Fim do bloqueio
Mariano Rajoy governará a Espanha em minoria num Parlamento fragmentado
A reeleição de Mariano Rajoy como presidente do Governo (primeiro-ministro) da Espanha põe fim a 10 meses de interinidade política que puseram em evidência a incapacidade dos principais partidos para administrar os resultados de duas eleições gerais. Fica para trás um período que degradou gravemente a confiança dos cidadãos na política e suas instituições. As circunstâncias fizeram da investidura de Mariano Rajoy o único procedimento capaz de conseguir esse desbloqueio, evitando assim o grotesco recurso a uma terceira eleição.
Fica pela frente a tarefa de recuperar a normalidade institucional, e em nada contribuem para isso os discursos de ódio e ressentimento empregados por alguns dos que dizem representar a renovação da política ou as constantes alusões ao passado mais sombrio da Espanha em alguns dos discursos proferidos da tribuna. É o futuro o que está em jogo, e não saldar as contas da Guerra Civil ou do franquismo.
Também não se pode endossar a participação de vários deputados do Unidos Podemos, entre eles Alberto Garzón, numa marcha convocada “contra o golpe da máfia” que percorreu neste sábado o centro de Madri, organizada sob a ideia de propalar a ilegitimidade da investidura do presidente do Governo. Esse propósito, totalmente antidemocrático, contou, inacreditavelmente, com parlamentares dispostos a atuar de costas para o organismo representativo do qual fazem parte.
Fica nas mãos de um Rajoy em minoria liderar a construção dos consensos básicos de que a Espanha necessita
Politicamente, o premiê reeleito deu menos mostras de encarar positivamente o futuro do que deveria. Em vez disso, seu discurso deste sábado se fechou em sua anterior obra de governo e soou excessivamente como continuísmo: não deu sinais de que se proponha a negociar e pactuar as reformas de que a Espanha precisa, e reivindicou seu direito a dispor de um Governo “previsível”, que possa “governar e não ser governado”. Os alertas contra a demolição de suas decisões anteriores indicam um Rajoy na defensiva frente a uma legislatura que deveria ser presidida pela vontade de criar pontes, dialogar e construir.
Além do apoio expresso dos deputados do Cidadãos, a reeleição de Rajoy foi possível graças à abstenção da maioria dos parlamentares socialistas. A ausência do ex-secretário geral, Pedro Sánchez, que renunciou ao cargo de deputado horas antes da votação, neutralizou a minoria de deputados socialistas que mantiveram o voto contra Rajoy, entre eles os representantes do PSC. Agora é preciso fechar a ferida aberta no seio do PSOE, que soube dar um exemplo de senso de Estado. Confiamos que a partir deste momento o PSOE saiba exercer sua tarefa como principal partido de oposição e alternativa de Governo.
Fica nas mãos de um Rajoy em minoria liderar a construção dos consensos básicos de que a Espanha necessita e assim empreender as inadiáveis reformas que o passar do tempo vem postergando. O novo Governo, cuja renovação deveria ser profunda, será a primeira e verdadeira prova de se Rajoy entendeu a conjuntura em que está ou se pretende continuar como sempre.
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