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Humanos colocam em perigo um terço das reservas naturais da Terra

Hoje, 1 de agosto, é a data que marca o esgotamento do planeta, incapaz de regenerar os recursos naturais que a população mundial consumiu em 2018. E três quartos dos países têm pelo menos 50% de suas áreas protegidas afetadas pela exploração de minérios, as estradas e a agricultura

Destruição de um garimpo ilegal de ouro na Amazônia peruana.
Destruição de um garimpo ilegal de ouro na Amazônia peruana.Reuters

Há 146 anos o Parque Nacional de Yellowstone, no noroeste dos Estados Unidos, transformou-se na primeira área protegida do mundo. Desde então, países de todo o planeta criaram mais de 200.000 reservas naturais. Juntas, somam mais de 20 milhões de quilômetros quadrados, quase 15% da superfície terrestre. Uma área maior do que a América do Sul.

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Os governos criaram as áreas protegidas para que animais e plantas possam viver sem que a ação humana os afete, já que, de outra maneira, acabariam extintos. São lugares especiais, presentes às gerações futuras e para todas as formas de vida não humanas no planeta.

Mas de acordo com um estudo publicado na revista Science, quase um terço dessas áreas protegidas (seis milhões de quilômetros quadrados) sofre a pressão do ser humano. Estradas, minas, explorações industriais, fazendas, municípios e cidades: tudo isso ameaça as supostas áreas protegidas.

Está provado que essas atividades humanas são as responsáveis pela diminuição e extinção das espécies em todo o mundo. A nova pesquisa mostra como essas atividades são frequentes dentro das áreas que foram criadas para proteger a natureza.

Foi feita uma estimativa sobre o alcance e a intensidade da pressão humana em áreas protegidas. A análise se baseou no rastro humano, uma medida que combina os dados de acordo com a construção, a agricultura intensiva, as pastagens, a densidade da população, a iluminação noturna, as estradas, as ferrovias e os canais fluviais.

Construção de uma estrada entre os Parques Nacionais Tsavo Oriental e Tsavo Ocidental no Quênia.
Construção de uma estrada entre os Parques Nacionais Tsavo Oriental e Tsavo Ocidental no Quênia.FOTO FORNECIDA POR UM DOS AUTORES

Surpreendentemente, quase três quartos dos países têm, pelo menos, 50% de suas áreas protegidas submetidas a uma intensa pressão humana, ou seja, modificadas pela exploração de minérios, estradas, exploração florestal e agricultura. O problema é mais grave na Europa Ocidental e no sul da Ásia. Somente 42% das áreas protegidas estão livres da ação do homem.

Um rastro gigante

Por todo o planeta encontramos exemplos de enormes infraestruturas que os humanos construíram nos limites das áreas protegidas. Projetos tão importantes como ferrovia entre os Parques Nacionais Tsavo Oriental e Tsavo Ocidental no Quênia fizeram com que o rinoceronte negro se transformasse em uma espécie em perigo de extinção e até a famosa perda das jubas dos leões. A ideia de acrescentar uma estrada de seis pistas ao lado da ferrovia já está em andamento.

Muitas áreas protegidas da América como a Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, e o Parque Estadual Rio Negro Setor Sul, no Brasil, lutam contra a pressão das cidades próximas que estão densamente povoadas e têm muito turismo. Nos Estados Unidos, tanto o Yosemite como o Yellowstone são afetados pelas complexas infraestruturas turísticas que estão sendo construídas próximas aos seus limites.

Em países desenvolvidos como a Austrália, o panorama é desolador. Um bom exemplo disso é o Parque Nacional de Barrow Island, na Austrália Ocidental, onde mamíferos como o wallaby lebre, o rato canguru, o bandicut dourado e o wallaby das rochas de costas negras estão em perigo de extinção e, entretanto, estão sendo feitos grandes projetos relacionados ao gás e ao petróleo.

Apesar de estarem autorizados pelo Governo, os projetos financiados internacionalmente como os de Tsavo e Barrow são muito comuns. As áreas protegidas enfrentam também o impacto das atividades ilegais. No Parque Nacional de Bukit Barisan Selatan, em Sumatra, declarado patrimônio da Humanidade pela Unesco, estão em perigo de extinção o tigre de Sumatra, o orangotango e o rinoceronte. Agora, além disso, se transformou no lar de 100.000 pessoas que se instalaram lá e transformaram 15% do parque em plantações de café.

Cumprindo a promessa das áreas protegidas

As áreas protegidas respaldam nosso esforço por conservar a natureza. Atualmente, 111 países alcançaram o objetivo global de ter 17% de áreas protegidas, estabelecido pelo Plano Estratégico para Salvaguardar a Biodiversidade das Nações Unidas. Mas, se não levarmos em consideração as supostas áreas protegidas que sofrem a atividade humana, 74 desses 111 países não alcançariam o objetivo. Além disso, a proteção de alguns tipos de habitat mais específicos, como os mangues e as florestas temperadas, se reduziria em 70% se levarmos em consideração a enorme quantidade de áreas que sofrem essa pressão.

Os governos de todo o mundo pedem que suas áreas protegidas preservem a natureza, mas ao mesmo tempo aprovam projetos dentro dos limites dessas áreas e não conseguem realizar a prevenção de danos. Esse é, provavelmente, um dos principais motivos pelos quais a biodiversidade continua diminuindo, apesar do grande aumento das áreas protegidas.

The Conversation

Os resultados não preveem um final feliz, mas oferecem uma visão clara sobe a situação das áreas protegidas no mundo. Se não formos capazes de aliviar a pressão nelas, o destino da natureza estará cada vez mais subordinado a condições de conservação deficientes e pouco eficazes, que estarão sujeitas a debate político e serão difíceis de se aplicar em grande escala. Não podemos nos permitir fracassar.

Sabemos com certeza que as áreas protegidas são eficientes. Bem financiadas, devidamente geridas e corretamente localizadas, são capazes de acabar com as ameaças que provocam a extinção das espécies. Chegou o momento de a população fazer com que os Governos sejam conscientes da importância da conservação global e realizar uma avaliação completa e honesta da situação real das áreas protegidas.

Artigo elaborado por James Watson, James Allan, Kendall Jones, Pablo Negret, Richard Fuller, Sean Maxwell. Foi originalmente publicado em The Conversation.

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