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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Brasil, a pátria em sandálias da humildade

Somos o país que só triunfa pelo erro. Quem sabe um Ganso, o melhor, só chamado de última hora, não seja a peça bossa nova?

Gabriel celebra gol nom amistoso contra o Panamá.
Gabriel celebra gol nom amistoso contra o Panamá.Ron Chenoy (USA Today Sports)

O Brasil que chega à centenária Copa América é um Brasil provisório que repete, na bola, o cenário catastrófico da política pós-golpe ou impeachment, dependendo do ponto de vista.

Mais do que isso. É um professor, como os brasileiros chamam os treinadores, que não pensa o jogo. Nem é Pepe Guardiola tampouco Simeone. Parece muito, em todos os sentidos, o presidente provisório. Falta-lhe imaginação.

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O país chia, grita, protesta. Não precisa pesquisa de opinião para saber que o técnico é o menos preferido entre os brasileiros. Há um temor, de fato, que a seleção canarinha, pela primeira vez na vida, fique fora de uma Copa do Mundo.

O time, porém, ainda consegue ser melhor, infinitamente melhor, que a equipe política de Brasília. Não é aquele Brasil acostumado a encantar o mundo, mas, com as sandálias da humildade - em vez da Pátria em elegantes chuteiras engraxadas pelo menino Pelé - pode surpreender pela desobediência civil ao técnico Dunga.

Somos o país que só triunfa pelo erro. Quem sabe um Ganso, o melhor jogador, só chamado de última hora pela falta de condição de saúde de milhares de boleiros normais, não seja essa peça bossa nova? É o mais requintado dos nossos selecionáveis. O único capaz de botar um atacante escancaradamente na frente do gol.

Se o Brasil esquecer o Dunga, pode até beliscar o troféu da centenária Copa América. Os meninos sabem o que é uma bola. Os meninos não terão a sombra e a dependência de Neymar Jr., um excelente jogador do Santos e do Barcelona que ainda não justificou sua convocação no time canarinho.

A ausência do 10 que não é Pelé, está a vinte mil léguas submarinas disso, pode fazer muito bem ao escrete. Ganso, que sabe pensar e tem alguns rompantes do nosso filósofo Sócrates, quem sabe, pode reinventar um time perdido no tempo. Dois filhos da selva amazônica, dois paraenses.

Sócrates, meu amigo e colega de bancada do programa televisivo Cartão Verde (TV Cultura), sempre me dizia: “Se esse cara quiser, vai ser melhor que nós todos, ele junta Zico e Zidane nas mesmas pernadas”. Tratava de Ganso.

No banquete socrático, creio, Neymar funciona em uma orquestra pronta, como o Barça, mas foi incapaz, até agora, de saber repensar o Brasil como ideia futebolística.

Ganso tem que ser esse cara. Está aberta essa vaga de pensador de futebol. Que o menino amazônico aproveite e desfrute. Apesar do Dunga. Apesar da CBF corrupta cujo presidente Del Nero não viaja para fora do país com medo de ser preso. Apesar de tantos brasis reacionários e golpistas, no futebol sempre há alguma maluquice a ser feita com a ideia de uma certa bossa nova joãogilbertiana. Quem sabe os meninos resolvem ignorar, sutilmente, o Dunga e a ideia careta do Brasil de hoje.

Quem sabe, é nessas horas de crise de pensamento, que um país ressurge. Que venham os desobedientes aos esquemas táticos e aos vozeirões burros do banco, como os insurgentes Joões Gilbertos e seus banquinhos de voz própria. Ganso, se botar moral, pode ser esse cara. Tomara, Deus, tomara.

O Brasil precisa ser repensado. Por isso que nós estamos de plantão e nos vendo na Copa América.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de Big Jato entre outros livros que conversam com o gênio Kurt Vonnegut. É comentarista na TV brasileira dos programas Papo de Segunda (GNT) e Redação Sportv.

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