Os muralistas mexicanos que pintaram um bairro inteiro
Coletivo Germen mistura técnicas gráficas para criar murais junto com os moradores em bairros marginalizados no México
Um conjunto de 209 casas em um morro foi a tela de um mural multicolorido de 20.000 metros quadrados. Está em Las Palmitas, bairro marginalizado de Pachuca, Hidalgo, no centro do México. Desde o final do projeto em 2015, o macro mural se transformou em uma atração turística e foi notícia em veículos como o The Guardian, a Al Jazeera e a Associated Press. As fotografias do bairro também foram compartilhadas milhares de vezes em diversas páginas do Facebook.
O coletivo de artistas Germen Nuevo Muralismo foi encarregado pelos governos federal, estadual e local de criar o mural em 2014, como parte de um projeto para revitalizar a região. “Eles nos explicaram que o bairro estava no sopé de um morro e que estava em condições de vulnerabilidade, com problemas de delinquência, consumo de drogas e violência”, diz ao El PAÍS por telefone Enrique Gómez Mybe, porta-voz e um dos fundadores do Germen. “Aceitamos participar porque viemos de lugares com esses problemas e queremos demonstrar que a arte não é um souvenir para os conhecedores, é um direito de todos”.
Gómez é de Ciudad Nezahualcóyotl (Ciudad Neza), um dos municípios mais inseguros do Estado do México, de acordo com dados do Sistema Nacional de Segurança Pública. “Somos de bairros perigosos. Ao invés de me transformar em um bandido, optei pela lata de tinta e por deixar de lado os riscos, usar o desenho como uma alternativa de vida”. Em 2002 conheceu outro grafiteiro de Neza, Jonathan Méndez Ene e trabalharam juntos sob a tutela de outros grafiteiros veteranos como Humo.
Depois de quase uma década fazendo grafite, Gómez e Méndez perceberam que gostariam de levar sua arte a uma direção diferente da de seus mentores. “Queríamos criar um coletivo no qual pudéssemos experimentar outra estética, com várias técnicas e ferramentas que não são permitidas no grafite por regras como a can control (controle da lata, significa que o artista só pode utilizar spray em sua arte e deve dominar seu uso para criar detalhes, contrastes e texturas)”. Em 2012 criaram o Germen após participar de um projeto da marca de bebidas energéticas Red Bull para transformar uma área de drenagem em um parque para skatistas em Guadalajara.
Dois anos depois começaram a planejar o mural de Las Palmitas. Os artistas criaram uma maquete volumétrica (feita para representar o lugar, mas sem detalhes) e através de um sistema de coordenadas calcularam a distribuição da obra nas mais de 200 casas. Mas para Gómez o planejamento mais importante foi feito com as 450 famílias do bairro. “Entramos até nas cozinhas de cada casa e escutamos as histórias das pessoas e os problemas que enfrentam”, disse Gómez.
Através da convivência com os habitantes do bairro, o Germen pegou as inspirações de suas histórias para criar tanto o mural que abarca todo o conjunto de casas, como os murais internos que decoram as ruas do bairro. “Foi uma colaboração da comunidade”, diz Gómez. “Para nós esse é o novo muralismo mexicano, que não é construído com a perspectiva de um artista, mas de um consenso e da intervenção social do artista em uma comunidade”.
O projeto foi realizado pela equipe do Germen (16 membros) e 40 habitantes de Las Palmitas, jovens em sua maioria. Ao longo do projeto de um ano e meio, os artistas também ofereceram oficinas de arte e realizaram um diagnóstico dos problemas sociais do bairro. “Percebemos que faltava um lugar de convivência para todo o lugar, onde os moradores puderam se conhecer e conversar, acreditamos que essa é uma das razões pela qual existiam tantos conflitos entre as pessoas”.
O Governo Federal lançou esse projeto se baseando no dos artistas holandeses nas favelas do Rio de Janeiro. Em uma conferência TED, Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn explicam que seu projeto melhorou a interação entre seus habitantes e criou um sentido de comunidade antes inexistente.
Segundo dados do governo de Pachuca, o índice de delinquência em Las Palmitas diminuiu a partir do início do projeto. “Acredito que as pessoas começaram a perceber o potencial de sua comunidade para melhorar e o potencial que eles têm para buscar alternativas a sua realidade. Isso é um efeito da arte, a arte é poder, e queremos levar essa mensagem a outras partes do país”.
O Germen já estuda seu próximo projeto, mas Gómez ainda não pode falar sobre ele. Enquanto isso, seus membros permanecem em Pachuca fomentando a arte entre a comunidade.
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