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Brasil colocará 220.000 soldados na rua contra zika

País recorre às Forças Armadas para matar o mosquito, que transmite a doença que causa a microcefalia

Agentes fazem a nebulização contra o mosquito no Sambódromo do Rio.
Agentes fazem a nebulização contra o mosquito no Sambódromo do Rio.Marcelo Sayão (EFE)
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O Brasil declarou guerra ao mosquito Aedes aegypti, transmissor do zika vírus, apontado como o responsável pelo aumento de casos de microcefalia, uma malformação cerebral em bebês. O país destacará 220.000 soldados das Forças Armadas para trabalhar na contenção dos focos de proliferação do mosquito, áreas com acúmulo de água limpa parada. Também serão distribuídos gratuitamente repelentes para 400.000 grávidas. Na semana passada, o Ministro da Saúde, Marcelo Castro, repetiu uma declaração que vem fazendo desde outubro do ano passado, e afirmou que o Brasil está “perdendo a guerra contra o mosquito”.

No ano passado, o país teve um número recorde de casos suspeitos de dengue, outra das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Foram, no total, 1,6 milhão de casos. Mas como os sintomas da dengue, do zika e do chikungunya (outro vírus transmitido pelo mesmo mosquito) são parecidos, muitos casos suspeitos de dengue podem ter sido, na verdade, uma infecção por zika. Este vírus tem sido apontado como o responsável pelo aumento de casos de microcefalia no Brasil, uma malformação cerebral em bebês que, suspeita-se, já atingiu 3.893 vítimas desde outubro. Não há dados precisos sobre o número de pessoas tiveram este novo vírus no país. Uma estimativa do Governo federal fala em algo entre 497.593 e 1.482.701 casos.

O grande número de casos de dengue é um indicativo de que, de fato, o Brasil tem perdido a guerra contra o mosquito. A grande preocupação do Governo neste momento é que os casos da doença costumam registrar um pico nos próximos meses, entre fevereiro e maio, que é quando mais chove no país. Com isso, os focos de água limpa parada aumentam e os mosquitos se proliferam mais. Fevereiro também é o mês do Carnaval no Brasil, época em que o país recebe um grande número de turistas. Há, ainda, uma grande preocupação com o cenário que se encontrará durante as Olimpíadas no Rio, que acontecem em agosto, quando o Brasil deverá receber pessoas de diversas partes do mundo, muitas delas que nunca tiveram contato com os vírus transmitidos pelo mosquito e, por isso, são completamente suscetíveis a uma infecção. Circulam no país quatro tipos de dengue e, quando uma pessoa se contamina com um dos tipos, fica imune a ele. O mesmo provavelmente acontece com o zika e com a chikungunya, mas ainda não se tem certeza de como essas doenças, relativamente novas, atuam no organismo.

Uma estimativa do Governo afirma que 80% dos focos de criação do mosquito estão dentro das casas das pessoas, em vasos de plantas e garrafas e pneus abandonados nos quintais, por exemplo. O Governo ainda estuda como será a atuação do Exército e deverá acertar os detalhes nesta próxima semana. Uma das possibilidades é que esses homens deem apoio aos agentes de endemia para entrar em casas onde houver mais resistência dos moradores. Segundo o ministro, o que já se sabe é que eles reforçarão as equipes de agentes de endemia, que costumam ser pequenas na maioria dos municípios, e vão entregar panfletos sobre o mosquito.

Polêmica

As declarações recentes do ministro da Saúde causaram mal-estar no Governo Dilma Rousseff. Marcelo Castro assumiu a pasta em outubro do ano passado, em meio a última reforma política feita pela presidenta para tentar conter a crise política. Médico de formação, ele era deputado federal pelo PMDB, maior partido no Congresso e que chantageia com frequência Rousseff em troca de cargos. Desde que assumiu, ele já fez algumas críticas à política de combate ao Aedes aegypti implementada pelo Governo federal, além de declarações polêmicas sobre a crise.

No início da epidemia de microcefalia no Brasil, ele afirmou, em 18 de novembro, que “sexo é para amadores, gravidez é para profissionais”, em referência a uma recomendação, feita extraoficialmente, de que as mulheres não deveriam engravidar neste momento. Em janeiro deste ano, ele afirmou que o país estava começando a estudar a possibilidade de desenvolver uma vacina contra o zika, mas que não seria possível vacinar todos os habitantes do país. “Vamos torcer para que as pessoas em período fértil peguem o zika antes”, afirmou.

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