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No trabalho, o lado B da maternidade no Brasil

Ser mãe e profissional ainda é desafio que não encontra respostas nas empresas e nem no poder público

Carla Jiménez
Painel do evento 'Brasileiras', nesta sexta em São Paulo.
Painel do evento 'Brasileiras', nesta sexta em São Paulo.

No Brasil, há 60 milhões de mulheres mães e uma boa parte delas deixa de trabalhar porque não têm com quem deixar os seus filhos. A falta de uma política de apoio à maternidade, seja nas empresas privadas, como a falta de creches oferecidas pelo Governo, tem reflexos na permanência das mulheres em seus empregos. Uma pesquisa feita pela Instituto Locomotiva, que ouviu 1.882 pessoas, mostrou que 17% das entrevistadas que não estavam trabalhando apontavam como principal motivo a falta de estrutura para deixar os filhos. Entre os homens, contudo, esse percentual é zero.

Ao mesmo tempo, as mulheres recém mães precisam lidar com algumas expectativas do mundo masculino que aumenta suas jornadas. Para a maioria dos homens, a trabalho doméstico é feminino, um dado que se reflete na cultura machista brasileira. “Ainda vivemos uma crença de que maternidade é uma coisa gloriosa, e que mulher é abençoada por ser mãe. Mas na verdade, ser mãe é um problema para a esmagadora parte das mulheres, principalmente quando ela tenta conciliar trabalho e maternidade”, avalia Anne Rammi, voluntária da Artemis, que participou do painel Maternidade e Trabalho no evento Brasileiras: como elas estão mudando o rumo do nosso país, realizado pelo EL PAÍS Brasil e a Instituto Locomotiva.

A pesquisa da Locomotiva mostrou que um terço das mulheres (33%) que pretende abrir seu próprio negócio o faz para ter mais flexibilidade de horário. Outras 27% veem no negócio próprio a chance de ganhar mais dinheiro. Fazer o que gosta foi a opção marcada por 26% delas, não ter chefe era o objetivo de 9%.

A mesma pergunta feita aos homens que pretendem empreender teve como resposta principal a vontade de ganhar mais dinheiro (44%) e somente 21% responderam que poderia ser uma chance de ter horário mais flexível. “Empreendedorismo materno é falta de escola, porque a mãe é colocada numa posição em que ela tem que escolher entre o filho e ficar em casa sendo sustentada. Ou seja, entre o filho, e a dignidade, o trabalho, o dinheiro e a carreira”, disse Rammi, enquanto amamentava sua filha no palco do evento.

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Ao seu lado, a deputada Manuela D’ávila (PCdoB-RS) também equilibrava a filha dentro de um canguru. “Muitas mulheres são mães e na prática são expulsas do mercado de trabalho por terem se tornado mães”, diz D’ávila, que se viu no centro de uma polêmica quando amamentou a filha no plenário do Congresso. A amamentação em público ainda enfrenta um tabu no Brasil, onde 20 milhões de homens se dizem incomodados quando uma mãe decide atender ao filho que deseja mamar onde estiver. “Sou branca, estou no topo da pirâmide e sou política, quem sou eu para falar sobre maternidade. Porém, se eu, deputada, amamento em cima da privada no Congresso, onde amamenta a caixa do supermercado. Se eu, deputada, escuto que amamento para me exibir, qual a realidade de uma mulher negra no ponto de ônibus”, questionou.

A deputada defende a licença parental (tanto para o pai como para a mãe), compartilhada por um ano, como nos países escandinavos. “O problema do Brasil é que a política pública é feita por homens”, conclui. A baixa representatividade feminina no Congresso explica uma parte desse desentendimento com o mundo feminino. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, só 10% dos parlamentares são  mulheres.

Ana Laura Castro, sócia fundadora da Rede Maternativa, que participou do painel, acredita que as empresas têm um papel decisivo no apoio às mulheres que trabalham e que se tornam mães. “Precisamos falar com as empresas para olhar para as mães, em como elas fazem o receptivo dessas mães que voltam ao trabalho. Saber como a mulher esta em sua rotina, se ela dorme, se consegue amamentar, se precise fazer home office”, diz Castro. O evento Brasileiras - Como elas estão mudando o rumo do país, aconteceu nesta sexta, em São Paulo, e contou com patrocínio do Banco Santander, Camil e Boticário, e apoio da ONU Mulheres.

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