O ‘efeito Mercury’: procura-se astro (vivo ou morto) para blockbuster
Sucesso global da cinebiografia do vocalista do Queen entrou no radar dos grandes estúdios. Agora, disputa-se o direito de narrar a trajetória de artistas como Prince, Elton John, Aretha Franklin
2,7 bilhões de reais são 2,7 bilhões de poderosas razões. Se deixarmos de lado sagas de ação e franquias de super-heróis, a adaptação da vida e milagres de Freddie Mercury e do Queen é o filme mais visto do ano em todo o mundo. A incrível bilheteria obtida por Bohemian Rhapsody não passou despercebida nos gabinetes dos executivos de Hollywood, colocando-nos às portas de uma nova onda de biopics baseados em lendas da música e que, de passagem, servem como remédio à alardeada escassez de ideias na meca do cinema. Isso ocorre também na televisão, onde a repercussão da série da Netflix sobre o cantor Luis Miguel contribui para o efeito-manada. Ou deveríamos chamá-lo de “efeito Mercury”?
Rocketman será o primeiro a tentar provar — ainda no primeiro semestre de 2019 — que as cinebiografias de cantores são os novos thrillers de ação no que se refere ao poder de atração de público. O filme baseado na vida de Elton John poderia perfeitamente ser a segunda parte de Bohemian Rhapsody se imaginássemos uma dessas antologias televisivas tão na moda, que fosse intitulada British Music Story. Os paralelismos são evidentes: contam as histórias de duas grandes lendas da música britânica, ícones pop com vidas repletas de excessos, e filmadas pela mesma pessoa. Embora não tenha sido creditado na versão que chegou aos cinemas, Dexter Fletcher foi chamado de urgência para finalizar o biopic de Mercury depois da polêmica saída de Bryan Singer. Agora repete no gênero com um filme produzido pelo próprio John, uma espécie de epílogo que coincide no tempo com sua anunciada aposentadoria dos palcos. Taron Egerton (Kingsman) colocará os extravagantes e coloridos óculos de sol característicos do músico, com um roteiro que, ao contrário do ocorrido em Bohemian Rhapsody, não passará ao largo dos episódios mais controvertidos. Seus responsáveis já anunciaram que se tratará do “primeiro musical para maiores de 18 anos da história”, com direito a muito “sexo, drogas e rock’n’roll”.
Um dos melhores amigos de John, com quem interpretou a mítica Don’t Let The Sun Go Down On Me, o saudoso George Michael, é a mais recente figura a ser adquirida no atual leilão hollywoodiano por direitos sobre as biografias dos cantores mais célebres do século XX. Consta que a canção citada acima também estará na trilha sonora de Last Christmas, uma comédia romântica protagonizada por Emilia Clarke, a Khaleesi de Game of Thrones. Corroteirizada pela atriz Emma Thompson e produzida pela Universal Pictures, o fato é que o próprio Michael tinha assinado sua participação antes de morrer, e o longa-metragem contará com canções até agora inéditas do artista.
Além de George Michael, a Universal acrescentou recentemente outro gigante da música ao seu catálogo, ao anunciar neste mês um projeto baseado nas canções de Prince, que morreu em 2016, aos 57 anos. Não será uma biografia habitual do artista de Minneapolis, e sim uma história original contada através de clássicos como Purple Rain ou I Would Die 4 U. Uma ideia afim a Mamma Mia!, cuja segunda parte (também produzida pelo estúdio) foi outra das grandes surpresas deste ano. Esse projeto se une a dois outros relacionados ao artista desde sua morte: um documentário de Ava DuVernay (Selma) para a Netflix e Queen For A Day, sobre a história real de uma fã que ganhou jantar com o cantor.
As biografias de estrelas da música não são novidade em Hollywood, mas nunca foram tão mainstream. Até agora, esses projetos pareciam relegados a impressionar mais os cinéfilos de base e a crítica especializada do que o público das multissalas. Exemplo disso são filmes cult como Control (baseado em Ian Curtis) e I’m Not There (Bob Dylan), e os prêmios dados a atores como Jamie Foxx, Marion Cotillard e Joaquin Phoenix por darem vida a Ray Charles, Edith Piaf e Johnny Cash, respectivamente. Antes do triunfo de Bohemian Rhapsody, o inesperado sucesso nas bilheterias norte-americanas do filme baseado no grupo de rap N.W.A, Straight Outta Compton, já parecia predizer o que estava por vir. E a tendência não termina aqui: estão em desenvolvimento projetos sobre Janis Joplin (interpretada por Michelle Williams), Michael Jackson (num filme que contará sua vida através de seu chimpanzé Bubbles) e a recém-falecida Aretha Franklin (com Jennifer Hudson como protagonista).
A televisão não é alheia a este fenômeno. Uma das séries mais comentadas do ano na Netflix foi Luis Miguel, recriação da infância — explorada — e posterior maturidade de uma das mais herméticas estrelas latinas. A mesma plataforma anunciou há poucos dias a produção de outra ficção baseada numa lenda mexicana, Selena Quintanilla, a rainha da música texana, que foi assassinada pela presidenta de seu clube de fãs com apenas 23 anos. Também na Netflix está em preparação uma antologia da cantora country Dolly Parton, com a atriz Julianne Hough (Rock of Ages) dando vida à mítica Jolene, e já saiu o longa-metragem Dumplin, protagonizado por Jennifer Aniston e que conta com Parton como inspiração e compositora da trilha sonora.
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