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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Garantir a paridade

Os méritos das mulheres não são reconhecidos: é hora de explorar as cotas

Participantes na leitura de textos de escritoras organizado pela Biblioteca Nacional em colaboração com a Federação Espanhola de Mulheres Dirigentes.
Participantes na leitura de textos de escritoras organizado pela Biblioteca Nacional em colaboração com a Federação Espanhola de Mulheres Dirigentes.Javier Lopez / EFE
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A meritocracia não funciona da mesma forma para homens e mulheres. Embora nas últimas três décadas as mulheres tenham maior nível de escolaridade que os homens, ainda ganham menos e sua participação em cargos de responsabilidade está longe de ser o que lhes corresponderia pela preparação. Um estudo abrangente da Fedea (Fundação de Estudos de Economia Aplicada) demonstra pela enésima vez que a disparidade entre os sexos permanece apesar do esforço coletivo feito pelas mulheres para entrar no mercado de trabalho e conseguir competir em igualdade de condições.

A taxa de atividade feminina passou de 35% na década de oitenta para 68% hoje e a porcentagem de mulheres com formação universitária atinge 43%, contra 36% entre os homens. E, no entanto, a remuneração por hora trabalhada, com os ajustes pertinentes, é cerca de 20% menor no caso das mulheres. Como é possível se a atual legislação consagra a igualdade salarial? O estudo revela que a maioria das diferenças acontece na parte variável do salário, aquela que depende em maior medida de decisões arbitrárias. Assim a conclusão é óbvia: a simples equiparação jurídica não é suficiente para conseguir a igualdade. A diferença salarial é maior à medida que escalamos os níveis salariais e mantém uma escandalosa ausência feminina nos postos de responsabilidade: as mulheres representam apenas 17% dos diretores de grandes empresas e a porcentagem de mulheres diretoras e gerentes permanece estancado abaixo dos 30% desde os anos noventa.

A isso é preciso acrescentar o maior impacto da crise sobre o coletivo feminino, que significa que elas sofrem em maior medida certas condições de precarização no trabalho que resultam em salários mais baixos. De entrada, a taxa de desemprego é seis pontos maior entre as mulheres e as que trabalham estão em condições piores, com maior taxa de subemprego e temporários. Concretamente, 57% das mulheres trabalham tempo parcial por não encontrarem emprego de tempo integral, mais que o dobro dos homens.

Esses números mostram que é preciso repensar a estratégia que devemos seguir. O país como um todo fez um esforço notável para preparar as novas gerações. As mulheres também colocaram um esforço pessoal extra que não é recompensado. Não podemos continuar permitindo esse desperdício de recursos intelectuais e sociais, porque é antieconômico e porque significa uma injustiça manifesta que expõe metade da população a níveis intoleráveis de frustração. É hora de constatar o fracasso e explorar medidas alternativas. Por exemplo, políticas decididas de conciliação do trabalho que envolvam igualmente homens e mulheres e permitam uma distribuição equitativa do trabalho doméstico; mudanças na licença paternidade e uma rede de creches para garantir a escolarização de 0 a 3 anos. Mas ao lado dessas políticas estruturais, devemos explorar outras de caráter transitório, como a imposição de cotas de gênero em determinados níveis profissionais e posições de responsabilidade, especialmente no setor privado. Os bons resultados obtidos pelas políticas de cotas nos cargos de responsabilidade na França e na Itália apoiam o acerto dessa estratégia.

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