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O que um cosmético nunca poderá fazer por você

Avanços da ciência sobre envelhecimento vão demorar a chegar aos cosméticos

Getty Images /Jamie Grill

Em um estudo publicado este ano, a empresa de cosméticos Olay anunciou a descoberta da impressão digital genética das mulheres cuja pele parece não envelhecer. O trabalho, apresentado no Congresso Mundial de Dermatologia realizado em Vancouver (Canadá) em junho passado, observou mulheres de 20 a 70 anos e identificou variantes genéticas e de outros tipos destas privilegiadas. O estudo foi liderado por Alexa Kimball, professora de dermatologia na Faculdade de Medicina de Harvard (EUA). Depois de analisar 20.000 genes, foram identificados 2.000 que, embora também estejam presentes no restante da população, se expressavam de forma diferente entre as “eternamente jovens”.

O estudo constatou que o trabalho desses 2.000 genes identificados afeta a capacidade das células para reparar o DNA, produzir antioxidantes e outros fatores relacionados com o envelhecimento. Para Rosemarie Osborne, pesquisadora da empresa Procter & Gamble, saber por que esses genes agem de forma diferente em algumas mulheres “pode permitir que os pesquisadores ajudem mais mulheres a conseguir uma pele que parece ser a exceção e não a regra em qualquer fase da vida.”

O estudo é cientificamente sólido, mas o salto sugerido entre o conhecimento adquirido e a possibilidade de melhorar seus produtos não é tão simples. “Parece um trabalho ambicioso e cumpriram a parte descritiva utilizando as últimas tecnologias. Agora vem a parte mais difícil, que é encontrar maneiras de rejuvenescer a pele”, afirma Manuel Serrano, chefe do Grupo de Supressão Tumoral do Centro Nacional de Investigações Oncológicas (CNIO), de Madri (Espanha), e especialista no estudo dos mecanismos relacionados ao envelhecimento. Serrano, que participou de pesquisas que descrevem as causas da deterioração biológica que ocorre com o passar do tempo, conhece a grande distância que existe entre conhecer um processo e ser capaz de manipulá-lo. Por enquanto, nenhuma estratégia tem se mostrado eficiente no prolongamento da vida humana.

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Isso não desanima a indústria de cosméticos. Elio Estévez, responsável pela comunicação científica da Procter & Gamble Beauty, diz que sua empresa quer “identificar moléculas que sejam capazes de modificar vias metabólicas ou bioquímicas para que uma pele não excepcional se comporte como excepcional”. Para conseguir isso, são realizados testes em cultivos de laboratório para expô-los a diferentes componentes com o objetivo de selecionar os efeitos desejados. De acordo com Estévez, eles buscam moléculas capazes “de retardar os genes ativados nos processos de envelhecimento e fazer com que o DNA se comporte como um RNA mensageiro”.

Além da possibilidade de conseguir manipular o material genético da pele para evitar seu envelhecimento e apesar do que é sugerido em alguns anúncios (que introduzem o DNA ou as células-tronco como um atrativo), um produto que possa alterar o DNA deixaria de ser um cosmético. “A ação dos produtos cosméticos, por sua própria definição, deve sempre se limitar à camada superficial da pele (epiderme) ou da mucosa oral. Alegações de mudança na expressão do gene ou ação sobre o funcionamento das mitocôndrias devem ser avaliadas com cuidado, porque em nenhum caso um cosmético poderia produzir uma alteração do material genético ou das células que podem afetar as funções fisiológicas do corpo”, segundo informações da Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos de Saúde. “Quando um produto realiza a modificação das funções fisiológicas através de mecanismos de ação tipo imunológica, metabólica ou farmacológica, estaríamos falando de remédios”, acrescenta a Agência.

Os cosméticos, por lei, não podem agir sobre a expressão genética ou o DNA de uma pessoa

“Na dermatologia, para aplicações médicas, tais como o tratamento da epidermólise bolhosa (a doença conhecida como pele de borboleta), estamos estudando maneiras para reverter uma determinada expressão genética, mas não acho que isso será aplicado à cosmética por enquanto” diz Bibiana Pérez, dermatologista do Hospital Ramón y Cajal e membro da Academia Espanhola de Dermatologia. “São precisos muitos testes científicos, acho que vai demorar muito”, acrescenta. Em sua opinião, o interesse de estudos como o realizado pela Olay pode ir mais na direção dos cosméticos personalizados. “É possível ver as mudanças que ocorrem com a idade e como variam segundo a raça, depois analisar quais são os pontos fracos da pele de uma pessoa. Por exemplo, se você tiver dificuldade para neutralizar o estresse oxidativo, aplicar um cosmético para ajudar”, diz. Sobre os testes aplicados aos cosméticos, Pérez explica que, embora sejam feitos estudos controlados, estes “não são universalmente reconhecidos”, e há uma parte importante da percepção subjetiva do paciente e do médico que faz a avaliação.

A ação dos produtos cosméticos, por sua própria definição, deve sempre se limitar à camada superficial da pele

Embora sejam feitas pesquisas de qualidade como a financiada pela Olay, os produtos da indústria de cosméticos não estão sujeitos aos controles dos remédios e afirmações como “clinicamente testado” não significam que tenham passado por controles rigorosos. É semelhante à homeopatia, na qual os fabricantes apenas devem garantir sua qualidade e segurança. A eficácia só deve ser demonstrada na minoria dos casos em que uma indicação terapêutica é declarada.

Para quem quiser manter a esperança de que pelo menos parte do processo natural de envelhecimento esteja sob seu controle, a Academia de Dermatologia dos EUA afirma que os dois produtos anti-idade mais eficazes que os consumidores podem comprar são cremes hidratantes e protetores solares de amplo espectro, e que o ingrediente secreto em muitos cremes antienvelhecimento é um bom creme hidratante.

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