_
_
_
_

China aprofunda a depreciação do real e de outras moedas da América Latina

Investidores fogem do risco e fazem divisas caírem a valores mínimos em mais de 10 anos

Bolsa de Tóquio.
Bolsa de Tóquio.KIYOSHI OTA (EFE)

O grosso das moedas latino-americanas voltou a sofrer severos empurrões no baile cambial no princípio desta semana, aprofundando uma tendência de baixa que já dura vários meses. O dólar, a moeda de referência, não só aguenta o temporal, mas está cada vez mais fortalecido. O peso mexicano e o colombiano, bem como o real brasileiro, rondam níveis mínimos de mais de uma década em relação às verdinhas. Ao desabamento do preço das matérias-primas e à esperada elevação das taxas de juros nos EUA se somaram agora as turbulências financeiras na China. Diante do nervosismo nos pregões e o aumento da volatilidade, os investidores optam por se refugiar em portos seguros – dólar, euro, dívida europeia –, acentuando ainda mais a debilidade das moedas latino-americanas.

Mais informações
Freada chinesa já cobra fatura no real e nas exportações do Brasil
China faz maior desvalorização de sua moeda em duas décadas
Dúvidas sobre a China afundam cotações de moedas emergentes
Com desvalorização do yuan, cotação do dólar passa de R$ 3,50
OCDE alerta para a debilidade econômica da China e do Brasil

Todas as bolsas mundiais caíram com força durante a jornada de segunda-feira, arrastadas pelas dúvidas suscitadas pela economia chinesa. A freada da segunda economia do mundo parece que será mais profunda do que o esperado, e a ameaça de uma tripla derrocada chinesa – creditícia, imobiliária e no mercado de ações– está provocando ajustes nas placas tectônicas do mundo financeiro. "A China ainda se encontra longe de uma recessão, mas os mercados de capitais asiáticos já começaram a reagir negativamente às menores expectativas de crescimento. Seus dois principais índices acumulam uma perda mensal de 13% e 19%, respectivamente", alerta a diretora de análises do Banco Base.

O real cedeu mais de 30% frente ao dólar este ano, o peso mexicano perdeu 20%, o peso argentino, 10%, e o colombiano, mais de 30%. "A percepção de uma maior debilidade da economia chinesa afeta em especial a América Latina. Países como Peru, Brasil e Colômbia basearam grande parte de seu crescimento na exportação de matérias-primas ao país asiático. Esse motor de crescimento já não voltará a se reproduzir, e isso se nota em suas divisas", explica Carlos Serrano, economista-chefe do BBVA Bancomer. O exemplo mais claro é o Brasil, a principal potência da região, de quem se espera uma contração de 2% para este ano. "O Brasil sofre muito as consequências por ter a China como seu principal parceiro comercial. É o maior comprador de commodities", afirma a economista Camila Abdelmalack, da Capital Markets.

O real perdeu mais de 30% frente ao dólar este ano, o peso mexicano perdeu 20%, o peso argentino, outros 10%, e o colombiano, 30%

A forte volatilidade dos mercados financeiros globais fez o dólar renovar sua máxima em 12 anos e fechar, nesta terça-feira, negociado a 3,608 reais na venda. Não bastasse os fatores externos, o noticiário político conturbado também colaborou com a alta de 1,57% da moeda americana.

A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, manifestou, nesta semana, sua preocupação com o futuro da economia brasileira e afirmou que ainda não é possível estimar o impacto da crise chinesa. "Estamos diante de uma retração do mercado internacional da qual não se sabe a dimensão, não se sabe. Vamos ter que lidar com a desaceleração internacional", afirmou em entrevista a jornais brasileiros publicada no O Globo. Nesta terça-feira, a presidente reiterou que não tem como garantir que a situação em 2016 "vai ser maravilhosa". "Não vai ser, muito provavelmente não será", afirmou em entrevista para rádios de Catanduva e Araraquara, no interior de São Paulo.

Os preços das matérias-primas começaram a cair há um ano, precisamente, pela redução do ritmo da demanda chinesa. Aliadas à anemia europeia, as novas dúvidas sobre o apetite do maior dos consumidores levaram o índice que engloba as cotações das principais matérias-primas –ouro, petróleo, milho, cobre, soja e prata – a cair a mínimos de 16 anos atrás. Empurrando com força a balança aparece o petróleo. O barril do Brent e o do Texas, referência na Europa e EUA, estão em patamares de seis anos e meio atrás.

Enquanto isso, a moeda da economia norte-americana, orientada para a recuperação econômica, continua sua trajetória ascendente. "É mais do que uma apreciação. Estamos assistindo a uma apreciação forte do dólar", afirma o diretor de operações da CM Derivados, Julio Chaubet. O índice US dólar index, que estabelece uma comparação com as sete divisas mundiais de referência – entre elas iene, libra e euro– mostra uma alta de 25% no acumulado deste ano.

Os analistas coincidem em que, além dos contratempos na China, a recuperação da locomotiva norte-americana – impulsionada pelas novas técnicas de extração de petróleo, que a deixam praticamente autossuficiente em matéria energética – e a guinada do Federal Reserve–, prevista para setembro ou novembro– representam o maior desafio para as economias emergentes.

Estamos diante de uma retração do mercado internacional da qual não se sabe a dimensão, não se sabe. Vamos ter que lidar com a desaceleração internacional Dilma Rousseff

Os seis anos de taxas baratas nos EUA serviram de incentivo para a viagem de importantes fluxos de capital rumo a ouros destinos, com suculentas rentabilidades. Mas o dinheiro está há meses fazendo o caminho de volta, e a proverbial suscetibilidade dos investidores disparou agora com as dúvidas na China. "A fuga de capitais tem uma incidência direta sobre o mercado de divisas porque o movimento em direção a ativos livres de risco implica a compra de dólares e uma queda da demanda de divisas locais", observa Siller.

As severas correções das moedas latino-americanas estão alimentando o fantasma da desvalorização, um velho conhecido das economias da região. Os especialistas coincidem em ressaltar as diferenças em relação, por exemplo, com a crise do México nos anos noventa, que incluiu a quebra de bancos. "Agora é diferente. Antes a taxa de câmbio era fixa e se ajustava utilizando reservas, que ao se esgotar provocavam a desvalorização acumulada. Agora é variável, e o mercado a define, corrigindo pouco a pouco o câmbio", diz o economista-chefe do BBVA Bancomer. "Outro fator é a melhora dos dados macroeconômicos. Não existem os desequilíbrios tão graves em conta corrente que havia antes e as dívidas agora não estão tão fincadas no dólar e em prazos tão curtos como antes, o que significaria um incentivo para a fuga de capitais. No México, na realidade, continua entrando capital. Em um mercado tão grande é difícil ver uma desvalorização", conclui.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_