Obama garante diante de Trump a continuidade democrática dos Estados Unidos
Presidente eleito declara respeito ao presidente cessante na reunião para preparar a transferência de poder
Barack Obama se reuniu na quinta-feira com seu sucessor, Donald Trump, para iniciar a transferência de poder entre as duas presidências. Depois de uma reunião de uma hora e meia, o democrata Obama, sentado ao lado do republicano Trump no Salão Oval, enviou uma mensagem de estabilidade: a transição será fluida e respeitosa, o sistema funciona apesar da vitória na eleição de terça-feira de um populista que questionou esse mesmo sistema. Trump declarou seu respeito pelo presidente cessante e disse que buscará seu conselho no futuro. A liturgia democrática, além das pessoas e ideias, por muito ameaçadoras que sejam, se fez sentir com todo o seu peso.
Washington viveu um dos dias mais extraordinários dos últimos tempos, o início do desembarque de um homem de negócios e showman da televisão que contra todos os prognósticos ganhou as eleições de terça-feira depois de uma campanha de insultos e mentiras, nacionalismo e xenofobia.
Lado a lado, no espaço quase sagrado do Salão Oval da Casa Branca, onde durante os próximos quatro anos dirigirá os destinos do país mais poderoso do planeta, o presidente eleito Trump se reuniu com Obama, o homem que acusou de ter fundado o Estado Islâmico, o presidente cuja legitimidade questionou durante anos lançando falsas teorias conspiratórias sobre seu lugar de nascimento.
Durante a campanha, Obama disse que Trump não era qualificado para ser presidente e alertou para o perigo de tê-lo perto do botão nuclear. Ele já está a um passo disso e todos começam a se adaptar à nova realidade. Obama vai passar o bastão de comando a Trump em 20 de janeiro.
“Minha prioridade número um nos próximos dois meses é facilitar uma transição que garanta que nosso presidente eleito seja bem-sucedido”, disse Obama. “E me encorajou, eu acho, o interesse do presidente eleito Trump em querer trabalhar com a minha equipe sobre os muitos assuntos que este país enfrenta. E acredito que é importante para todos, independentemente do partido e das preferências políticas, que nos unamos, que trabalhemos juntos, que enfrentemos os muitos desafios que temos pela frente”.
O presidente cessante disse que ele e a primeira-dama Michelle Obama se esforçarão para que os Trump — Donald e a futura primeira-dama Melania — se sintam bem-vindos em sua nova casa.
“Acima de tudo, quero insistir, senhor presidente eleito, que agora queremos fazer tudo o que pudermos para ajudá-lo a ter sucesso. Porque se o senhor tiver sucesso, o país terá sucesso”, concluiu.
O tom foi cordial, mas frio. Eles não se chamaram pelos nomes, Donald e Barack, mas com os distantes “senhor presidente” e “senhor presidente eleito”. Também não houve, como em outras ocasiões em que se deu início à transferência de poder, uma foto de ambas as famílias.
Trump revelou em seu discurso que nunca havia se reunido com Obama. “Tenho grande respeito”, disse. “Falamos de muitas situações diferentes, algumas maravilhosas e algumas dificuldades”.
O presidente eleito disse que, na reunião, Obama explicou algumas das realizações de sua presidência, um legado que ele pode destruir parcialmente se aplicar seu programa. E acrescentou que buscará seu conselho no futuro.
Depois de uma eleição que abalou a ordem estabelecida e expressou o desejo de ruptura de uma parte do país, a mensagem foi de continuidade. Trump, como fez nas primeiras horas depois de sua vitória, buscou um tom presidencial e respeitoso, oposto ao adotado na campanha. Obama falou aos democratas que se sentem arrasados com a derrota de Hillary Clinton para Trump e aos que nos últimos dias protestaram nas ruas: a democracia funciona assim e deve ser respeitada. E enviou uma mensagem aos parceiros e adversários que podem acreditar que a chegada de Trump ao Salão Oval prenuncia uma época de instabilidade em Washington e no resto do mundo: as instituições democráticas são sólidas, os Estados Unidos continuarão sendo os Estados Unidos.
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