_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Derrota e vitória

As eleições na Catalunha são para o separatismo um triunfo eleitoral e um fracasso plebiscitário

Ninguém pode ignorar este resultado. Todos, incluindo o Governo, precisam reagir. As eleições realizadas na Catalunha foram tremendamente significativas. Apesar da confusão a respeito do caráter da convocação (plebiscito ou eleição); apesar do fato, desestimulador do voto, de ser feita durante uma emenda de feriado na grande Barcelona (o território menos secessionista), e apesar da baixa qualidade do debate, o nível de participação foi extraordinário, representando um recorde histórico para eleições de cunho autonômico.

De fato, a participação superou não só a de 2012, mas a de todas as convocatórias anteriores deste teor. Além disso, houve nas urnas uma variadíssima gama de opções, e aumentou o número de votantes em todas as circunscrições, urbanas e rurais, de catalães de sempre e de novos catalães. Tudo isso outorga às eleições deste domingo na Catalunha um invólucro político que deve acarretar grandes consequências.

Quais? O presidente que deixa a Generalitat, Artur Mas, definiu-as como eleições plebiscitárias: “Queríamos um plebiscito e é o que teremos”, disse no encerramento da campanha; estas eleições “serão vistas como um plebiscito”, insistiu neste domingo. E o líder do separatismo antissistema, Antonio Baños, acrescentava que “é preciso” atingir pelo menos “50% dos votos, porque estas eleições são um plebiscito”.

Como este jornal ressaltou antes da realização da eleição, o pretendido caráter de plebiscito para a independência era enganador, pela natureza da convocatória (votava-se em partidos, não numa única questão) e pela falta de competência jurídica para isso por parte do convocador.

Com quase 100% dos votos apurados, as forças (contraditórias entre si) partidárias da secessão não chegavam nem perto da metade dos votos. Mas é evidente que a cidadania catalã se mostrou severamente fraturada em dois blocos, de diferentes, mas semelhantes, dimensões. Como o plebiscito desejado por seus organizadores, portanto, os separatistas perderam nitidamente a partida. É um fator fundamental, especialmente na arena internacional. Acima de tudo caso se considere que em casos assim são exigidas não somente maiorias simples, mas reforçadas (Montenegro, nas instâncias da UE; Quebec, do Tribunal Superior do Canadá), o que é lógico em questões transcendentais.

Contudo, como eleições de importância especial, tivera resultado contundente a favor do independentismo. Em cadeiras, lembrando que um voto barcelonês vale duas vezes e meia um leridano, Junts pel Sí (Juntos pelo Sim) vence com folga, muito acima da ascendente e meteórica obtenção do segundo lugar pelo Ciutadans (Cidadãos, que desbanca o PP, convertido em força menor), e do valoroso terceiro lugar do PSC, que tantos consideravam sem esperança. O que dá ao Junts legitimidade para continuar sua estratégia pró-independentista, sempre que o faça atendo-se estritamente à legalidade.

Está certo que seu resultado empalidece porque consegue muito menos assentos que a soma anterior de Convergência e Esquerda. E porque precisará do concurso da imprevisível formação antissistema CUP para recolocar como presidente seu número quatro, Mas. Entretanto também é certo que qualquer outra opção parece dificílima, se não impossível.

Por tudo isso, e porque muitos votos de outras listas exigem melhora do autogoverno, ninguém, nem mesmo o Governo central, pode fazer ouvidos moucos ao resultado. Precisa reagir com urgência, oferecendo canais de diálogo e vias de solução capazes de responder ao desejo de mudança manifestado solidamente pelos catalães: vias de solução com a assinatura do Governo, que não pode continuar cedendo a iniciativa aos tribunais de Justiça.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_