Fla-Flu na Paulista: Caberemos todos na avenida ocupada?
Militantes petistas e os contra a corrupção batem boca em torno do boneco do Lula inflado
“Por que o Lula? Por que não tem um boneco do Cunha ou do Aécio, que são acusados de corrupção?”, questionava Janice Ferreira, enrolada em uma bandeira do PT na esquina da avenida Paulista com a rua Peixoto Gomide, neste domingo. “Estou aqui porque quero que respeitem o meu voto”. Enquanto ela falava, um coro gritava "Lula, guerreiro do povo brasileiro" e "o Lula voltou". Vaias eram ouvidas, bate-boca e os ânimos aquecidos debaixo de um sol de 35 graus, inusual para um mês de agosto. No meio do empurra-empurra, estava o Lula inflado. Um boneco gigante, com a cara do ex-presidente em uma roupa de presidiário, com o desenho de uma placa 13-171, em referência ao artigo que descreve na lei o crime por estelionato. O clima das discussões era o famigerado Fla-Flu. Com o surrada debate sobre ricos contra pobres.
O Lula inflado foi colocado na avenida Paulista por militantes de movimentos anti-corrupção, como o Vem Pra Rua. Esses grupos, porém, são criticados por erguerem essa bandeiras, mas colocarem ênfase apenas nas denúncias aos desvios petistas. Na última manifestação contra o Governo no dia 16, por exemplo, não houve uma menção a Eduardo Cunha, do PMDB, acusado de achaques para obter propina da Petrobras. Os gritos contra a corrupção miravam Lula, e também o senador Renan Calheiros, que na visão dos líderes das manifestações, teria fechado um acordo com Dilma para protegê-la e salvar-se das denúncias da Lava Jato que também chegaram a ele.
Sob o sol forte, ele estava protegido por um cercadinho e ficaria ali até as 14h, quando seria murchado e levado embora. Mas antes disso, um grupo de militantes a favor do PT chegou contestando a ação. Cerca de 100 pessoas, entre anti-governo e pró-governo estavam ali. “Fora Cunha", "Aécio é quem deveria estar ali" e "cadê a água?, por que ninguém pergunta isso?", eram alguns dos questionamentos dos militantes a favor do Governo, lembrando da crise hídrica no Estado de São Paulo comandado pelo PSDB. "Nosso movimento é contra a corrupção, mas eles entendem que é contra o Governo", argumentou Ricardo, militante dos movimentos anti-corrupção, que não quis dizer seu sobrenome. Ele se manteve sereno, embora chateado. "Tenho família e não tenho dinheiro para contratar segurança. Prefiro não dar meu sobrenome", disse à reportagem. "Eles não têm capacidade de compreender e nem querem compreender o nosso movimento", disse, sobre os militantes petistas.
A esquina da avenida se dividiu entre camisetas amarelas, anti-governo, e vermelhas, pró-governo. Ainda com o cercadinho montado em torno do Lula já desinflado, o bate-boca se inflamou. Houve empurra-empurra e princípio de tumulto, mas ninguém saiu ferido. "Essas racistas me chamaram de macaca", disse Janice Ferreira. 'Racistas não passarão', gritou o coro ao redor. A Polícia Militar estava de prontidão, mas não houve confronto.
"Por que você acha que esse espaço é de vocês?", perguntava uma moça em cima de uma bicicleta, a Ricardo. "Nós não achamos que o espaço é nosso, mas escolhemos esse ponto primeiro, chegamos primeiro. Não significa que o ponto é nosso", respondeu à garota. Ricardo explicou que já estava combinado com a Prefeitura que o boneco do Lula ficaria somente até às 14h. "Mas se eles [os militantes petistas] chegassem antes desse horário, nós desmontaríamos antes. Esse embate é ruim para o país".
O assunto chamou a atenção de quem passava por ali. "Estava tudo bem, eles estavam colhendo assinaturas pró-impeachment, mas aí esse pessoal [pró-Lula] chegou e começou o tumulto", disse Diogo Almeida, morador dos Jardins. "Eu não sou de movimento nenhum. E aqui ninguém tem partido. Só que tinha o boneco do Lula preso, e eles se ofenderam".
Neste domingo, alguns movimentos sociais da cidade convocaram uma ocupação na avenida Paulista para pressionar o poder público a fechar a avenida todos os domingos para os carros. Entre ciclistas, cachorros, carrinhos de crianças, Lulas inflados e bandeiras vermelhas, a questão é se a avenida comportará tantos gregos e troianos. Ou melhor, se o paulistano se comportará na avenida, que até então recebia da Marcha para Jesus à Parada do Orgulho LGBT, e agora também é palco de atos contra e a favor do Governo.
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