_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Impõe-se o Estado de direito

Sentença do caso ‘Nóos’ reforça a independência da Justiça na Espanha

A infanta Cristina, após consultar os autos.
A infanta Cristina, após consultar os autos.J. REINA (AFP)

O Tribunal Provincial de Palma emitiu sentença sobre o escândalo conhecido na Espanha como caso Nóos, após oito meses de concluído o julgamento e anos de investigações e procedimentos. Frente aos que diziam que ninguém se atreveria a investigar e julgar um membro da Família Real, a Justiça agiu de maneira eficaz, sentando no banco dos réus quem considerou oportuno e decidindo com independência. Ficou demonstrado que na Espanha funciona o Estado de Direito e que ninguém está acima da lei.

Mais informações
Justiça condena cunhado do Rei da Espanha por tráfico de influência e delitos fiscais
Como os espanhóis fazem para consumir maconha legalmente
As festas latinas de 15 anos arrasam na Espanha

Os 17 acusados, entre eles a irmã do rei Felipe VI, Cristina de Bourbon, e seu marido, Iñaki Urdangarin,receberam o mesmo tratamento processual, tanto durante o período inicial como na etapa final do julgamento. Essa decisão judicial certifica o fim da sensação de impunidade que acompanhava, na Espanha, os assuntos envolvendo as altas personalidades. Deve-se ressaltar que foi julgado um membro da Família Real, como nunca havia ocorrido em outras cortes europeias.

Cabia esperar uma decisão justa e equilibrada – e assim foi. Respeitando todas as opiniões, é razoável que o Tribunal de Palma tenha optado por seguir o pedido do promotor para absolver a Infanta, tendo em vista os relatórios do advogado do Estado e do Ministério da Fazenda. As juízas consideraram que ela não cometeu crime, embora tenha de pagar uma multa de 265.000 euros (873.000 reais) pela responsabilidade civil pelo lucro que o seu marido obteve com o escândalo. Fica evidente também o vergonhoso espetáculo protagonizado pelo sindicato Mãos Limpas, que pedia oito anos de prisão para Cristina de Bourbon enquanto agia de forma supostamente criminosa junto a outra organização obscura, a Ausbanc, tentando chantagear as pessoas próximas da Infanta para retirar a sua acusação.

Quanto ao conteúdo restante da sentença, o Tribunal de Palma definiu penas muito inferiores às pedidas pela Promotoria. Absolveu 11 dos 17 acusados e rejeitou alguns casos, como os ocorridos em Madri e Valência. A maior condenação recai sobre Diego Torres, sócio de Urdangarin. A segunda mais alta é a do marido da Infanta, ainda que muito inferior (seis anos e três meses de prisão) aos 19 anos pedidos pelo promotor. O fato de que o genro do rei emérito, Juan Carlos, tenha se conduzido de maneira errada desde o princípio também ficou patente: ele abusou da sua condição de privilégio incorrendo, como estabelece a sentença, em crimes tão graves como prevaricação, apropriação indébita, fraude, tráfico de influências e dois crimes fiscais contra a Fazenda. Apesar disso, esforçou-se em negar qualquer irregularidade, obrigando o rei Juan Carlos a separá-lo, junto a Cristina, de qualquer atividade oficial em dezembro de 2011.

A sentença confirma que foi errônea a estratégia adotada pela infanta desde o início da investigação contra o seu marido. Se houvesse prescindido de seus direitos dinásticos, como lhe pediu o Rei repetidas vezes, teria sido melhor para ela e para a imagem da Monarquia. Felizmente, a distância mantida pelo rei Felipe VI foi louvável e devolve ao cargo de chefe de Estado toda a dignidade que se espera de um órgão constitucional que deve se caracterizar pela exemplaridade.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_