O longo caminho sírio
O cessar-fogo não é completo nem é garantia de novos avanços no processo de paz

O cessar-fogo que começa oficialmente na Síria na meia-noite de sexta-feira é apenas um tímido primeiro passo em um longuíssimo processo para acabar com um dos mais sangrentos conflitos deste século. Em primeiro lugar porque nem sequer é um cessar-fogo completo e nunca pretendeu sê-lo. Como reconheceu o presidente sírio, Bashar al-Assad, na recente entrevista concedida ao EL PAÍS, as forças sírias em nenhum momento vão deixar de combater o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra — braço local da organização terrorista Al Qaeda — ou “outros grupos terroristas afiliados”. Aliás, essa denominação é suficientemente ampla para permitir que Damasco inclua nela qualquer grupo.
Além disso, nos lugares onde o cessar-fogo acontecer, ele será provavelmente precário. Na sexta-feira a trégua foi aceita por nada menos de cem diferentes organizações que lutam contra o regime de Assad. Um número que comprova o quão fragmentada, incontrolável e difícil de coordenar é a oposição armada ao Governo de Damasco. Não há dúvida de que a aceitação do cessar-fogo é um êxito dos esforços pacificadores da comunidade internacional, mas uma visão realista do problema impede o otimismo, a menos que os passos para a paz e o diálogo sejam concretos, visíveis e rápidos.
E não parece ser isso o que está acontecendo no terreno: nas horas anteriores à entrada em vigor da trégua, a aviação russa atacou com especial agressividade as posições defendidas pela oposição síria. É esse tipo de ação que alimenta as suspeitas daqueles que argumentam que, para Assad, o cessar-fogo representa apenas um passo mais numa estratégia de guerra para permanecer no poder.
Estamos no início de um caminho longo e difícil, mas é necessário percorrê-lo pelo bem das vítimas: os sírios.
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