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Morre Henning Mankell, mestre sueco do romance policial

Autor era conhecido por sua série com o inspetor policial Kurt Wallander

Vídeo: El País Vídeo
Guillermo Altares

O escritor sueco Henning Mankell, mestre do romance noir (policial) nórdico e um dos narradores mais lidos e celebrados da Europa, morreu nesta segunda-feira em Gotemburgo, aos 67 anos, segundo informação divulgada por seu editor sueco. O criador do inspetor Wallander sofria de câncer há vários anos –um processo que ele viveu como um duelo cara a cara com a morte e que decidiu compartilhar no livro Kvicksand (areias movediças, inédito no Brasil).

Com as histórias do inspetor Wallander –algumas delas publicados no Brasil pela Companhia das Letras, como Assassinos Sem Rosto e O Homem Que Sorria–, o romance noir deu um enorme salto, tanto em temas como em leitores. Mankell não apenas foi um grande autor de romances policiais como também, através de seus relatos, traçou um retrato crítico da sociedade europeia contemporânea. Suas obras tratam de temas como a integração dos imigrantes, a violência de gênero e o profundo mal-estar que se oculta sob a aparente perfeição dos países nórdicos.

Seus romances, geralmente volumosos, apesar de poderem ser devorados em velocidades vertiginosas, venderam 40 milhões de exemplares no mundo todo. Mankell foi também um importante autor teatral e de livros infantis, e seu compromisso social foi muito além dos livros: dirigiu durante anos o Teatro Avenida, em Maputo (Moçambique), e entre suas principais obsessões estava o desenvolvimento da África. Ao todo, publicou 40 livros, que foram traduzidos para igual número de idiomas.

“São os outros que inventaram que a Suécia é uma utopia”, afirmou ele em uma entrevista a este jornal em 2005. “Lutamos contra os mesmos problemas que a Espanha e Portugal, com a única exceção de que nós nunca tivemos uma ditadura. Em meus livros tento transmitir uma imagem mais real da Suécia. É uma das sociedades mais decentes para se viver”.

Mankell, em uma imagem de 1 de junho de 2015, em Estocolmo.
Mankell, em uma imagem de 1 de junho de 2015, em Estocolmo.TT NEWS AGENCY (REUTERS)

Segundo sua editora na Suécia, a Leonhart, que o próprio Mankell fundou em sociedade com Dan Israel, o autor morreu durante a noite. Deixa a esposa, Eva Bergman (filha do falecido cineasta Ingmar Bergman), e um filho, Jon. “A solidariedade com quem precisava de ajuda percorre toda a sua obra e marcou suas ações até o final de seus dias”, disse a editora em nota.

Em certa medida, o inspetor Kurt Wallander pode ser considerado um alter ego do próprio Mankell. “Wallander e eu não nos parecemos muito. Só temos três coisas em comum: a mesma idade, gostamos de ópera italiana e trabalhamos muito”, afirmou ele na entrevista ao EL PAÍS. Entretanto, ambos compartilham uma visão sombria da sociedade onde vivem, embora isso não os impedisse de atuar para melhorá-la.

O inspetor, que foi interpretado por Kenneth Branagh em uma das séries de televisão inspiradas nos seus livros, é um workaholic que luta não só contra os criminosos, mas também contra o próprio sistema, resolvendo casos que afinal revelam o profundo mal-estar que pulsa sob a superfície da Europa.

Apesar de não ter sido o primeiro autor noir a cruzar as fronteiras nórdicas, tornou-se um fenômeno literário na década de noventa, ocupando estantes de livrarias em meio mundo desde então.

Em Kvicksand, Mankell recriou o arco da sua vida através de várias descobertas que marcaram sua existência pessoal, coletiva e literária. O livro é um quebra-cabeça de histórias onde ele relata que as lembranças infantis e juvenis lhe serviram para confrontar a doença que o atingiu na maturidade. “Talvez eu não me atrevesse a pensar no futuro. Era um território incerto, minado. Então eu voltava continuamente à infância”, escreveu.

Mankell nasceu em Estocolmo, em 3 de fevereiro de 1948, mas passou grande parte da sua infância na comunidade rural de Sveg, para onde seu pai, que era juiz, foi transferido. Foi tripulante de navios mercantes na adolescência e começou sua carreira literária como autor teatral, mas só começou a publicar os romances do inspetor Wallander em 1991, quando já tinha 43 anos.

Os 11 primeiros romances do personagem se passam na cidade sueca de Ystad, onde atualmente há itinerários dedicados a Wallander. A série termina com Den Orolige Mannen (lançado em Portugal como O Homem Inquieto, mas inédito no Brasil), em que o inspetor se aposenta e passa o bastão à sua filha Linda, protagonista do 12º. romance da série, Innan Frosten (antes da geada).

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