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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Putin e Erdogan se aproximam

Os presidentes da Rússia e da Turquia reatam relações e exibem sua aliança enquanto se distanciam do Ocidente

Erdogan e Putin, na terça-feira, dia 9 de agosto, em São Petersburgo.
Erdogan e Putin, na terça-feira, dia 9 de agosto, em São Petersburgo.Mikhail Svetlov (Getty Images)

A prisão dos pilotos turcos que derrubaram um caça russo no outono, acusados de gulenistas, não é só outro capítulo da caça às bruxas que Erdogan leva a cabo depois da intentona golpista, mas também a oferenda que o presidente turco serviu ao russo de bandeja em uma curiosa troca de elogios. Putin e Erdogan eram oponentes devido à guerra na Síria — a Rússia apoia Bachar el Assad e a Turquia, os rebeldes — e depois de denunciar várias violações do espaço aéreo turco por parte de caças russos aconteceu a queda. Hoje as posições mudaram. Erdogan volta a se aproximar de uma Rússia forte ao mesmo tempo em que sua relação com a UE se deteriora, a qual reprova sua frieza depois do golpe. O acordo migratório funciona, mas a repressão afasta Erdogan da Europa.

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Esta semana, os dois presidentes entraram em acordo em São Petersburgo quanto a um contato permanente para trocar informação sobre a Síria, e Ancara deu sinais de que pode permitir a permanência de Bashar el Assad em uma etapa transitória, que até agora negava. Seus caças voltaram a atacar o Estado Islâmico na Síria depois de 10 meses de paralisação. Mas, sobretudo, os dois demonstraram para o mundo que não estão isolados.

Putin, animado pela simpatia de Trump e de ultradireitistas europeus, exibe além disso demonstrações de poder à medida que as eleições parlamentares russas de setembro se aproximam. Liberou sistemas antimísseis na Crimeia depois de denunciar operações terroristas da Ucrânia nesta península que foi anexada em 2014; destituiu seu chefe de Gabinete, entre outras mudanças; e se aproxima deste Erdogan mais autoritário, consciente não só de sua importância geoestratégica, mas de que é um membro da OTAN e aspirante à UE em um péssimo momento para o projeto europeu. Que as relações entre eles sejam boas não é preocupante; que isso ocorra em detrimento da Europa e dos valores democráticos aos quais ambas as populações devem aspirar é arriscado.

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