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Eleições na Catalunha
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Mudança de ciclo

Grande participação e o fracasso prévio do unilateralismo marcam as eleições na Catalunha

Fila para votar em uma escola em Barcelona.
Fila para votar em uma escola em Barcelona.Marta Pérez (EFE)
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O aumento da participação – e a calma registrada – nas eleições autônomas realizadas na quinta-feira na Catalunha demonstram taxativamente a legitimidade das mesmas.

E ilustra até que ponto foi temerária a atitude receosa dos líderes separatistas que semearam suspeitas sobre a limpeza do procedimento (e, portanto, contra a democracia espanhola), uma atitude antissistema democrático que nem mesmo seus fraternais amigos da ultradireita flamenca e lombarda se permitiram.

O fato de terem ido votar muitas pessoas que antes não o faziam em uma convocação autônoma (mas sim nas legislativas gerais) confirmaria a hipótese de que a mudança de ciclo foi completa: não só por muitos mais terem se interessado pela gestão pública dos problemas da Catalunha; mas também porque o fizeram (como mostravam as pesquisas) com intenção crítica em relação ao recente balanço da Generalitat comandada pelo separatismo.

A sociedade catalã merece um fôlego para conseguir insuflar normalidade cívica, econômica e institucional e restaurar o prestígio e a imagem da Catalunha diante dos outros concidadãos espanhóis. Até o último voto não será possível certificar-se do nível alcançado por essa legítima pretensão.

Mas o que já é óbvio é que, em qualquer um dos cenários possíveis (tanto diretamente eleitorais, como indiretamente parlamentares), o projeto separatista hegemônico dos últimos cinco anos não adquirirá caminho livre para retomar o unilateralismo. E isso ocorre não por observadores independentes afirmarem, mas pelos dados surgidos no período que desembocou nessas eleições.

Efetivamente, nenhum indício digno de crédito permite afirmar que as pessoas que votaram queriam legitimar majoritariamente o projeto de ruptura, como não o legitimaram nas eleições de 2015, que se pretendiam plebiscitárias a favor da separação. E que foram um plebiscito ao contrário, por não alcançarem sequer o mínimo de 48% dos votos.

Os dados de participação permitem, em uma análise geograficamente desagregada, afirmar na verdade que essa (ampla) minoria pode ter diminuído significativamente. Tanto pelos graves erros cometidos pelos separatistas como pelo despertar de uma parte da sociedade catalã, mobilizada de maneira clara e irreversível em defesa de seus direitos e dignidade.

A desfiada (em três listas) alternativa independentista também não possuía candidatos confiáveis, programas de governo claros e coerentes entre si e, principalmente, a unidade estratégica necessária para funcionar homogênea e previsivelmente. Mais uma vez, a CUP, é bom lembrar, uma das forças antissistema mais refratárias aos procedimentos da Europa democrática, terá seu papel relevante nesse bloco cada vez menos homogêneo.

Em contraste com ela, algumas listas do lado constitucionalista (sem mostrar especial sintonia partidária), demonstraram força moral, consistência programática e propósito antisectário. É lógico que tenham causado muita expectativa.

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