13 fotosFortaleza sob o comando do crimeNa capital cearense, facções expulsam moradores de casa, isolam comunidades e se matam 26 mar. 2018 - 16:17BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinBlueskyLink de cópiaO Comando Vermelho (CV), facção criada no Rio de Janeiro, domina parte das favelas. Seus rivais no Estado são os membros da Guardiões do Estado (GDE), que é próxima a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). PCC e CV estão em guerra em todo o país.Victor MoriyamaO CV, por sua vez, é aliado no Estado à Família do Norte (FDN), criada no Amazonas e que já é considerada a terceira maior facção do país. Um homem apontado pela polícia como o segundo na escala de comando da FDN no país foi assassinado na madrugada do último dia 22 de janeiro na Praia do Futuro, uma região nobre de Fortaleza, quando saia de uma festa. Petrus William Brandão Freire, de 29 anos, foi cercado por oito homens que dispararam diversas vezes contra ele no calçadão.Victor MoriyamaNo ano passado, as facções que atuam no Estado se dividiram em dois lados e entraram em guerra pela disputa pelo tráfico de drogas. De um, GDE e PCC. De outro, CV e FDN. A consequência, além das elevações dos homicídios, foi o terror entre os moradores. A foto mostra recados que foram pichados em muros da comunidade do Barroso, exigindo a saída dos moradores de suas casas pelo tráfico.APSPara evitar que os moradores tivessem que deixar suas casas, uma base permanente da Polícia Militar foi instalada no local. As pichações foram apagadas e substituídas pelo "190" da PM.Em outros locais, entretanto, moradores não tiveram a mesma sorte. Na rua Cantinho Verde, no conjunto Palmeiras, várias famílias abandonaram suas casas, após serem expulsas pela facção local.Victor MoriyamaAs expulsões acontecem por diversos motivos: o envolvimento de alguém da família com a facção rival, uma dívida de drogas com os traficantes locais, o interesse dos traficantes por um imóvel estratégico para o comércio de drogas ou a desconfiança de que o morador é informante da polícia ou de outra facção.Victor MoriyamaQuando notificados pelo tráfico, os moradores saem de suas casas abandonando móveis e objetos pessoais. Em alguns casos, prestam queixa na polícia e, com a ajuda policial, conseguem voltar para retirar suas coisas. Mas não retornam mais para a moradia, com medo de represálias.Victor MoriyamaNamorada de um policial, Joana (nome fictício), 23 anos, foi expulsa da comunidade onde morava porque traficantes acreditavam que sua mãe havia passado informações para a polícia que teriam ajudado a desmantelar um ringue de brigas de galo que pertencia aos traficantes. Em uma madrugada, ela dormia em seu quarto com o irmão quando um homem atirou três vezes dentro da casa e mandou que eles fossem embora. Eles mudaram no dia seguinte.A guerra entre as facções também impacta a vida de estudantes. Em uma escola visitada pelo EL PAÍS, professores contam que alunos pediram transferência no início do ano letivo porque eram moradores de uma comunidade dominada pela facção rival a da área onde fica a unidade escolar. Adolescentes que cumprem medidas socioeducativas também estão sendo prejudicados. Alguns não conseguem chegar ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social onde deveriam cumpri-la, porque ele está localizado em uma área que pertence a uma facção rival a do seu bairro.Victor MoriyamaA violência entre os grupos fez explodir o número de homicídios no Ceará. Nos dois primeiros meses deste ano, foram 844, um número 36% maior do que o mesmo período do ano passado. Em 2017, 5.133 pessoas perderam a vida assassinadas (14 ao dia), um número já 50% maior que o de 2016. Neste ano, as estatísticas foram impulsionadas por quatro chacinas. A primeira delas, em 27 de janeiro, aconteceu no "Forró do Gago", em Cajazeiras, bairro dominado pelo Comando Vermelho. Morreram 14 pessoas, a maioria delas sem passagem pela polícia ou suspeita de envolvimento com o tráfico. O local ganhou uma mensagem em inglês em seu portão, que significa: "Fortaleza pede paz".Victor MoriyamaA última chacina ocorreu em 9 de março, na praça da Gentilândia, onde se reúnem jovens estudantes. Sete pessoas foram mortas e 11, feridas. Segundo a polícia, ela teria sido motivada por vingança contra a apreensão de munições e armas de um traficante.Victor MoriyamaUm atos, na última quinta-feira, relembrou as vítimas da chacina.Victor MoriyamaA Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará afirma que mapeou as áreas mais problemáticas de Fortaleza, que são nove, e que atua com policiamento e mais ações sociais. Novos policiais militares também foram contratados e estão sendo treinados.Victor Moriyama