Como fazer edifícios que resistam a terremotos
Arquiteto explica como devem ser as construções para evitar mortes em caso de tremor
Os sismólogos advertem que os terremotos não podem ser evitados. “Atualmente, nem sequer podem ser previstos”, afirmou ao EL PAÍS, em agosto de 2016, Amadeo Benavent, catedrático de Estruturas na Escola Técnica Superior de Engenheiros Industriais da Universidade Politécnica de Madri. O que se pode fazer, explica o especialista, é preparar as construções para que os danos causados em caso de tremor sejam controlados, evitando assim a ocorrência de mortes. “Para isso, é muito importante projetar as construções novas e recondicionar as existentes de acordo com as normativas mais atuais e avançadas”, afirmou Benavent. Na Europa, a normativa vigente é o Eurocódigo 8, considerado muito completo, embora alguns países, como a Espanha, ainda não o adotem.
Os edifícios convencionais estão preparados para resistir ao seu próprio peso, aquele produzido pela gravidade. Mas quando ocorre um terremoto, o tremor faz o edifício se mexer na direção horizontal. Com esse movimento, os vários andares podem desmoronar, um sobre os outros, como ocorreu no terremoto desta terça-feira no México. Mas outra coisa que pode acontecer é que a estrutura se mantenha, ocorrendo apenas a queda de elementos não estruturais, como as paredes. “A queda de muros é responsável por um número elevado de mortes”, diz o arquiteto.
O Eurocódigo 8 tem como objetivo fundamental proteger as vidas humanas. Para isso, estabelece regras para projetar os edifícios de forma a resistirem aos sismos em suas áreas. A normativa abrange a construção de novos edifícios e a adequação sísmica dos que já existem.
“Tanto o projeto sísmico de estruturas novas como o recondicionamento das já existentes persegue o mesmo objetivo: obter uma adequada combinação de resistência lateral e ductilidade do edifício frente a força horizontais”, explicou Benavent. A resistência se consegue fazendo, por exemplo, vigas e pilares maiores e que tenham mais aço no interior. “Aumentar unicamente a resistência é economicamente inviável, por isso se recorre também à ductilidade”, contou Benavent.
A ductilidade é a capacidade dos materiais e estruturas de se deformarem plasticamente sem chegarem a quebrar. As deformações plásticas causam danos, e o problema é que, se as estruturas forem dúcteis demais, os danos em caso de terremotos moderados podem ser excessivos. Portanto, “o objetivo é obter a apropriada combinação entre resistência e ductilidade, e é necessário procurar o equilíbrio entre ambas as propriedades”, segundo Benavent.
“Quando projetamos edifícios para que resistam a terremotos, os projetamos de uma forma mais permissiva frente a outro tipo de cargas, como por exemplo as gravitacionais. Permissiva no sentido de que aceitamos que a estrutura sofra danos, mas não que desmorone”, explicou. Estes danos podem ser rachaduras no concreto ou deformações plásticas no aço, mas as estruturas não viriam abaixo. “O edifício teria que ser reparado depois de um terremoto severo, mas permitiria uma desocupação que salvaria vidas, que é do que se trata”, acrescentou.
Benavent explicou que, para aumentar a resistência antissísmica dos edifícios, podem ser empregadas várias técnicas, como acrescentar muros estruturais de concreto armado, barras diagonais, muretas laterais nos pilares ou reforçar os pilares com presilhas de aço. Algo muito importante é a conexão das vigas com os pilares, para que não se separem com o movimento, o que causaria o desabamento do andar. Tudo isto é muito mais simples em edifícios novos. Para os antigos, é preciso fazer uma análise detalhada da resistência sísmica de suas estruturas. “Não é o mesmo reabilitar um edifício dos anos 1960, feito com concreto, e um de 150 anos, de pedra ou tijolo”, explicou. Depois da análise, deve-se optar pela solução mais adequada, e as possibilidades são muito variadas. “Há muitas técnicas para condicionar sismicamente um edifício”, afirmou.
Um fator a levar em conta na hora de adequar as construções de uma cidade ao risco de terremotos é o custo econômico. No caso dos edifícios novos, o preço pode aumentar cerca de 10%, mas depende muito do risco sísmico da zona onde será construído. O problema vem com a adequação dos edifícios antigos. “Às vezes fica mais rentável derrubá-los e voltar a construí-los”, admitiu Benavent. Mas isto nem sempre é possível, porque alguns podem ser edifícios históricos, que não podem ser demolidos nem modificados. Como solução para esses casos, às vezes se usa uma técnica chamada isolamento de base. Consiste basicamente em apoiar o edifício sobre elementos de borracha, como se fez com a Prefeitura de Los Angeles e com a Tumba de Ciro em Pasárgada (Irã). “Na verdade, isso se fez de forma excepcional, porque é muito caro”, conclui Benavent.
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