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São Paulo Fashion Week faz 20 anos de volta às raízes da moda brasileira

São 29 desfiles no Inverno 2016 da principal semana de moda latino-americana Estilistas nacionais resgatam o aspecto artesanal das roupas, mas há várias propostas

Casal de modelos no desfile do mineiro Ronaldo Fraga.
Casal de modelos no desfile do mineiro Ronaldo Fraga.SEBASTIAO MOREIRA (EFE)

Quem acredita que a moda brasileira se confunde com biquínis e roupa de praia, ficou parado no tempo. Mais exatamente em 1995, quando o Brasil carecia de uma semana de moda que organizasse o calendário nacional de lançamentos e não havia qualquer plataforma para apoiar e divulgar os estilistas mais talentosos de país. O panorama mudou com a criação do São Paulo Fashion Week, hoje a maior semana de moda da América Latina, que apresenta tendências próprias (menos preocupadas com a Europa), conta com profissionais especializadas ao longo de toda a cadeia e tem inclusive um time de modelos que – mesmo após o adeus de Gisele Bündchen – é um dos melhores do mundo.

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No pique dessas conquistas, o evento comemora 20 anos de existência e realiza sua 40ª edição até esta sexta-feira, 23 de outubro, com desfiles que apresentam as coleções de inverno 2016 de 29 marcas nacionais. Nas passarelas – que hoje contam com maior presença de modelos negras e além do batido padrão das loiras de olhos azuis –, não faltam propostas. Do biquíni brasileiro, depurado no Brasil graças à cultura praiana que é forte mesmo no inverno (graças aos seus 10.000 quilômetros de costa) aos vestidos de festa, os criadores insistem em buscar uma identidade própria que seja atraente inclusive em nível global.

Look de Ronaldo Fraga, que defende o estilo e a indústria nacionais.
Look de Ronaldo Fraga, que defende o estilo e a indústria nacionais.NELSON ALMEIDA (AFP)

“A moda brasileira sempre buscou sua identidade para ser reconhecida dentro e fora do país, mas acho que essa discussão é interminável. O que temos, claramente, são contribuições brasileiras a uma moda que hoje é global. Para mim, a principal delas é o casualwear, representado pelo nosso jeans, que é um dos melhores do mundo”, opina a consultora de moda Gloria Kalil, responsável pelo primeiro site de moda do país, o Chic.

Ao jeans que é carro-chefe de coleções como a da Ellus e da Colcci, Kalil soma o aspecto artesanal das roupas, que está na raiz do estilo brasileiro, às tendências da temporada e aos trunfos nacionais – que, se há 20 anos era visto como sinal de uma moda folclórica, hoje vive um resgate (global). Uma coleção que segue essa linha é a de Ronaldo Fraga – estilista que tem o hábito de trabalhar com artesãos e defende uma produção 100% nacional.

O casualwear da Ellus.
O casualwear da Ellus.Fernanda Calfat (Getty Images)

Nem tão artesanal, nem excessivamente comercial, é o que – no Brasil, assim como no resto do mundo – quer a maioria. Na visão de Maria Prata, do canal Globonews, um sinal de maturidade da moda nacional é o maior diálogo que existe hoje entre as passarelas e o mercado. “As marcas que conseguem um equilíbrio entre o lado autoral e o comercial são as que estão se dando melhor no mercado”, diz a editora. Para ela, estilistas que fizeram carreira com o SPFW como Alexandre Herchcovitch, Oskar Metsavaht e Reinaldo Lourenço são expoentes da moda brasileira que transitam perfeitamente entre os dois lados da moeda. “Alexandre, que é um dos brasileiros conhecidos também no exterior, tem um universo pessoal riquíssimo e suas coleções refletem muito fielmente essa identidade”, afirma sobre o estilista que abriu a 40ª edição do evento com uma coleção rigorosa, que passeia com fluidez por duas de suas marcas, o punk e o pop.

Mas nem tudo são flores. Os efeitos da crise econômica que o Brasil atravessa no momento foram sentidos nos corredores da semana de moda paulistana. Além do evento ter tomado um formato menor, mais concentrado, fala-se do fim dos criadores médios, que desapareceram entre a moda de luxo e o fast fashion, e, inclusive, da falta de matérias-primas que o mercado brasileiro encara atualmente. “Em 1990, o presidente Fernando Collor de Mello abriu os portos do Brasil às importações de tecidos, que até então eram proibidas. Isso, sem prévio anúncio ou planejamento algum. Muitas empresas quebraram, e o setor têxtil nacional – que sempre foi um dos mais prósperos do país – não se recuperou desde então. Os tecidos passaram em grande parte a ser importados e, hoje, com o dólar a quatro reais, as coisas pioraram muito”, explica Gloria Kalil.

Complicado buscar identidade quando o próprio país não cuida bem da sua própria indústria.

Modelo negra desfila para Alexandre Herchcovitch.
Modelo negra desfila para Alexandre Herchcovitch.NELSON ALMEIDA (AFP)

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