A pólvora de Neymar e Rafinha contra a couraça de Casemiro e Marcelo
Clássico Barcelona x Real Madrid reúne toda a riqueza do futebol brasileiro
A tristeza marcará o clássico espanhol do próximo sábado, quando se enfrentarão Barcelona e Real Madrid, as duas equipes com os dois melhores jogadores do mundo, Messi e Cristiano Ronaldo, mas também com quatro brasileiros que se sentirão muito mais próximos da tragédia da Chapecoense, quatro brasileiros que reúnem boa parte da riqueza atual do futebol do Brasil. Pelo lado do Barcelona, a genialidade de Neymar e a fantasia de Rafinha; no Madrid, a solidez de Casemiro e a espontaneidade de Marcelo. Dois atacantes contra dois defesas, pólvora contra couraça.
Neymar Junior (São Paulo, 24 anos) é um mundo à parte, um jogador à margem do que acontece a seu redor, sejam ameaças de prisão ou ameaças de agressão. Não se sabe se é diabo ou se é anjo, mas em qualquer de seus dois disfarces provoca o terror na defesa adversária. Uma presença ameaçadora, um drible, uma corrida, um toque de bola, serão suficientes para que a equipe rival fique desarmada. Talvez não seja ele a marcar, mas é quase certo que terá dado o passe do gol de Messi. Não há na Espanha (22 de 47 tentativas) nem na Europa (53 de 93) melhor driblador. Talvez não tenha marcado muitos gols até o momento (4), mas não se enganem com sua aparente fragilidade nem com o penteado desta noite: um segundo lhe basta para criar o caos.
Rafinha (São Paulo, 23 anos) é o recurso de Luis Enrique quando as coisas vão mal. Com o paulista em campo tudo pode acontecer. O técnico confiou nele no Barcelona B e depois no Celta. Agora a disputa é maior, mas, como seu irmão Thiago Alcântara, tem a capacidade de mudar o curso de uma partida perdida. É desses jogadores rápidos que parecem lentos, com uma esquerda genial que este ano parece mais valente do que nunca. Tem cinco gols, o número mais alto de sua carreira, pois causa danos toda vez que se aproxima da área rival.
Não é fácil frear as pressões do Barcelona, sobretudo se a equipe adversária não se entoca em sua área, como vai ser o caso do Real Madrid. Nestes clássicos, onde quer que a partida seja jogada, nem a equipe do Barcelona nem a do Real se encolhe. As emoções pesam mais que ardósias, o coração mais que a cabeça, e, nesse cenário, o Real Madrid se descontrola, para o bem e para o mal. Tem sido assim historicamente. Não há técnico que consiga que seus jogadores não se desgovernem. O Barcelona tem Busquets na função de controller. Zidane precisa de Casemiro para essa tarefa, embora esteja meio manco. O ex do São Paulo chegou ao Real Madrid com 20 anos, mas seu futebol mais que brasileiro parecia das Ilhas Faroe. Impetuoso, emocionalmente descontrolado, Casemiro (São Paulo, 24 anos) alternava momentos brilhantes com outros calamitosos. Foi cedido ao Porto e, ali, com Julen Lopetegui como treinador, hoje selecionador da Espanha, aprendeu os tempus do futebol, a moderar e a mandar, e no regresso ao Real Madrid se transformou na peça fundamental do cubo de Kubrik que o Real Madri costuma ser com frequência.
Recém-recuperado de uma lesão, o Barcelona não é o melhor rival para ele voltar ao gramado e pôr sensatez em uma partida que deve ser de muita paixão. O Real Madrid precisa do Casemiro de antes da lesão, o homem-juntador da equipe, que dá um jeito no anarquismo de Marcelo, Cristiano, Benzema, Isso e até Modric. Só ele (ou, em sua ausência, Kovacevic) pode pôr ordem em uma constelação de jogadores que só gostam de atacar.
Nessa missão de controle, Casemiro não vai contar com seu lateral esquerdo, Marcelo, a alegria da equipe, capaz de transformar a defesa do Madrid em um sambódromo. Marcelo (Rio de Janeiro, 28 anos) pode ser tão letal em sua defesa como na adversária. É imprescindível no esquema de Zidane porque lá atrás rompe o que Cristiano ou Benzema não sabem romper. Não há outro defesa com sua capacidade de surpreender, sua imaginação na área adversária, mas no Camp Nou suas alegrias podem ser a arma de dois gumes para proveito de Messi e Suárez.
A pólvora está garantida nas duas equipes, a couraça, nem tanto.
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