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A cela americana de El Chapo

Considerado o maior traficante de drogas do mundo, Joaquín Guzmán passa seus dias sem notícias do mundo exterior, recluso em um presídio famoso por sua rigidez

Amanda Mars
Joaquín Guzmán Loera, El Chapo, preso em janeiro de 2016.
Joaquín Guzmán Loera, El Chapo, preso em janeiro de 2016.Anadolu Agency (Getty Images)

Depois de duas fugas cinematográficas da prisão, ele foi extraditado pelo México no dia 19 de janeiro, e foi para os Estados Unidos responder a 17 processos penais que podem condená-lo à prisão perpétua. Acabou parando no Metropolitan Correctional Center de Nova York, um monstro de paredes marrons e janelas com grades, aberto no anos 1970 no sul de Manhattan, perto da ponte do Brooklyn, sempre cheia de turistas e corredores, com suas selfies e souvenirs. Neste mesmo presídio estiveram o golpista Bernie Madoff; o líder dos Gambino, John Gotti, e o cérebro do primeiro atentado às Torres Gêmeas, em 1993, Ramzi Ahmed Yousef. Agora, ele é a casa também do primeiro homem a ser declarado "inimigo público número 1" pela cidade de Chicago desde Al Capone: El Chapo. A casa de detenção tem cerca de 800 homens e mulheres reclusos, mas os mais perigosos ficam na Security Housing Unit (SHU), no décimo andar. Dizem que, nesta parte da prisão, o número de internos não chega a uma dúzia, mas os dados são confidenciais. A Anistia Internacional denunciou a penitenciária em 2014. "A falta de acesso à luz natural e ao ar fresco são uma clara infração aos padrões internacionais de direitos humano", sustenta a organização em um relatório. Um detento que esteve em ambas disse ao The New York Times que a prisão é "pior que Guantánamo"; recentemente, ela ganhou o apelido de "Guantánamo de Nova York". O tempo parou para El Chapo no dia em que o colocaram em um avião rumo a Manhattan. Enquanto ele espera o julgamento, não pode receber visitas nem fazer ligações. Também não pode saber nada sobre o mundo exterior, nem enviar qualquer tipo de mensagem verbal ou escrita. A ideia é impedí-lo de fazer coisas como subornar a um guarda ou enviar mensagens cifradas para o cartel. Ele também não tem contato com qualquer objeto que possa utilizar para ferir-se ou para tentar se matar. Só pode ver seus advogados separado deles por uma parede de vidro. Ele não tem sobre sua esposa, Emma Coronel, que também não pode saber nenhuma notícia sobre ele; nem sabe que, depois de sua extradição, teve início uma guerra interna no cartel de Sinaloa, e que as partes envolvidas ainda lutam por territórios enquanto as balas não param; também não sabe que Kate del Castillo estreará uma nova série. Mas ele tem acesso a tudo relacionado a seu caso e ao que consta nos documentos judiciais: sabe que um policial de Juárez contará sobre os subornos para libertar os membros do cartel da cadeia; ou que outra testemunha falará sobre uma casa supostamente destinada a execuções durante a guerra de Vicente Carrillo (as paredes estavam cobertas com plástico e havia um ralo no chão para escoar o sangue); ou ainda que foram encontrados os AK-47, ou que haverá uma fila de líderes de cartéis colombianos querendo prestar depoimento.

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El Chapo é defendido por uma associação de advogados federais do Brooklyn, liderada por Michelle Gelernt e Michael Schneider. O trabalho do escritório é representar pessoas sem recursos financeiros; e, embora Guzmán seja imensamente rico, ele não pode falar com sua família para procurar um escritório privado, nem para falar de dinheiro, e os advogados também não podem passar informações aos amigos e à família. Os Estados Unidos têm juristas especializados em narcotraficantes, mas é um caso difícil de ganhar e de receber honorários, devido às previsíveis restrições às finanças de El Chapo. Os advogados se revezam para visitá-lo quase todos os dias, incluindo fins de semana. Não há tantas novidades no caso para comentar, mas assim ele pelo menos sai da cela em algum momento além da hora diária de exercício; o contato também permite aos advogados observarem seu estado, para que ele não fique louco. Nenhum dos pedidos para suavizar suas condições foi aceito. A audiência mais recente foi no início de fevereiro. A próxima está prevista para 5 de maio, com um novo juiz, porque o que cuidava do caso até agora, Robert L. Capers, deixou o cargo na renovação imposta pelo Governo de Trump. A última vez que Guzmán foi encontrado e detido foi em janeiro de 2016, vítima de seu ego, porque quis produzir um filme sobre sua vida e acabou chamando muito a atenção. Agora, além de um filme de Ridley Scott, várias produtoras de Hollywood se interessaram pelos direitos de um livro. Porque El Chapo pode virar um livro. Mas o que foi escrito até agora não tem um final que agrade muito a ele, e nem mesmo faz dele o protagonista. O título, em tradução livre, é: Caçar El Chapo - a fascinante história do homem da lei que capturou o traficante mais procurado do mundo.

Uma testemunha falará no julgamento sobre uma casa supostamente destinada a execuções (as paredes estavam cobertas de plástico e havia um ralo no chão para escoar o sangue), de acordo com a polícia, e vários traficantes colombianos prestarão depoimento

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