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WhatsApp fecha canais de partidos espanhóis e se retira da disputa eleitoral

Facebook aplica com rigidez seus termos de serviço e limita a atuação das agremiações políticas. A empresa comandada por Mark Zuckerberg é dona do serviço de mensagens

Duas pessoas esperam o resultado das eleições gerais espanholas de 2015.
Duas pessoas esperam o resultado das eleições gerais espanholas de 2015.CESAR MANSO/AFP/Getty Images
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No último dia da campanha eleitoral espanhola, os canais oficiais dos principais partidos no WhatsApp permaneceram mudos. A ferramenta, que foi crucial em eleições como a brasileira, escapou ao controle na Espanha. O partido esquerdista Podemos informou na terça-feira que suas contas tinham sido fechadas. Durante a quarta e quinta-feira, os demais partidos nacionais foram caindo sem anunciar o fato publicamente. Todos usavam a ferramenta de maneiras diferentes, mas há dois dias que não se comunicam por ela.

A resposta que o EL PAÍS obteve de fontes do Facebook é clara: os partidos políticos não podem usar o API do WhatsApp Business (o aplicativo que serve para administrar contas de empresas) nem de fornecedores externos para mandar mensagens em massa. Os fornecedores externos ajudam os partidos a classificar e mandar mensagens a milhares de usuários de uma só vez. Nenhuma das empresas espanholas que faz isso é fornecedora certificada pelo Facebook.

A estratégia dos partidos era enviar mensagens virais, favoráveis ou bons discursos de seus candidatos aos seguidores, esperando que os distribuíssem entre seus contatos. Era uma maneira de se conectar diretamente com os eleitores mais convictos e fiéis. A maioria dos partidos enviou no máximo três ou quatro mensagens por dia durante a primeira parte da campanha, mas o WhatsApp não permitiu mais que isso acontecesse. O Facebook afirma que deixou claro em suas reuniões com os partidos antes da campanha que proibiria as contas que não cumprissem as regras. No final, acabou por aplicar a norma de maneira rigorosa.

Os partidos lamentam a perda de um de seus principais canais de comunicação a dois ou três dias das eleições. Mas isto não significa que não possam usar o WhatsApp absolutamente. A regra da empresa é seguir os padrões responsavelmente e como qualquer outro usuário. Aparentemente, os grandes partidos grandes não estavam fazendo isso e ficaram sem esses canais. Nestas quinta e sexta-feira, partidos regionais catalães, valencianos e canários, provavelmente com muitos menos seguidores inscritos em suas contas, continuaram mandando algumas mensagens.

O Partido Popular (direita) reenviou uma mensagem no WhatsApp para retomar esses contatos a poucas horas do encerramento de campanha. O Podemos, por sua vez, voltou todos os seus esforços para o Telegram, onde conta com vários grupos grandes. O principal passou de 10.000 para mais de 30.000 membros nesta semana. Lá, o partido aproveitava nesta sexta-feira o último dia de campanha para tentar chegar aos indecisos, convidando os seguidores a compartilharem com seus contatos um vídeo do dirigente Pablo Iglesias. E lhes pedia que o fizessem justamente pelo WhatsApp.

A ação do WhatsApp deixa algumas dúvidas. Um dos partidos recebeu em todas as suas contas suspensas a seguinte mensagem: “Temos motivos para suspeitar que a atividade de sua conta violou nossos Termos de Serviço e decidimos manter sua conta suspensa. Recebemos uma numerosa quantidade de queixas a respeito de sua conta, e para proteger a privacidade de nossos usuários não revelaremos a natureza dessas queixas”. Membros desse partido se surpreenderam, porque algumas dessas contas ainda nem tinham sido usadas, então não poderiam ser denunciadas por outros usuários. O Facebook não deu detalhes sobre esta ação.

Podemos, o primeiro

O Podemos foi o primeiro a soar o alarme. Na segunda-feira, durante o primeiro debate eleitoral na televisão, as contas do partido pararam de funcionar, sem que fosse especificado o motivo, exceto por uma menção ao descumprimento dos termos de uso. Na terça-feira pela manhã, a agremiação denunciou que essa medida lhes prejudicava eleitoralmente, especialmente porque os demais partidos tinham podido utilizar a ferramenta após os debates eleitorais. Segundo seus cálculos, mais de 50.000 pessoas seguiam os canais do Podemos.

“Se pela mesma prática só se fecha a conta do Podemos, trata-se de uma discriminação e uma ingerência em uma campanha eleitoral de uma empresa privada que pode influir de maneira determinante, como indicam especialistas em redes sociais”, disse Juanma del Olmo, secretário de Comunicação do partido.

O fechamento de contas de outros partidos ocorreu na quinta-feira. Conforme antecipou o site El Confidencial, a maioria dos números telefônicos do PP e PSOE tinham deixado de ser “contas de empresa”. Ao longo desse dia, outras contas dos partidos Ciudadanos e Vox também foram inabilitadas. Em um breve comunicado, um porta-voz da companhia não esclarecia razões concretas, embora apontasse que os partidos não tinham utilizado a ferramenta de maneira responsável. "Desenvolvemos tecnologia avançada de machine learning [aprendizagem automática] para identificar e cancelar contas que se dedicam a enviar mensagens automáticas ou maciças. Estamos constantemente trabalhando para melhorar nossa habilidade de identificar e cancelar contas que abusam do nosso serviço".

Nenhum dos partidos, exceto o Podemos, fez declarações públicas ou explicou como a suspensão os afeta. Durante algumas horas, o Podemos achou que suas contas voltariam a funcionar. Assim havia comunicado o WhatsApp em uma mensagem, mas depois a companhia lhes informou que era um engano, e que as contas continuariam inabilitadas.

Em outros países já funciona uma aplicação específica Premium para empresas que administram companhias parceiras do WhatsApp. Nela, cada empresa tem um só número, e as mensagens em princípio são pagas. O Facebook não permitiu que nenhuma empresa oficial na Espanha colaborasse na fase beta com os partidos para esta campanha. Deixou que os partidos se virassem sozinhos. O pouco prazo e o nervosismo eleitoral provavelmente levaram a esse descontrole.

O objetivo do Facebook com sua plataforma de mensagens é que não se transforme em um poço de spam e que, segundo a companhia, os usuários conservem o controle de sua experiência. As mensagens a granel não serão portanto bem-vindas.

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