Desemprego no Brasil cresce e a fila por uma vaga dobra a esquina
Segundo IBGE, desemprego saltou de 5% para 7,6% entre agosto de 2014 e este ano
Sob um sol forte e mais de 30 graus, Natali dos Santos Garcia, 37, esperava juntamente com a filha, Natasha Garcia, 18, a porta se abrir. Elas estavam em uma fila na parte de fora de um supermercado na zona oeste de São Paulo para que Natasha participasse de uma seleção de emprego. Ali, uma equipe seleciona funcionários para todas as unidades de uma rede de supermercados da cidade. O processo de seleção acontece durante o ano todo, mas a fila que tem dobrado a esquina todos os dias tem chamado a atenção.
Nesta quinta-feira, com o dólar atingindo a marca de 4,24 reais, o IBGE divulgou os números relacionados ao desemprego.De acordo com o levantamento, 313.000 pessoas a mais estão desocupadas em São Paulo de agosto do ano passado a agosto deste ano, totalizando 835.000 pessoas somente na capital paulista. No Brasil, no mesmo período, o desemprego cresceu de 5% pra 7,6% da população. Com esse aumento, muitos estabelecimentos que recebem currículos estão vendo a quantidade de candidatos aumentar.
"Nunca vi uma fila deste tamanho", gritou uma senhora que passava pela calçada. "Moro aqui há 20 anos e nunca vi isso. É esse governo!", reclamou. "Esta fila está maior do que a do Poupa Tempo", disse Samuel Viana, 26, um dos candidatos, citando o serviço público estadual para fazer documentos. "Já trabalhei nesta loja e nunca vi uma fila deste tamanho". Samuel é um ex-funcionário do supermercado, onde trabalhou como açougueiro por um ano e nove meses. Saiu para tentar trabalhar como taxista, mas a troca não compensou e agora tenta reconquistar seu antigo posto. Mas encontrou mais concorrência do que esperava.
Samuel vive com a esposa e o filho de um ano e meio no bairro do Ipiranga. Diz que quer voltar a trabalhar no supermercado, mas só volta se for para exercer a função de açougueiro de novo. "Essa função paga mais", diz. "Paga 1.500 reais".
Mas nem ele nem ninguém na fila sabiam qual era o salário, a função, ou quantas vagas estavam abertas. Os amigos Guilherme Moreno Sanches e Rafael Dener Alves, ambos com 21, foram juntos para a seleção. Eles estão desempregados e disseram que recebiam em torno de 1.500 reais no último emprego. "Se essa vaga pagar menos, vamos receber menos, ué", diz Guilherme, que também não sabe de quanto é a remuneração oferecida. "Estou procurando emprego desde dezembro. Uma hora tem que dar certo".
Os candidatos que saíram da seleção contaram à reportagem que só depois de passar por uma prova que inclui português, matemática e conhecimentos gerais, passaram por uma entrevista onde o os candidatos são informados se há vagas para alguma unidade da rede no bairro onde vivem. Se não houver, voltam para casa deixando seus dados no banco de currículos da companhia. Foram informados que o salário é de 1.085 reais para quem conseguir uma vaga.
A fila é formada duas vezes por dia, de segunda a quinta-feira. Os primeiros candidatos começam a chegar às seis da manhã. Às oito, a porta se abre e a primeira leva de candidatos entra. A porta se fecha e só abre novamente às 13h, quando a segunda leva de entrevistas é feita. Quem chega pouco depois das oito, quando a porta já está fechada, tem que esperar até a uma da tarde.
Erica dos Santos Silva, 24, era uma das pessoas que estavam esperando. Estava há duas horas e meia na fila, mas ainda eram onze da manhã. Ela só seria atendida dali a duas horas. "Nunca trabalhei com carteira assinada, só fazendo bico. As pessoas chamam a gente para um trabalho temporário, dizem que vão contratar, mas não contratam", contou ela. "Agora a coisa está apertando e eu preciso de alguma coisa fixa". Ela vive em Sapopemba, zona sul da cidade, a uma hora e meia dali, com o marido e a filha, de três anos. "Desde o final do ano passado, os preços de tudo estão subindo muito depressa".
Elizabeth dos Santos Lopes, 19, tentava um lugar na sombra enquanto a fila se formava. Estava ali com o marido, que foi acompanhá-la. Está procurando emprego há três meses. "A situação está horrível", disse ela. "Lá em casa, cortamos um monte de coisa da lista de compras. Chocolate, bolacha, essas coisas não compramos mais".
Michael Herrison, 19, estava ao lado de Elizabeth na fila e contou que está passando pela mesma situação. "Tudo está mais caro agora", disse ele. "Onde mais gastamos dinheiro é no supermercado e no açougue e está bem difícil de comprar as coisas", contou. "Parece que quanto mais a gente trabalha, mais a gente paga. Alimentação é o que está mais difícil de comprar", concordava a mãe de Natasha, Natali Garcia.
Após algumas horas na fila, a porta se abre. Pontualmente às 13h. Quase todo mundo entra, mas a porta se fecha às 13h07 com cerca de 20 candidatos ainda do lado de fora. Um funcionário simpático sai e fala com eles. "Tenho 80 lugares para realizar os testes e coloquei mais 15 lugares de improviso", diz. "Só temos mais 15 lugares. Quem quer entrar?". A vaga é para trabalhar das 14h às 22h20, segundo o funcionário explica.
Bruno Vinicius Lino, 23, é um dos que ficaram do lado de fora. Ele faz um curso técnico em administração no período noturno, por isso o horário da vaga não é compatível com o de suas aulas. O estudante trabalhava em uma loja na mesma rua que o supermercado, mas o estabelecimento fechou recentemente. "Haviam dito que as vagas eram para todos os horários, por isso eu vim", disse ele, que nem chegou a entrar na sala. Deu meia volta e desceu para o ponto de ônibus.
Natasha e a mãe mal entraram pela porta e também foram embora. O horário de trabalho também é o mesmo da escola de Natasha. Elizabeth e o marido também não ficaram mais de cinco minutos ali dentro. "Esqueci minha carteira de trabalho em casa", disse ela. "Mas amanhã cedo estarei aqui de novo".
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