Grammy 2016 consagra o pop de Taylor Swift e Ed Sheeran
Kendrick Lamar triunfa com cinco estatuetas. Lady Gaga rouba cena com homenagem à David Bowie Eliane Elias, pianista brasileira radicada nos EUA, levou um Grammy na categoria Jazz Latino
O pop venceu. O disco 1989, com o qual Taylor Swift rompeu as fórmulas radiofônicas neste ano, recebeu o prêmio máximo desta edição do Grammy, entregue na segunda-feira em Los Angeles, numa acirrada disputa com outros quatro álbuns de todos os estilos possíveis – entre eles To Pimp A Butterfly, do rapper Kendrick Lamar, que tinha 11 indicações, num inédito reconhecimento ao hip hop, pois são raros os casos em que esse gênero conseguiu entrar nos prêmios gerais, superando as categorias específicas de rap e R&B. Lamar foi o grande vencedor da noite em número de troféus, com cinco Grammys, mas confirmou que o rap não tem como fazer frente ao pop na categoria que premia a música de massas. O disco do ano foi para a canadense, a canção do ano para o britânico Ed Sheeran, e o hit do ano, entendido como produto, é a grudenta Uptown Funk, mina de ouro de Mark Ronson e Bruno Mars.
Com apenas 26 anos e uma década na indústria, Taylor Swift é a primeira mulher a ganhar duas vezes o prêmio de melhor álbum. A primeira foi em 2010, com Fearless, quando se tornou a mulher mais jovem da história a receber essa honraria.
A categoria mais interessante na 58ª. edição dos prêmios Grammy era justamente essa, a de álbum do ano, por sua deliciosa diversidade. Competiam aquela que certamente é a maior estrela pop do momento, Taylor Swift (1989), o melhor rapper da atualidade, Kendrick Lamar (To Pimp a Butterfly); a renovação do R&B representada por The Weeknd (Beauty Behind the Madness), uma grande figura country, Chris Stapleton (Traveller), e a aposta indie rock deste ano, Alabama Shakes (Sound&Color).
Com trabalhos tão díspares, qual deles seria o maior sucesso em termos gerais? Na opinião do setor fonográfico, trata-se de 1989. Todos os discos indicados são do gigantesco conglomerado Universal Music (Vivendi)
Na hora de entregar o prêmio de melhor gravação do ano, a categoria mais generalista, que reconhece a música como produto completo e acabado, Beyoncé definiu bem o que estava em jogo: “As gravações que moveram as massas em 2015”. Uptown Funk sem dúvida entra totalmente nessa categoria. Superou dois trabalhos pop, os de Swift e Sheeran, e dois de soul, The Weeknd e D’Angelo.
What a night for @taylorswift13! #GRAMMYs pic.twitter.com/gTZcVohdaL
— Recording Academy / GRAMMYs (@RecordingAcad) February 16, 2016
A melhor canção pop do ano, e a melhor em geral, segundo o setor fonográfico, foi Thinking Out Loud, do britânico Ed Sheeran. Uma balada com um poderoso refrão, no qual Sheeran exibe sua capacidade vocal, e que foi incansavelmente ouvida durante o último ano. A canção tem uma produção impecável, goste-se ou não do gênero pop. O fato de ter superado o candidato do rap não tira méritos de Lamar. As categorias gerais dos Grammy (pode existir uma só “melhor canção” num determinado ano?) servem para premiar os trabalhos com maior capacidade de se conectar com qualquer pessoa, em qualquer lugar, e essa é uma qualidade que em geral pertence ao pop suave. Jamais um rap levou esse prêmio. A derrota neste caso foi para Taylor Swift, que comemorou com entusiasmo o prêmio do seu amigo. São os dois primeiros Grammys da carreira de Sheeran, de 24 anos, depois de quatro anos indo à cerimônia.
Os prêmios do setor fonográfico têm categorias gerais, nas quais qualquer música concorre, e categorias por gêneros. Nesse sentido, os favoritos foram reconhecidos. Kendrick Lamar arrasou nas categorias de rap (melhor interpretação, melhor colaboração, melhor canção). Quando chegou a hora do prêmio geral de melhor álbum de rap, já era óbvio que To Pimp a Butterfly seria o trabalho do ano. O troféu foi entregue por Ice Cube, pai do gangsta rap de Compton, na zona sul de Los Angeles, de onde o próprio Lamar é oriundo. A atuação de Lamar mobilizou a plateia, com uma parte recriando uma prisão cheia de homens negros acorrentados, e outra homenageando o legado africano.
O Alabama Shakes fez o mesmo com três prêmios nas categorias de rock, que reconheceram esse grupo indie com o troféu de melhor canção roqueira do ano, superando grupos consagrados. Seu predomínio só foi rompido pelo Muse, com sua paranoia contra o domínio das máquinas (Drones), escolhido o disco de rock do ano. No country, predominou o trabalho de Chris Stapleton. Mas Taylor Swift não venceu nas categorias do pop, que ficaram com Ed Sheeran e com a canção de Mark Ronson e Bruno Mars. 1989 ganhou o prêmio de melhor álbum pop solo, de melhor clipe, para Bad Blood e, afinal, de álbum do ano. Três troféus em sete indicações.
Os Ganhadores do Ano
- 1989, de Taylor Swift (3 prêmios)
- To Pimp a Butterfly, de Kendrick Lamar (5 prêmios)
- Thinking Out Loud, de Ed Sheeran (2 prêmios)
- Sound&Color, do Alabama Shakes (3 prêmios)
- Uptown Funk, de Mark Ronson e Bruno Mars (2 prêmios)
- O Brasil teve um ganhador, com Made in Brazil, da pianista Eliane Elias (categoria Jazz Latino)
A maior sensação do mundo do R&B no último ano, The Weeknd, o nome artístico de Abel Makkonen Tesfaye, um canadense de ascendência etíope, triunfou nas categorias desse gênero, com os prêmios de melhor álbum urbano contemporâneo (Beauty Behind the Madness) e melhor interpretação R&B por Earned It, canção incluída na trilha de 50 Tons de Cinza. D’Angelo impediu que seu sucesso fosse completo, mas o álbum de The Weeknd fica confirmado como um dos imprescindíveis do ano.
Havia muitas homenagens a fazer. Stevie Wonder e o grupo Pentatonix ofereceram um momento emocionante ao cantar a capella That’s the Way of the World, como tributo a Maurice White, fundador do Earth Wind & Fire, que morreu neste mês. Os Eagles (com Jackson Browne) subiram ao palco para cantar Take It Easy em homenagem a Glenn Frey. Lady Gaga tentou se transformar em todos os David Bowie para fazer um pot-pourri de seus hits que pode servir como base para um futuro musical da Broadway. Apresentando-se como The Hollywood Vampires, Alice Cooper, Joe Perry e Johnny Depp recordaram um amigo das mesas de bar da Sunset Boulevard, Lemmy Kilmister, do Motorhead.
O troféu de Personalidade do Ano desta edição foi para Lionel Richie. Uma das grandes figuras do soul, ele já havia sido homenageado com um show-tributo no sábado, e na segunda-feira alguns sucessos seus foram apresentados por John Legend, Demi Lovato, Tyrese Gibson, Luke Bryan e Meghan Trainor. Richie, no palco cantando All Night Long com todos eles, foi um desses autênticos momentos Grammy.
Música Latina
A música latina decidiu há 16 anos montar sua própria sucursal da Academia Fonográfica, e desde então entrega seus próprios prêmios a toda a música em espanhol ou português gravada no mundo. Os Grammys originais, no entanto, conservam algumas categorias específicas de música latina. O melhor álbum de pop latino foi para Ricky Martin, por A Quien Quiera Escuchar. Concorria com Alejandro Sanz e Pablo Alborán. Arturo O’Farrill ganhou o prêmio de melhor álbum de big band jazzística (Cuba: The Conversation Continues) e aproveitou para agradecer no palco aos presidentes Barack Obama e Raúl Castro pela abertura das relações entre Washington e Havana.
Já o cantor Gilberto Gil não levou a estatueta de melhor álbum de World Music, com Gilbertos Samba Ao Vivo, mas o Brasil foi representado com a premiação da brasileira Eliane Elias, pianista radicada nos EUA, vencedora da categoria Jazz Latino, com o álbum Made in Brazil.
O disco Hasta la Raíz, da mexicana Natalia Lafourcade, que triunfou no Grammy Latino em novembro passado, também foi premiado nesta segunda-feira como melhor álbum latino alternativo. O prêmio foi ex aequo com Pitbull, uma raridade na cerimônia. O grupo Los Tigres del Norte levou o prêmio de melhor música regional mexicana (Realidades), e Rubén Blades, com a orquestra de Humberto Delgado, ganhou o de melhor álbum tropical (Son de Panamá).
Mais de 80 prêmios deixam muitas curiosidades. Justin Bieber ganhou o primeiro Grammy da sua carreira por Where Are Ü Now, como melhor gravação dance. Na categoria de discos falados, venceu o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, com Full Life: Reflections at Ninety. É o segundo Grammy dado a Carter, também ganhador do Nobel da Paz. O melhor álbum de comédia foi Live at the Madison Square Garden, de Louis C.K. Foi emocionante ver Buddy Guy receber o prêmio de melhor álbum de blues (Born to Play Guitar). Na sala de imprensa, ele negou ser o melhor guitarrista de blues (“os melhores já morreram, como B.B. King”, disse) e recordou que, quando jovem, ia várias vezes por semana ver Muddy Waters tocar, para aprender. O melhor disco de ópera do ano, segundo a indústria, é Ravel: L’Enfant et les Sortileges; Sherezade, do mastro Seiji Ozawa.
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