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A metamorfose de Rakitic

Meia do Barça, antes centro do jogo no Sevilla, conquista o Camp Nou em um ano e meio

Jordi Quixano
Rakitc dribla Susaeta
Rakitc dribla SusaetaMIGUEL TOÑA (EFE)
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Ivan Rakitic (Möhlin, Suíça; 27 anos) foi o primeiro capitão estrangeiro do Sevilla depois de Maradona, à época já em baixa, com barriga saliente, mas ainda com liderança e bom futebol, como demonstrou com aquela bola de papel sobre a linha de fundo. O meia, nacionalizado croata pela origem dos seus pais, não tem esse talento superdotado sobre o gramado, por mais que mandasse no futebol do Sevilla, pois todos jogavam para ele, catapulta e ponto final, com 15 gols e 18 assistências há duas temporadas. Méritos que lhe valeram para assinar com o Barcelona, onde lhe exigiram que mantivesse sua personalidade, mas abrisse mão de parte do seu jogo, pois deveria se adaptar ao contexto, sem entrar tanto na área e envolvendo-se mais no jogo coletivo. De rei a serviçal, com a confiança cega de Luis Enrique e do elenco. “É normal, a gente entende e tenta ajudar o time”, garante Rakitic. “Em cada equipe você tem um papel diferente, mas o mais importante é entender isso e seguir em frente, mesmo que depois você queira ter um papel especial dentro do grupo.”

Não é por acaso que praticamente em todo jogo Rakitic é quem mais quilômetros se desloca, geralmente ficando com a cara vermelha pelo esforço. E isso que antes de cada partida come carboidratos e bebe de cinco a seis litros de água. “Minha mulher diz que mudo de aspecto, que fico mais chupado… Mas é verdade, termino esgotado”, conta o jogador. “Ele não para de correr. É uma verdadeira máquina”, observa seu colega Piqué. Para isso, cuida-se ao máximo. A cada dois ou três meses repassa um programa individualizado de trabalho que realiza em casa, adicional ao que já faz no CT do Barcelona. “Sempre tento trabalhar mais. Muito mais”, admite, acrescentando que, quando o calendário permite, se diverte jogando squash, tênis e até basquete.

A cada dois ou três meses repassa um programa individualizado de trabalho que realiza em sua casa, adicional ao que já faz no CT do Barça

Aproveita também, claro, a companhia da sua mulher e da filha Altea, feliz porque dentro de alguns meses virá uma irmãzinha que ainda não tem nome. Para relaxar, sai frequentemente para passear por Gavà Mar (município de Barcelona, onde mora) com seus dois cachorros, o labrador Bruno, de quatro anos e meio, e o spitz alemão Enzo, de um. Ou aprende um pouco mais de catalão, idioma no qual já se vira e que seria o oitavo do seu repertório, ao lado do castelhano, inglês, italiano, francês, alemão, alemão suíço e croata.

Em uma temporada e meia, totalmente adaptado à cidade e à equipe, Rakitic alterou em parte sua concepção do futebol. Antes, atacava; agora, faz de tudo. Soma 80 desarmes no Campeonato Espanhol, ou 4,2 por jogo, o que só o coloca, no Barcelona, atrás de Busquets (6), Piqué (5,7) e Alba (5,6). No entanto, está distante da artilharia de outros tempos, pois soma apenas dois gols no Espanhol e outros dois na Champions, além de quatro assistências na temporada.

O curinga de Messi

“No fim das contas, muita gente não vê, mas roubar uma bola também enche a gente de satisfação, porque significa fazer um trabalho que pode provocar uma chance de gol”, observa. “Não é a mesma coisa, mas é uma alegria, e eu gosto, porque isso ajuda a equipe. Tentarei continuar assim.” É uma dádiva para a lateral de Daniel Alves e Messi, frequentemente focados no ataque e mais distraídos da defesa do que deveriam. “Se for preciso correr 5.000 metros, que corramos, porque se jogamos para o Leo é porque ele conquistou e trabalhou. Também cubro o Dani porque às vezes é outro ponta. E se com isso eu voltar a ajudar a equipe, já está bom”, declara, apesar de admitir que o trabalho na defesa não lhe tira “a vontade de atacar quando der”. E Rakitic tem tamanha presença na equipe que neste Espanhol só deixou de disputar um jogo (foram 16 como titular, sendo 11 até o final, e 3 saindo do banco), por causa de uma lesão na panturrilha. Luis Enrique foi claro na ocasião: “Sua lesão altera nossos planos, por causa do nível que ele tem”.

Para Rakitic, a transformação é um processo adorável. “Se eu não me divertir no melhor clube do mundo, não vou me divertir nunca”, comenta. E, competitivo como é, adora pertencer ao Barcelona pelos títulos e taças, e também pela troca de camisas Europa afora, troféus que acumula numa cômodo da sua casa. “É meu minimuseu”, descreve, satisfeito. “Porque lá se vê refletido tudo o que eu faço no meu trabalho.”

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