. A Vale, empresa responsável pela estrutura, retirou centenas de moradores de três comunidades vizinhas. Pouco mais de um mês depois, as sirenes voltaram a soar indicando riscos, mas foi nos últimos dias que a tensão chegou ao ápice. O problema está no talude (um paredão de terra) na cava da mina do Congo Soco, que se movimentava cerca de 10 centímetros ao ano, mas na última quarta-feira, passou a apresentar movimentação de 9,6 centímetros por dia. Caso o talude rompa por conta dessa intensa movimentação, pode provocar abalos sísmicos, um gatilho para o rompimento da barragem Sul Superior, que já apresentava instabilidade. Embora a Vale garanta estar tomando as medidas preventivas possíveis, o perigo iminente do rompimento tem causado tensão na região. Douglas Magno Geraldo Xisto de Pádua, 66, há 48 anos é o proprietário de um bar na saída de Barão de Cocais para a Vila do Socorro, Piteiras, e Gongo Soco. Após a interdição desses lugares, os clientes sumiram. “Hoje não tem ninguém mais, não passa ninguém”, diz Geraldo. Em fevereiro, empresas de auditoria contratadas pela Vale indicaram que a barragem tinha "condições críticas de estabilidade", o que motivou a retirada de famílias da região. A barragem Sul Superior, assim como a de Brumadinho, foi construída com o método a montante, considerado mais barato e menos seguro. A barragem de Barão de Cocais, porém, tem a metade do volume de Brumadinho: 6 milhões de metros cúbicos. Douglas Magno Barão de Cocais vive um drama há meses. Além do medo e da incerteza sobre seu futuro, serviços essenciais foram afetados no município. Várias agências bancárias transferiram atendimento para cidade vizinha de Santa Bárbara. Na foto, o comerciante Adão Pereira Filho, 54, que construiu sua casa na cidade com o dinheiro de sua mercearia. Ele sofre com a falta de clientes, depois que 452 pessoas da cidade foram retiradas de suas casas pela Vale. Douglas Magno As prateleiras vazias são o sinal que algo está errado há mais de três meses, quando parte da população foi desalojada por conta do risco de rompimento da barragem e a cidade ficou esvaziada. Sem clientes e até mesmo sem fornecedores, restam poucas mercadorias e sobram nomes na lista de devedores. Do total de desalojados de quatro comunidades localizadas a jusante da barragem Sul Superior, 287 estão em hotéis nos municípios vizinhos e 175 com parentes e amigos. Douglas Magno Apenas as pessoas que moravam na chamada zona de autossalvamento, a primeira área a ser atingida pelo mar de lama caso haja ruptura da barragem, foram retiradas em fevereiro. Em março, a barragem passou para o nível 3 de alerta, quando há ruptura iminente ou já está rompendo. Foi quando os moradores da chamada zona secundária, onde a lama chegaria em cerca de uma hora e 12 minutos, passaram por simulado de fuga com a Defesa Civil estadual. Na foto, placas colocadas pela Vale em Barão de Cocais indicam as rotas de fuga em caso de emergência. Douglas Magno Por todo lado na cidade, você se depara com um carro com alto-falantes. Como não existem sirenes de alerta na cidade, os moradores serão avisados por eles, em caso de um possível rompimento. Um estudo interno da própria Vale aponta que as sirenes podem reduzir bastante a mortalidade em caso de rompimento da Barragem Sul Superior. Sem o alerta, a empresa prevê de 100 a mil mortos. Com ele, o número cai para no máximo 10 óbitos. Douglas Magno Cerca de seis mil pessoas estão na chamada Zona Secundária. Os locais são marcados por uma faixa laranja pintada nas calçadas. A Barragem Sul Superior está entre as dez construídas pelo método de alteamento a montante que a Vale pretende eliminar nos próximos anos. A mineradora informa que está fazendo monitoramento 24 horas das estruturas. Douglas Magno Obras da Igreja de Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro, foram retiradas e levadas para o Santuário São João Batista em Barão de Cocais. Na foto, imagem no Santuário São João Batista, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Ao notar um expressivo aumento na movimentação do talude da mina, a Vale estimou que o talude desmoronaria entre o último dia 19 de maio e este fim de semana. Douglas Magno Hoje o vilarejo está abandonado, muitas casas foram saqueadas e os moradores estão alojados em hotéis e casas alugadas em Barão de Cocais e cidades vizinhas. Um estudo elaborado pela empresa Potamos em 2017 sobre as hipóteses de ruptura da barragem Sul Superior, chamado dam break, estima que a inundação no caso de rompimento poderia se estender por 72,5 quilômetros ao longo dos rios São João e Santa Bárbara. A inundação, porém, seria mais expressiva nos primeiros 52 quilômetros. Douglas Magno Os 458 moradores do vilarejo do Socorro tiveram de sair de suas casas e deixar tudo pra trás, casa, móveis, animais de estimação e toda a história que construíram durante toda a vida, desde de 8 de fevereiro, quando a barragem da Mina de Gongo Soco entrou em estado iminente de rompimento. Conforme o estudo de impacto da Vale, caso haja rompimento da barragem, a lama de rejeitos atingiria os municípios de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo. Um muro de contenção está sendo erguido entre a estrutura e Barão de Cocais, para tentar reter a lama. Douglas Magno