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Robôs que investem seu dinheiro por você na bolsa de valores

Gestor automatizado Indexa Capital lança nova forma de investir

Laura Delle Femmine
Tela com as cotações do Ibex na Bolsa de Madri.
Tela com as cotações do Ibex na Bolsa de Madri.Fernando Alvarado

“Imagine que sua carteira de investimento perca 10% de seu valor num mês – o que você faria?” A pergunta não é feita por um consultor financeiro, muito menos pelo funcionário de um banco. O interlocutor é um programa de computador. Depois de responder essa primeira pergunta e outras nove, usando o mouse, o internauta estará apto a saber que tipo de investimento é mais adequado a seu perfil. O serviço é oferecido pela Indexa Capital, primeiro gestor automatizado de investimentos na Espanha.

O funcionamento da Indexa Capital se baseia na gestão passiva do investimento: a empresa aplica em fundos indexados —que replicam índices, tanto de renda fixa quanto variável— e cobra comissões cerca de 80% inferiores às do setor financeiro, graças à substituição de um consultor pessoal por um algoritmo. É a máquina que aloca as carteiras, de modo automático, em função dos objetivos de rendimento, idade, renda e aversão ao risco dos usuários. Com a redução do custo, a rentabilidade prometida é 3,1% superior à da média de bancos e fundos.

“As carteiras são divididas numa escala de 1 a 10, onde 1 equivale a menos risco, e 10, a mais risco; o ideal é investir por um período de pelo menos cinco anos”, explica François Derbaix, cofundador e CEO da empresa, que começou a trabalhar a pleno vapor em dezembro de 2015, quando a Comissão Nacional do Mercado de Valores Mobiliários (CNMV) lhe deu autorização para operar na Espanha. Conforme a carteira, a porcentagem de renda variável pode ir de 10% a 90%. “Oferecemos o que acreditamos que seja melhor para o cliente”, afirma o executivo.

Tudo digital

É tudo automatizado, desde o investimento até o pagamento dos ganhos e as correções de rumo. O ponto de partida da Indexa Capital é que a gestão ativa, praticada por um consultor, gera pouco benefício para o cliente. “O custo médio cobrado pelos fundos é de 3,4%, e pelos bancos, 2%, contra 0,73% da Indexa”, diz Derbaix. A taxa de 0,73% é composta por 0,2% de gestão, 0,25% de custódia e corretagem —a aplicação é feita por meio de uma conta da Inversis, do grupo Banca March—, e 0,25% da gestora de ativos Vanguard, em cujos fundos indexados a Indexa aplica. E, por serem fundos registrados na CNMV, não há tributação sobre o lucro nas transferências.

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“A gestão ativa, na maioria dos casos, destrói valor, porque tenta bater o mercado e nem sempre consegue”, alerta Derbaix. “Mas os gestores vendem produtos que geram muita margem para eles e pouca rentabilidade para o cliente.”

Atualmente o patrimônio confiado por investidores à Indexa Capital atinge 2,6 milhões de euros (cerca de R$ 10,5 milhões). “O objetivo para este primeiro ano era conseguir cinco milhões; estamos muito acima das previsões”, comemora Derbaix. Esse empresário belga, cofundador de start-ups como Toprural e Rentalia, uniu-se a Unai Ansejo Barra —investidor institucional com mais de 10 anos de experiência na gestão de planos de aposentadoria, e também CEO da Indexa— e a Ramón Blanco, doutor em economia, para dar vida a este novo projeto.

O valor mínimo para investir no Indexa é 10.000 euros. A dosagem dos fundos que compõem a carteira não tem relação com o patrimônio administrado: para o mesmo perfil de risco a composição do portfólio é idêntica, não importando o aporte. O modelo usado foi elaborado pelo prêmio Nobel Harry Markowitz. O economista, norte-americano, egresso da Escola de Chicago, é o criador da Teoria Moderna de Carteiras, que pesquisa como maximizar o rendimento e minimizar o risco de uma aplicação por meio da diversificação do portfólio. A meta é encontrar a solução que dê o maior retorno para determinado risco. Chegou à Bolsa o low cost? O modelo de negócio da Indexa não é novidade no mundo das finanças. Em outros países, especialmente Estados Unidos, os chamados robo-advisors (robôs-consultores) começaram a operar há mais de 5 anos, e seu crescimento parece impossível de parar. Betterment, Wealthfront, MoneyFarm e FutureAdvisor estão entre as empresas mais populares.

No final de 2014, o patrimônio gerido pelas 11 maiores empresas do setor nos EUA, país no qual ganham popularidade ao ritmo mais rápido, era de 19 bilhões de dólares (cerca de R$ 69 bilhões), segundo a empresa de consultoria Deloitte. Na visão dela, isso é só o começo: essas empresas, afirma, têm potencial de revolucionar o mercado.

Interesse dos grandes

Indicação disso é o interesse demonstrado por grandes grupos financeiros por essas companhias. A Blackrock, maior gestora de ativos do mundo, comprou no ano passado a FutureAdvisor, ao passo que o fundo de pensão norte-americano Vanguard lançou sua própria plataforma de gestão automatizada de patrimônio. “Antes se ia à agência bancária, agora há o banco online. Com a gestão do patrimônio está acontecendo a mesma coisa”, diz Santiago Simón, professor do departamento de Economia e Finanças da Esade Business School. “Mas por enquanto é um serviço focado no cliente de baixo volume, porque quando o patrimônio é relevante se espera um aconselhamento, que é o que gera custo. É um modelo de gestão low cost, a ideia é boa e vai crescer”, segundo o docente.

O potencial desse nicho de mercado é enorme. Só na Espanha o patrimônio aplicado em empresas e fundos de investimento superava no final de fevereiro 350 bilhões de euros (R$ 1,4 trilhão), segundo a Inverco. Mas há quem faça ressalvas a esses novos modelos. “Muitas coisas podem ser automatizadas, e é o caminho a ser buscado, mas também é preciso ter cuidado. Há situações nas quais não é suficiente uma simples correção automática”, alerta Luis García Langa, agente financeiro e especialista independente da iAhorro.

Para Simón, o risco existe, mas não supera muito o do mercado tradicional, porque não há consultor capaz de prever o comportamento do mercado. “Dá-se ao cliente o que ele quer, e, se perde, no final se deu a ele o que queria. O computador vai comprar ou vender o que lhe foi dito”, afirma.

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