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‘Custo Cunha’ cresce, mas PSDB insiste em apoio por impeachment

Apenas um deputado tucano assinou pedido de cassação do presidente da Câmara

G. A.
Carlos Sampaio, líder dos tucanos na Câmara.
Carlos Sampaio, líder dos tucanos na Câmara.G. Lima (Ag. Câmara)

Nesta semana, deputados do PSOL e da Rede protocolaram um pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha pelo Conselho de Ética da Casa. Assinado por 50 dos 512 colegas do peemedebista, o documento se baseia nas afirmações de Rodrigo Janot de que o deputado tem contas secretas no exterior – o que ele sempre negou. Entre os apoiadores da uma ausência chamou a atenção: apenas um deputado tucano endossava o pedido, apesar de parte da bancada ter assinado nota cobrando Cunha pela Lava Jato. O movimento oscilante tem um motivo: a bancada do PSDB, empenhada na batalha pelo impeachment de Dilma, busca uma aliança tácita com Cunha, de quem depende a tramitação dos pedidos de impedimento. O custo Cunha, no entanto, está cada vez mais elevado, causa debate na sigla e provocam indignação de alguns parlamentares que cobram posicionamento dos caciques da legenda, mais cautelosos e medindo interesses de médio e longo prazo.

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Nesta quinta, depois de a Procuradoria Geral da República pedir ao Supremo a abertura de novo inquérito contra o deputado, sua mulher e filha para investigar as contas suíças, o senador Aécio Neves buscou uma saída retórica para acomodar os novos desenlaces: "No momento em que essas denúncias em relação ao presidente da Câmara chegam e elas são gravíssimas, obviamente, cabe a ele se defender. E, obviamente, o PSDB não tem nenhum compromisso com eventuais irregularidades que possam ter sido cometidas por ele", afirmou Aécio, defendendo seu afastamento - não a cassação proposta pelo PSOL e Rede.

Justificou, ainda, a dobradinha com o deputado ao longo do ano. “Nós da oposição, tivemos em vários momentos nesse último ano, ano e meio, entendimentos com o presidente da Câmara dos Deputados que ampliou o espaço de atuação das oposições na Câmara. Tudo isso feito absolutamente à luz do dia. Isso é do jogo parlamentar", disse. Mas, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, desconversou quando questionado sobre o apoio ao pedido de cassação de Cunha feito à Comissão de Ética.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o secretário-geral do PSDB nacional, deputado Silvio Torres (PSDB-SP), afirmou que a agenda da oposição “não pode depender das reduzidas chances de sobrevida” de Cunha, e que “o processo de impeachment, se tiver respaldo jurídico e político, seguirá curso próprio".

Existe o jogo político: Cunha é a única pessoa que pode e tem condições de avançar no processo de impeachment”

              Deputado delegado Waldir (PSDB)

Um dia antes, o senador e líder tucano Cássio Cunha Lima havia sido duro com a posição da legenda. Disse que seu partido está entrando em um “leilão de quem dá menos pela ética” em relação ao presidente da Câmara. “O Cunha está com a cabeça a prêmio e está vendo quem pode salvá-lo: o governo ou a oposição. Quem der mais leva. Enquanto isso, o país que se exploda”, afirmou.

Cabeças pretas

Enquanto isso, seguem na linha de frente pela saída da presidenta os deputados da legenda. Neves já deixou claro que o seu partido vai votar a favor do impeachment da presidenta caso o processo seja aberto na Câmara. Mas são outros colegas de partido os que articulam a luz do dia pelo processo.  O deputado delegado Waldir (PSDB-GO) afirma que é necessário que Aécio mantenha mesmo um certo distanciamento. “Ele é ex-candidato à presidência, na posição dele não deve participar tão ativamente do impeachment no papel de senador”.

Waldir é crítico da moderação adotada por alguns caciques da sigla quanto ao impeachment. “Já vi algumas pessoas do partido que nem têm mandato em alguns momentos defendendo a presidente”, diz referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Vi algumas entrevistas dele que me surpreendem”. Para ele, falta a alguns tucanos “perfil e vontade política para participar com mais ênfase desse projeto [do impeachment], que não é um projeto do PSDB, é da população brasileira”.

Quanto a Cunha, o deputado não dissimula a importância do presidente da Câmara na luta pela saída de Dilma, ainda que o presidente peemedebista também esteja sendo assediado pelo Governo. “Se o PSDB até esse momento não tomou uma decisão mais ética”, afirma, "foi devido a duas razões". “Primeiro é preciso dar direito a que ele se defenda. E em segundo lugar existe o jogo político: ele é a única pessoa que pode e tem condições de avançar no processo de impeachment”. Waldir ainda pondera, dizendo que este tipo de relação não é inédita na Casa: “Nós convivemos com o Maluf, não convivemos?”.

A socióloga Fátima Pacheco Jordão  acredita que a bancada da Câmara – que já foi apelidada de “os cabeças pretas do PSDB” por seu ímpeto – é um “segmento mais afoito, ousado do PSDB, que está jogando dama, e não o xadrez da política, que é um jogo mais complexo”. No tabuleiro da política atual, “eles não podem descartar o Cunha”. Nem o PSDB nem o Governo, que também tenta convencer o presidente da Casa do contrário: arquivar os pedidos de impeachment.

A socióloga acredita que a diferença de abordagem ocorre, entre outros motivos, porque “o impeachment tem menos aval da opinião pública do que a renúncia da mandatária”. Segundo ela, nesse momento parte das lideranças, principalmente do PSDB de São Paulo, “defendem efetivamente uma mudança de rumo mais suave, menos traumática, já que o protagonista de um impeachment, a médio prazo não se dá bem”. Fátima aponta que os tucanos paulistas, encabeçados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “estão com uma visão mais moderada”. Parte desta moderação, no entanto, decorre de interesses específicos dentro da legenda. “Para o governador Geraldo Alckmin, por exemplo, não interessa uma saída precipitada da chapa Dilma/Temer, já que ele é potencial candidato em 2018”, diz. Já para Aécio, diz cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, "o melhor cenário é que o Tribunal Superior Eleitoral barre a Dilma e o Temer e convoque eleições”.

O vice-líder da bancada tucana na Câmara, Nilson Leitão, negou a existência de uma aliança com Cunha: “existe aliança para o impeachment”. O deputado é claríssimo sobre a decisão de pagar o custo Cunha: “Não há como não fazer sacrifícios para um evento como cesse. Nosso adversários vão usar todas as armas, morais e imorais, para barrar o impeachment. Não dá para atravessar um lamaçal sem se sujar de lama”.

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