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Certamente, a melhor apresentação musical da história do Oscar

Um Bruce Springsteen emocionado e compenetrado cantou ‘Streets of Philadelphia’. De arrepiar

A mesa com mais estrelas do Oscar de 1994. Na esquerda, a atriz Kate Capshaw (casada com Steven Spielberg), Elton John, Bruce Springsteen e Patti Scialfa (membro da E Street Band, casada com Bruce). À direita, Spielberg, Rita Wilson, atriz e casada com Tom Hanks, que está ao lado.
A mesa com mais estrelas do Oscar de 1994. Na esquerda, a atriz Kate Capshaw (casada com Steven Spielberg), Elton John, Bruce Springsteen e Patti Scialfa (membro da E Street Band, casada com Bruce). À direita, Spielberg, Rita Wilson, atriz e casada com Tom Hanks, que está ao lado.Getty
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Quando, em 21 de março de 1994, Bruce Springsteen surgiu no palco do Pavilhão Dorothy Chandler (Los Angeles), na 66ª cerimônia de entrega do Oscar, muitos ficaram atônitos. Nem foi preciso que o músico de Nova Jersey abrisse a boca para que as pessoas na plateia e os milhões que acompanhavam a festa pela TV percebessem algo diferente em sua imponente presença. De cara, não era o atirado roqueiro que marca o ritmo com espasmos vigorosos. Nem levava uma guitarra, imagem marcante. Não, o Springsteen (que tinha 44 anos) que se materializou num palco sóbrio e tenuemente iluminado estava comedido e circunspecto. Durante os 30 segundos iniciais de sua interpretação, parecia uma estátua. Numa roupa escura, e apesar da barbicha grunge da moda, estava elegante.

Em 87 anos do prêmio Oscar, durante os quais cinema e música se fundem em deliciosa harmonia, houve montanhas de apresentações memoráveis. Mas a de Springsteen tinha todos os atributos necessários para passar à história de forma retumbante: uma presença em cena surpreendente, um artista de primeiríssima grandeza, uma interpretação emocionada e uma canção com uma mensagem ainda válida, mas que naqueles dias atingiu o coração de muitos. O tema era “Streets of Philadelphia”, composto por Springsteen para a trilha sonora de “Filadélfia”, filme dirigido por Jonathan Demme, com Tom Hanks e Denzel Washington nos papéis principais. O argumento girava em torno do impacto social de quatro letras devastadoras: Aids.

Bruce Springsteen e Whitney Houston, que entregou a ele o Oscar de melhor canção, em 1994.
Bruce Springsteen e Whitney Houston, que entregou a ele o Oscar de melhor canção, em 1994.Getty

A canção, tocada nos créditos iniciais do filme, com certeza contribuía para fazer o espectador mergulhar na atmosfera de drama e desolamento que a história merecia. É um tema atípico na discografia de Springsteen: sua espartana instrumentação se baseia num relaxado loop de bateria e num suave colchão de teclados (e discretos coros masculinos). O vídeo musical mostrava um Springsteen em desalinho vagando por algumas das paisagens mais arruinados da Filadélfia. Diferentemente do comum em videoclipes de trilhas sonoras, apenas um par de planos furtivos do filme (de Tom Hanks com ar preocupado) se intercalava à caminhada do músico. Com todo o peso em Springsteen, as imagens transmitiam a ideia de que “Streets of Philadelphia” era muito mais que uma colaboração: era um single importante (e muito sólido) na discografia de The Boss.

Curiosamente, foi Antonio Banderas que abriu caminho para a atuação de Springsteen na festa do Oscar, numa edição, por certo, muito espanhola (foi o ano em que Fernando Trueba ganhou o prêmio de melhor filme em língua estrangeira por "Belle Epoque"). Banderas tinha papel secundário em "Filadélfia". Depois da apresentação de Springsteen, Whitney Houston abriu o envelope com o prêmio de melhor canção, que foi exatamente para o tema composto por Springsteen para o filme de Jonathan Demme.

Um humilde Bruce subiu para pegar a estatueta. “É a primeira canção que escrevi para um filme, então acho que de agora em diante tudo vai correr bem”, brincou. Tinha derrotado indicados como Neil Young (com outra canção para “Filadélfia”), Janet Jackson, James Ingram e Harry Connick Jr (salvo este último, todos autores ou coautores das canções candidatas; são os compositores que recebem o troféu). “Filadélfia” ganhou outro Oscar, o de melhor ator, para Tom Hanks.

Não foi o único reconhecimento dado a “Streets of Philadelphia”. Naquele ano ganhou o Globo de Ouro, o prêmio da MTV de melhor vídeo e, no Grammy do ano seguinte, quatro prêmios. Apesar disso, não passou da nona posição na lista de discos mais vendidos nos Estados Unidos; sua repercussão foi maior na Europa, onde foi número um em muitos países na parte continental e segundo no Reino Unido. Hoje é um clássico inevitável na carreira de Bruce Springsteen, que tomou gosto em compor para o cinema e no ano seguinte assinaria “Dead Man Walking” para “Os Últimos Passos de um Homem”, filme dirigido por Tim Robbins. Mas a canção que deu um nó na garganta naquela cerimônia do Oscar ele só interpreta ao vivo, e é muito difícil que seja ouvida na turnê programada para 2016 (que não tem o Brasil no roteiro). Talvez por ser triste demais para seus eufóricos concertos. Talvez...

 

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