‘Custo Cunha’ cresce, mas PSDB insiste em apoio por impeachment
Apenas um deputado tucano assinou pedido de cassação do presidente da Câmara


Nesta semana, deputados do PSOL e da Rede protocolaram um pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha pelo Conselho de Ética da Casa. Assinado por 50 dos 512 colegas do peemedebista, o documento se baseia nas afirmações de Rodrigo Janot de que o deputado tem contas secretas no exterior – o que ele sempre negou. Entre os apoiadores da uma ausência chamou a atenção: apenas um deputado tucano endossava o pedido, apesar de parte da bancada ter assinado nota cobrando Cunha pela Lava Jato. O movimento oscilante tem um motivo: a bancada do PSDB, empenhada na batalha pelo impeachment de Dilma, busca uma aliança tácita com Cunha, de quem depende a tramitação dos pedidos de impedimento. O custo Cunha, no entanto, está cada vez mais elevado, causa debate na sigla e provocam indignação de alguns parlamentares que cobram posicionamento dos caciques da legenda, mais cautelosos e medindo interesses de médio e longo prazo.
Nesta quinta, depois de a Procuradoria Geral da República pedir ao Supremo a abertura de novo inquérito contra o deputado, sua mulher e filha para investigar as contas suíças, o senador Aécio Neves buscou uma saída retórica para acomodar os novos desenlaces: "No momento em que essas denúncias em relação ao presidente da Câmara chegam e elas são gravíssimas, obviamente, cabe a ele se defender. E, obviamente, o PSDB não tem nenhum compromisso com eventuais irregularidades que possam ter sido cometidas por ele", afirmou Aécio, defendendo seu afastamento - não a cassação proposta pelo PSOL e Rede.
Justificou, ainda, a dobradinha com o deputado ao longo do ano. “Nós da oposição, tivemos em vários momentos nesse último ano, ano e meio, entendimentos com o presidente da Câmara dos Deputados que ampliou o espaço de atuação das oposições na Câmara. Tudo isso feito absolutamente à luz do dia. Isso é do jogo parlamentar", disse. Mas, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, desconversou quando questionado sobre o apoio ao pedido de cassação de Cunha feito à Comissão de Ética.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o secretário-geral do PSDB nacional, deputado Silvio Torres (PSDB-SP), afirmou que a agenda da oposição “não pode depender das reduzidas chances de sobrevida” de Cunha, e que “o processo de impeachment, se tiver respaldo jurídico e político, seguirá curso próprio".
Existe o jogo político: Cunha é a única pessoa que pode e tem condições de avançar no processo de impeachment”
Deputado delegado Waldir (PSDB)
Um dia antes, o senador e líder tucano Cássio Cunha Lima havia sido duro com a posição da legenda. Disse que seu partido está entrando em um “leilão de quem dá menos pela ética” em relação ao presidente da Câmara. “O Cunha está com a cabeça a prêmio e está vendo quem pode salvá-lo: o governo ou a oposição. Quem der mais leva. Enquanto isso, o país que se exploda”, afirmou.
Cabeças pretas
Enquanto isso, seguem na linha de frente pela saída da presidenta os deputados da legenda. Neves já deixou claro que o seu partido vai votar a favor do impeachment da presidenta caso o processo seja aberto na Câmara. Mas são outros colegas de partido os que articulam a luz do dia pelo processo. O deputado delegado Waldir (PSDB-GO) afirma que é necessário que Aécio mantenha mesmo um certo distanciamento. “Ele é ex-candidato à presidência, na posição dele não deve participar tão ativamente do impeachment no papel de senador”.
Waldir é crítico da moderação adotada por alguns caciques da sigla quanto ao impeachment. “Já vi algumas pessoas do partido que nem têm mandato em alguns momentos defendendo a presidente”, diz referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Vi algumas entrevistas dele que me surpreendem”. Para ele, falta a alguns tucanos “perfil e vontade política para participar com mais ênfase desse projeto [do impeachment], que não é um projeto do PSDB, é da população brasileira”.
Quanto a Cunha, o deputado não dissimula a importância do presidente da Câmara na luta pela saída de Dilma, ainda que o presidente peemedebista também esteja sendo assediado pelo Governo. “Se o PSDB até esse momento não tomou uma decisão mais ética”, afirma, "foi devido a duas razões". “Primeiro é preciso dar direito a que ele se defenda. E em segundo lugar existe o jogo político: ele é a única pessoa que pode e tem condições de avançar no processo de impeachment”. Waldir ainda pondera, dizendo que este tipo de relação não é inédita na Casa: “Nós convivemos com o Maluf, não convivemos?”.
A socióloga Fátima Pacheco Jordão acredita que a bancada da Câmara – que já foi apelidada de “os cabeças pretas do PSDB” por seu ímpeto – é um “segmento mais afoito, ousado do PSDB, que está jogando dama, e não o xadrez da política, que é um jogo mais complexo”. No tabuleiro da política atual, “eles não podem descartar o Cunha”. Nem o PSDB nem o Governo, que também tenta convencer o presidente da Casa do contrário: arquivar os pedidos de impeachment.
A socióloga acredita que a diferença de abordagem ocorre, entre outros motivos, porque “o impeachment tem menos aval da opinião pública do que a renúncia da mandatária”. Segundo ela, nesse momento parte das lideranças, principalmente do PSDB de São Paulo, “defendem efetivamente uma mudança de rumo mais suave, menos traumática, já que o protagonista de um impeachment, a médio prazo não se dá bem”. Fátima aponta que os tucanos paulistas, encabeçados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “estão com uma visão mais moderada”. Parte desta moderação, no entanto, decorre de interesses específicos dentro da legenda. “Para o governador Geraldo Alckmin, por exemplo, não interessa uma saída precipitada da chapa Dilma/Temer, já que ele é potencial candidato em 2018”, diz. Já para Aécio, diz cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, "o melhor cenário é que o Tribunal Superior Eleitoral barre a Dilma e o Temer e convoque eleições”.
O vice-líder da bancada tucana na Câmara, Nilson Leitão, negou a existência de uma aliança com Cunha: “existe aliança para o impeachment”. O deputado é claríssimo sobre a decisão de pagar o custo Cunha: “Não há como não fazer sacrifícios para um evento como cesse. Nosso adversários vão usar todas as armas, morais e imorais, para barrar o impeachment. Não dá para atravessar um lamaçal sem se sujar de lama”.
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