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Quilonova, a descoberta do ano

A revista ‘Science’ destaca a primeira observação de luz e ondas gravitacionais de uma fusão de estrelas de nêutrons

Nuño Domínguez
As antenas do telescópio ALMA, no Chile, um dos que foram usados para captar a fusão das duas estrelas de nêutrons.
As antenas do telescópio ALMA, no Chile, um dos que foram usados para captar a fusão das duas estrelas de nêutrons.ESO
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Há 130 milhões de anos, quando os dinossauros ainda dominavam a Terra, duas estrelas de nêutrons colidiram na constelação de Hidra. Eram tão densas que uma colher de chá de sua substância pesava um bilhão de toneladas. O choque produziu uma explosão de ondas gravitacionais que deformaram em sua passagem o espaço-tempo, o material de que é feito o universo. Em 17 de agosto, o interferômetro laser do observatório LIGO em Hanford (EUA), um dos instrumentos científicos de maior precisão do planeta, captou as ondas gravitacionais produzidas por aquele cataclismo, muito debilitadas após sua longa viagem intergaláctica. Segundos depois, telescópios espaciais observaram uma poderosa explosão de luz bem na direção de Hidra. Era a primeira vez que se observava uma fusão de estrelas de nêutrons, e isso foi feito usando tanto a luz como as ondas previstas há mais de um século por Albert Einstein.

Segundo a revista científica Science, esta é a descoberta mais importante do ano. Mais de 3.600 cientistas de quase 1.000 instituições de todo o mundo estudaram o evento, que “provavelmente é o mais observado da história”, ressalta a publicação. A descoberta significa a consagração das ondas gravitacionais como um novo elemento que os humanos ganharam para explorar o universo. Se até agora a astronomia se baseava na observação da luz em todas suas variantes, agora também pode-se escutar e estudar objetos totalmente invisíveis por meio da análise de suas ondas gravitacionais.

A equipe do LIGO já havia observado quatro sinais de ondas gravitacionais produzidas pela fusão de buracos negros. A primeira foi em setembro de 2015 e as demais, em 2016. Neste ano, os pais científicos do experimento, Kip Thorne, Barry Barish e Rainer Weiss, ganharam o prêmio Nobel de Física por contribuir com uma descoberta “que sacudiu o mundo”, nas palavras da Real Academia de Ciências Sueca.

A mobilização científica para observar a colisão na galáxia NGC 4993 permitiu documentar com detalhes um evento que só se repete em galáxias similares à Via Láctea a cada 10.000 anos, segundo a astrônoma Alicia Sintes, pesquisadora da Universidade das Ilhas Baleares e líder do único grupo espanhol que colabora com o LIGO, o observatório que, juntamente com o europeu Virgo, captou as ondas gravitacionais produzidas pela fusão.

Em 2010, uma colaboração internacional codirigida por Gabriel Martínez-Pinedo, do Centro de Pesquisa de Íons Pesados e da Universidade Técnica de Darmstadt (Alemanha), e por Brian Metzger, da Universidade de Columbia (EUA), determinou os elementos produzidos na colisão e calculou a energia que liberariam. Metzger usou esses dados para reconstruir a “curva de luz” que a fusão produziria. Os cálculos indicavam que a colisão brilharia como 1.000 novas, por isso a batizaram de quilonova. Os pesquisadores previram o tipo de clarão causado pela fusão das duas estrelas e, sete anos depois, os telescópios observaram uma curva de luz muito parecida com a prevista. O físico espanhol estima que o choque dos dois astros produziu cerca de 100 vezes a massa da Terra em ouro. O mais provável é que os dois astros tenham se transformado em um buraco negro.

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