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EUA aplicam edição genética a embriões humanos pela primeira vez

Pesquisadores conseguem eliminar defeitos congênitos graças à técnica CRISPR

Nuño Domínguez
O pesquisador Shoukhrat Mitalipov.
O pesquisador Shoukhrat Mitalipov.Luis Sevillano

Cientistas dos Estados Unidos usaram com sucesso a técnica de edição genética CRISPR em embriões humanos, um marco que tornaria mais próxima a possibilidade de corrigir defeitos congênitos antes do nascimento.

A pesquisa foi dirigida por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon (noroeste dos EUA). Os resultados detalhados do trabalho ainda não foram publicados, mas se espera que isso aconteça “em breve”, segundo confirmou um porta-voz da instituição acadêmica à Reuters.

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A equipe de Mitalipov seria a primeira a ter conseguido modificar um número elevado de embriões humanos sem introduzir falhas no genoma que os tornassem inviáveis, disse a publicação norte-americana Technology Review, que antecipou a notícia.

A edição genética poderia ser usada para criar humanos com capacidades superiores

O CRISPR permite eliminar do genoma determinadas sequências de DNA indesejadas, como genes que predispõem a algumas doenças. As três tentativas anteriores de usar essa técnica para reparar embriões humanos haviam sido realizadas na China. O CRISPR usa a proteína nuclease para cortar de forma seletiva o fragmento de DNA desejado. Posteriormente, as células iniciam seu processo de reparação natural e voltam a grudar os dois extremos da sequência genética. Em todas as ocasiões anteriores, comprovou-se que o processo dá lugar a mosaicismo, ou seja, a introdução de variações não desejadas e potencialmente perigosas no genoma.

A equipe do Mitalipov teria conseguido superar essas limitações gerando dezenas de embriões humanos viáveis, embora ainda se desconheçam os detalhes de como isso foi feito. Todos os embriões empregados no estudo foram destruídos após poucos dias, pois o objetivo era apenas demonstrar que a técnica pode funcionar de forma satisfatória, segundo a publicação norte-americana.

A forma habitual de comunicar essas descobertas é publicando-as numa revista científica com revisão por pares, de modo que, por enquanto, o novo avanço deve ser recebido “com muitíssima cautela”, adverte Lluis Montoliu, pesquisador do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha e especialista na aplicação do CRISPR em ratos. “Antes de aplicá-la em humanos, é preciso reduzir de forma drástica” as falhas que essa técnica introduz no genoma, recorda ele. “O mais interessante seria saber como eles conseguiram evitar o mosaicismo, mas não sabemos, então é preciso deixar de quarentena até que em poucos dia seja publicado o estudo completo”, ressaltou o pesquisador.

O autor da pesquisa foi o primeiro a conseguir, em 2013, a clonagem humana para obter células-tronco

Mitalipov é um cientista respeitado que já havia realizado outros estudos pioneiros em reprodução. Sua equipe clonou primatas com sucesso para corrigir doenças mitocondriais herdadas de suas mães. Em 2013, foi o primeiro a conseguir a clonagem humana para a obtenção de células-tronco.

EUA e China competem por desenvolver as primeiras aplicações terapêuticas do CRISPR. Está em andamento nos EUA um teste clínico em humanos para empregar a técnica contra três tipos de câncer, e outros semelhantes estão prestes a serem iniciados. A China está fazendo experimentos similares para tratar casos muito agressivos de câncer de pulmão.

A aplicação desta técnica em embriões humanos é mais polêmica, pois poderia ser usada para criar humanos com capacidades superiores. Ao modificar a chamada linha germinal – que compreende espermatozoides e óvulos –, as mudanças introduzidas com o CRISPR num indivíduo se transmitiriam de geração em geração. Em fevereiro deste ano, um painel internacional de especialistas reunido pela Academia Nacional de Ciências dos EUA concluiu que o uso do CRISPR em embriões humanos é aceitável, mas não sem antes realizar muito mais pesquisas sobre os riscos envolvidos. A edição do genoma deveria ser aplicada exclusivamente como último recurso, acrescentavam os responsáveis pelo trabalho.

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