Alemanha fica sozinha
É preciso avaliar a proposta europeia de uma política fiscal expansiva, mas é insuficiente
A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, se uniu às instituições econômicas mundiais que pedem uma política fiscal expansiva para a Europa. Propõe um plano de investimentos de cerca de 50 bilhões de euros (cerca de 180 bilhões de reais) como estímulo inicial para acompanhar, com mais gastos, a política monetária ampla do Banco Central Europeu (BCE). Bruxelas reconhece formalmente o que era evidente para todos os órgãos econômicos (FMI, OCDE, G7, G20 e o próprio BCE) ou presidentes como Barack Obama: que a política monetária não é suficiente por si só para estimular o paupérrimo crescimento nem para afugentar o risco de deflação.
A mensagem política é ruidosa. O passo adiante de Bruxelas isola a Alemanha como defensora principal da ortodoxia; inclusive em Berlim tende-se a aceitar o inevitável. Schäuble responde acidamente à Comissão, mas Merkel está disposta a investir mais em Defesa e reduzir impostos. Os cálculos consolam os defensores da austeridade. Depois do Brexit e da eleição de Trump, os ventos econômicos mudam. Se nos Estados Unidos houver mais crescimento e inflação, os juros subirão mais depressa do que o esperado. Os mercados elevam os juros dos bônus e vamos assistir de forma imediata o encarecimento do dinheiro. Nesse cenário, o relaxamento monetário europeu terá de mudar pouco a pouco. Por isso, nesses momentos é urgente aceitar e colocar em andamento uma expansão fiscal.
Dito isso, não há que dar uma importância excessiva à proposta de Bruxelas. Os 50 bilhões propostos (podem ser mais) terão de vir de aumentos de gastos dos países com superávit (por exemplo, Alemanha); Espanha e Itália dificilmente podem se unir a uma política expansiva. O valor, porém, é insuficiente para mudar o sinal do investimento e do emprego. Até o momento, é preciso avaliar a nova mensagem europeia em favor do investimento; mas a Europa precisa de dinheiro novo e em mais quantidade.
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