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Daniel Alves, um excêntrico na sociedade mais sensata

A audácia do brasileiro, definido como “louco” por Chiellini, se encaixa no motor da Juventus

Diego Torres
Daniel Alves marcou um golaço contra o Monaco.
Daniel Alves marcou um golaço contra o Monaco.Luca Bruno (AP)

“Dani é um louco”, disse Giorgio Chiellini, um dia antes de receber o Monaco em Turim, pela semifinal da Champions League.

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O zagueiro da Juventus não encontrou melhor adjetivo para descrever Daniel Alves, o companheiro que desde o verão passado altera a paisagem rigorosa de sua defesa e que na ida da semifinal arrebentou o Monaco com duas jogadas magistrais.

“Está sempre sorrindo!”, argumentou Chiellini, como quem atesta um fato insólito.

O termo gestão, tão na moda ultimamente, pode ter sido inventado para explicar o modo como se organiza a Juventus desde a sua fundação centenária. No que diz respeito a seus grandes adversários da Europa, o clube dos Agnelli nunca se caracterizou por um sentido estético nem emocional do futebol. Destacou-se, porém, por ser a mais eficaz das estruturas. A Juve não trocou. É uma sociedade sóbria e funcional cuja equipe replica com precisão as diretrizes simples que emanam de uma filosofia industrial. A posse de bola jamais foi uma prioridade. As partidas feios se tornaram, naturalmente, marca da casa. Uma marca que Alves criticou em 22 de novembro em Sevilha, transgredindo a uniformidade granítica do discurso oficial.

“Precisamos controlar mais a bola; é errado fazer tantos passes longos”, protestou o lateral.

É preciso ser louco para questionar um modelo de sucesso ancestral. É preciso ser um baiano acostumado ao estilo do Barça durante oito temporadas. O homem sentiu o contraste turinês como um choque de civilizações. Sobretudo naquele 22 de novembro. Naquela noite, no Sánchez Pizjuán, a Juve entrou em campo com um esquema e uns executantes dignos de sua história: 4-5-1, com quatro zagueiros, dois laterais longos como falsos pontas, Khedira no médio centro e Mandzukic na ponta. Em meia hora —até a expulsão de Vázquez— o Sevilla os varreu. Com um a mais, entraram todos em sua área. Só se impuseram (1 x 3) quando o árbitro, o inglês Clattemburg, apitou um rigoroso pênalti a favor. Para Alves, o episódio foi quase vergonhoso. Para seus companheiros, outro dia na fábrica.

A contratação de Alves pela Juventus é um paradoxo e um exemplo do acerto executivo do clube. A priori nada fazia supor que um jogador brasileiro de 33 anos, famoso por sua desatenção aos deveres táticos, pudesse entrar para a equipe mais tática da Europa. A realidade, entretanto, indica que o sagaz chefe executivo, Beppe Marotta, teve razão no dia em que justificou a contratação: “Alves fará a diferença”.

O desajuste defensivo

A Juventus não pagou nem um euro pelo passe porque Alves ficou livre. Mas a oportunidade não foi só econômica. No funcionamento tantas vezes rígido da equipe, a introdução de um elemento criativo se tornou imprescindível. O treinador, Massimiliano Allegri, que começou situando-o como lateral em um 4-5-1, acabou mudando o esquema para 4-2-3-1 e a 3-4-2-1 em função do que Alves trazia. O brasileiro foi cada vez mais influente. “Alves nos deu experiência internacional”, admitiu o técnico.

A compatibilidade de duas visões tão arraigadas, eficazes e antagônicas, continua sendo um mistério. Não se sabe se Alves assimilou as ideias de Allegri ou se Allegri assimilou as ideias de Alves. O processo deve ter sido cansativo. Allegri o alertou depois da estreia do brasileiro na Série A, contra a Fiorentina: “Ele precisa entender que no primeiro tempo cometeu descuidos que custam caro no campeonato italiano. No Barcelona costumam ganhar por 5 x 0 ou 3 x 0 e isso faz que um desajuste defensivo não seja tão importante. Mas na série A muitas partidas acabam em 1 x 0”.

A fratura parcial do perônio que sofreu em dezembro podia ter acabado com sua carreira. Não foi assim. Depois de um mês de baixa, se recuperou. Talvez resignado, em Monaco, Allegri jogou com três centrais e empregou Alves como médio. O resultado desconcertou Monaco.

“Para nossa cultura parece meio louco”, concluiu Chiellini; “no início parecia um corpo estranho no time. Mas tecnicamente está num nível superior”.

Dani Alves é a prova irrefutável. Os dirigentes da Juve acertam até quando decidem contra a sua natureza.

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