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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Banho de realidade

Obama adverte em relação à possível saída do Reino Unido da União Europeia: não haverá privilégios comerciais

David Cameron ouve Barack Obama.
David Cameron ouve Barack Obama.ANDY RAIN (EFE)

Os partidários de que o Reino Unido abandone a União Europeia receberam neste fim de semana um banho de realidade justamente do país no qual depositavam suas maiores esperanças para argumentar que o Brexit não trará graves prejuízos nem políticos nem econômicos para os britânicos. Barack Obama não deixou escapar a oportunidade —em sua visita oficial ao Reino Unido— de desmontar uma por uma as principais promessas eurofóbicas, entre as quais se destaca a de que Londres assinaria rapidamente um tratado comercial com Washington mantendo uma relação privilegiada —e, sem dúvida, muito superior à do resto dos europeus— com os norte-americanos.

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Não será assim. Obama foi muito claro ao dizer que o Reino Unido terá de se colocar “no fim da fila” dos países que querem firmar um acordo deste tipo com seu país. Nem o primeiro, nem em um grupo preferencial: o último país. E por que o assunto interessa aos EUA? Muito simples, disse Obama: “Porque também nos afeta: um Reino Unido fora da UE teria menos valor para nós como aliado”. E, para dissipar as dúvidas dos indecisos diante do referendo do próximo 23 de junho —atualmente, em torno de 20%—, o governante norte-americano chamou a atenção para a irrelevância internacional na qual o país se colocaria e para o perigo que sua saída da UE representaria para a segurança de todo o Ocidente, em um momento em que o que faz falta é exatamente o contrário: união diante do terror.

O movimento eurofóbico do Reino Unido, esbanjando um discurso populista que explora o descontentamento da classe média, se vê a partir de agora diante de uma campanha na qual não poderá insistir mais na tradicional relação especial que mantêm britânicos e norte-americanos como tábua de salvação diante do precipício isolacionista no qual o país quer se precipitar. Será muito difícil explicar aos eleitores como curiosamente as nações mais desenvolvidas do mundo anglo-saxão —Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia— passaram o recado de que preferem que o Reino Unido permaneça no projeto europeu e não consideram um perigo em absoluto para a identidade anglófona das ilhas Britânicas que se mantenham junto a seus parceiros naturais de décadas. As três nações citadas olham mais para o Pacífico do que para o Atlântico Norte e o demonstraram em palavras e fatos nos últimos anos. A inegável realidade é que atualmente Londres compartilha muito mais interesses estratégicos de todo tipo com Berlim ou Paris do que com Wellington ou Canberra.

As palavras de Obama são um balão de oxigênio para David Cameron, ciente de como as pesquisas claramente não tendem em favor da permanência na UE que ele defende. Pelo menos, o presidente norte-americano esclareceu as coisas —pensando nos indecisos— para todos aqueles que pensavam, como as pesquisas refletem, que o Brexit não seria prejudicial para a relação do Reino Unido com os EUA.

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