Planalto faz aceno a Lula e age para conter danos com movimentos sociais
Escolhas agradaram ao ex-presidente, que atua para evitar mais estragos ao partido
A foto mais simbólica dessa reforma ministerial foi feita por Ueslei Marcelino, da Reuters, nesta quinta-feira. A presidenta Dilma Rousseff caminha com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, seguida pelo ex-presidente Lula e o ex-tesoureiro de sua campanha, Edinho Silva. Atrás, sozinho, vem Aloizio Mercadante, o então ministro da Casa Civil que desagradava a aliados petistas e peemedebistas, mas era mantido por Rousseff por ser um dos seus homens de confiança.
Mercadante perdeu o cargo. E Dilma Rousseff percebeu que precisa sair do tão criticado isolamento para conseguir governar. O grande vitorioso nesta mudança ministerial foi, sem dúvidas, o PMDB, que ganhou mais pastas. Mas o PT, apesar de ter perdido três cargos, recebeu um aceno de Rousseff, especialmente às vontades de Lula.
Na avaliação dos petistas, o partido vive situação delicada e que só se agrava na esteira dos problemas do Governo. Para sair do impasse, repetem que sem resolver a crise política se torna impossível resolver a crise econômica e lembram que as duas crises aliadas facilitam o caminho em direção ao impeachment. Por isso, Lula voltou à linha de frente para tentar cuidar da imagem do partido e da sua própria, quando ele já cogita publicamente concorrer à presidência em 2018. Não por acaso, Lula tem sido mais atacado pela oposição, o que não deve aliviar agora que ele deve passar pelo constrangimento de ser ouvido, mesmo com informante, na Operação Lava Jato.
Para tomar o pulso da situação política, o ex-presidente conseguiu emplacar, finalmente, o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, na Casa Civil, algo que almejava desde o início do mandato de Rousseff, quando ela optou por Mercadante, um nome que desagradava tanto a Lula quanto aos peemedebistas. Sua dificuldade para transitar no Congresso era vista como um dos fatores responsáveis pela crise política da presidenta. Mercadante migrou para a Educação, de onde saiu Renato Janine Ribeiro, um intelectual que assumiu a pasta em abril.
Outro nome próximo a Rousseff, Miguel Rossetto, um dos principais nomes da Democracia Socialista, corrente petista mais à esquerda, foi para o novo Ministério do Trabalho, que se uniu ao da Previdência Social. Não é um bom momento por causa dos cortes e das pressões para novas mudanças na Previdência. Ainda assim, o controle da pasta pelos petistas, até então reduto do PDT, foi vista como um alento por promover, potencialmente, o alinhamento com as políticas sociais do Governo implementadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social, de Tereza Campello..
Contenção de danos com movimentos sociais
Ninguém, entre petistas e ativistas, tinha esperanças de que o frágil Governo resistisse aos avanços do PMDB, mas integrantes dos movimentos sociais temiam que conquistas simbólicas, como os ministérios ligados a minorias, fossem simplesmente limados das Esplanadas. Seria mais um desgosto a engolir para lideranças já descontentes com os cortes orçamentários e com a política econômica que consideram conservadora.
Para tentar minimizar esse desgaste, Rousseff atendeu a alguns apelos. Entre eles, o de movimentos que reclamavam da possível criação do Ministério da Cidadania, que seria uma fusão de três secretarias com status ministerial: Políticas para Mulheres, Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Direitos Humanos. A ideia inicial era que esse novo ministério fosse dado a Rossetto, o que desagradava os movimentos negro, feminista e de direitos humanos.
A solução para o impasse ainda era um mistério até a manhã desta sexta. A presidenta decidiu, então, desistir do nome “Cidadania”, que para os movimentos era genérico e não contemplava o conteúdo das políticas das três pastas. O novo ministério surgiu, mas seu nome será composto pela nomenclatura das três áreas. Rousseff também optou por manter como ministra uma mulher negra, Nilma Lino Gomes, a primeira reitora de uma universidade federal. A escolha foi considerada de importância simbólica pelas entidades que antes reclamavam.
Num cenário tão crítico, houve até espaço para alívio na escolha da pasta da Saúde, que passou para a cota do PMDB. Durante a semana, a possível indicação do deputado Manoel Junior para a pasta havia sofrido a pressão de entidades, que o criticavam por ter sido receptor de um grande volume de doações de empresas privadas de saúde. Já chamado de “ministro” pelos corredores da Câmara, o parlamentar acabou desconsiderado. No lugar assumiu Marcelo Castro, outro deputado peemedebista. Ele, ao menos, ficou famoso ao peitar um desafeto desses grupos, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na reforma política.
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