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Coluna
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O fim do mundo como o conhecemos

O período pós-Segunda Guerra é um dos mais extensos da História sem a ocorrência de um conflito generalizado entre as potências mundiais. Mas o quadro parece estar mudando

Conflito da guerra civil na Síria.
Conflito da guerra civil na Síria.OMAR HAJ KADOUR (AFP)

Embora vivendo numa pacata e desinteressante cidade do interior de Minas Gerais, minha infância, como a de boa parte das crianças da mesma geração, sofreu com a angústia provocada pela Guerra Fria. Íamos dormir com a perspectiva de não haver amanhã: Estados Unidos e União Soviética estocavam milhares de bombas atômicas que, por um descuido qualquer, poderiam pôr fim ao planeta Terra e, por consequência, à Humanidade. No entanto, apesar da ocorrência de centenas de conflagrações regionais mais ou menos relevantes, o período pós-Segunda Guerra está sendo um dos mais extensos da História sem a ocorrência de um conflito generalizado entre as potências mundiais. Mas, infelizmente, o quadro parece estar mudando.

A União Europeia, uma utopia de superação de fronteiras linguísticas, culturais, religiosas, políticas e econômicas, nascida em 1957 em uma terra devastada pela intolerância e pela insanidade, passa por uma de suas maiores provações. Dividido, o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales), que nunca se sentiu à vontade entre os países do continente — tanto que foi um dos três únicos estados-membros a manter sua própria moeda —, prepara-se para deixar a União Europeia. O impacto desta decisão — político e econômico, mas também psicológico — ainda está sendo avaliado, mas certamente será enorme.

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Pressionados pela opinião pública, os principais dirigentes do bloco europeu reavaliam as estratégias para recepção de refugiados, principalmente aquelas pessoas que buscam escapar do sectarismo do Estado Islâmico. Os recentes atentados na França e na Alemanha — executados pelos chamados “lobos solitários” — alimentam a xenofobia e fortalecem o discurso dos partidos de extrema-direita. Líderes populistas, que convergem suas mensagens contra minorias étnicas e religiosas e contra os “comunistas” de forma geral, surgem assentados em promessas messiânicas que, embora irrealizáveis, seduzem a massa ignorante.

Um dos casos mais emblemáticos do enfraquecimento político da União Europeia é o posicionamento com relação à Turquia, que desde 2005 encontra-se em negociações para se tornar um de seus países-membros. A recente tentativa de golpe de estado contra o presidente Recep Erdogan gerou uma duríssima repressão aos opositores. Decretado o estado de emergência, foram fechados veículos de comunicação e escolas privadas; presos jornalistas, generais, juízes, professores; demitidos milhares de funcionários públicos. Governando em regime de exceção, Erdogan aproveita-se de uma situação estratégica privilegiada para centralizar o poder em suas mãos.

Membro da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Turquia cede território para apoio aos bombardeios a posições do Estado Islâmico na Síria e no Iraque e os Estados Unidos mantêm armas nucleares na base de Incirlik. O país serve como uma espécie de dique para conter os refugiados daquela região — são cerca de 3 milhões de sírios abrigados em 22 campos. Astuciosamente, para manter-se imune a retaliações da Europa e dos Estados Unidos, Erdogan ameaça reverter a política de contenção dos refugiados ao mesmo tempo em que acena com uma aproximação com o despótico presidente russo, Vladimir Putin.

Putin, ex-chefe da KGB, a temida polícia secreta soviética, desenvolve uma política autoritária e personalista, beligerante e expansionista, baseada no nepotismo e na corrupção. Seu objetivo tem sido de restaurar a importância geopolítica da Rússia, contrapondo-se ao poderio europeu e norte-americano. Para isso, não tem medido esforços para ampliar sua esfera de influência, não se importando em apoiar ditaduras, como a de Bashar al-Assad, na Síria, ou governos de viés populista, como o do presidente venezuelano Nicolás Maduro.

A ditadura tecnocrática chinesa, diante dos reveses econômicos dos últimos tempos — o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vem desacelerando ano a ano —, tem tomado medidas de repressão a qualquer possibilidade de debate interno. O Partido Comunista exerce uma inflexível censura à informação, que atinge inclusive o acesso à internet; persegue homossexuais; mantém, segundo a organização Dui Hua, cerca de 5,8 mil presos por razões políticas ou religiosas. O país, conhecido pelo desrespeito aos direitos humanos e trabalhistas e pelo profundo desprezo pelo meio ambiente, possui uma insaciável fome expansionista e vem ampliando seus interesses principalmente pela África e América Latina.

Finalmente, os Estados Unidos. Pela primeira vez na história da democracia norte-americana um político como o magnata Donald Trump, histriônico tal qual o líder fascista Benito Mussolini, consegue amealhar apoio suficiente para disputar de igual para igual a Presidência da República. Mesmo que perca as eleições para a candidata democrata Hillary Clinton, o espaço alcançado pelo pensamento de extrema-direita, que ele representa, demonstra o estranho desejo de uma radicalização ideológica que encontra eco em Putin, no Partido Comunista chinês, em diversos dirigentes populistas europeus e, principalmente, no obscurantismo fanático dos militantes do Estado Islâmico. Podemos estar vivendo o fim do mundo como o conhecemos.

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