A diferença do homem e da mulher diante do pornô
Quando nos diz respeito, a sacanagem é tratada como material erótico, sagrado, bonito, refinado; se alheio, não passa de putaria, sujeira mental, zefirismo, “Pornopopeia”
Antes de tudo, a moral da história: a pornografia é o erotismo dos outros. Assina que a frase é tua, querido amigo francês Georges Bataille (1897-1962).
Quando nos diz respeito, a sacanagem é tratada como material erótico, sagrado, bonito, refinado; se alheio, não passa de putaria, sujeira mental, zefirismo, “Pornopopeia” —para sempre citar, amém, o livro de Reinaldo Moraes, um dos maiores da literatura brasileira desde o “Feliz ano novo” (1975) de Rubem Fonseca.
E chega de frescura livresca. A não ser que o(a) amigo(a) insista na leitura do capítulo mais pornográfico/erótico da Bíblia: Cantares, Cânticos de Salomão ou simplesmente Cântico dos Cânticos.
Esquece. Manda nudes.
Vamos à sacanagem propriamente dita, afinal de contas, essas teorias sobre diferença entre erotismo e pornografia são de uma frigidez ou de uma paumolescência sem limites.
O bom é saber agorinha que o Brasil e as Filipinas lideram o ranking de consumo de vídeos pornôs por parte das mulheres, segundo pesquisa dos sites especializados "Pornhub" e "Redtube". Danadas!
O lindo é tentar entender o barato, mesmo que este cronista nunca chegue perto do sentido das coisas:
O macho é mais visual-imediatista, escravo do velho esquema sexo explícito finalizado com o gozo na boca, com jatos pela face etc, aquela obviedade primária que não evolui desde a selvagem era das produções Buttman.
Pornô com enredo
A fêmea tem uma certa queda pelo pornô com enredo, a historinha, a sutileza, os gritos e sussurros. Será? Sempre ouvimos esse conto. Ainda faz sentido, depois de tanto desmantelamento —gracias a Dios!— do mundo? Responda, Lola, responda.
A diretora sueca Erika Lust bolinou muito com o gênero nos últimos dez anos. Ela fez um pornô sob a lei do desejo feminino. No ritmo apimentado de um dedo de moça no ponto certo. O que vi, achei excelente, em matéria de pornografia já fui mulher eu sei, acontece.
...mas será que uma rapariga em flor, uma Lolita do ano da graça de 2015, ainda terá esse mesmo ritmo, com tanta fartura de sacanagem escrita e audiovisual disponível, com a iniciação diferente que ela teve das outras gerações?
O macho é mais visual-imediatista, escravo do velho esquema sexo explícito finalizado com o gozo na boca, com jatos pela face etc, aquela obviedade primária que não evolui
Ainda podemos atribuir, para o bem ou para o mal, tanto “romantismo” assim às meninas? Sei de muitas que repetem, com gosto, devoção e direito a ser feliz o mesmo roteirinho do pornô supostamente machista do gozo na boca ou na cara. Repetem, digo, pedem, quase exigem. Sem que isso signifique humilhação. Na autonomia da alcova, tudo pode e deve.
O maravilhoso é saber da lindeza subjetiva do erotismo, digo, da pornografia, desculpa, do erotismo mesmo. Segue o jogo das coisas misturadas, o côncavo e o convexo, como diria meu amigo Erasmo Carlos.
Vai saber o que existe realmente de diferença na fisiologia do gosto masculino ou feminino no reino pornô! Vai saber.
Sugiro que façamos um troca-troca pedagógico de vídeos e filminhos. Será bom para todo mundo. Esses moços, pobres moços, aprenderão a ser menos avexados e objetivos na hora do gozo. Essas minas, lindas minas, ficarão mais pervertidas.
Aqui não tem essa de guerrinha de sexos, coisa do paleolítico publicitário.
Sugiro, na linha pornô para mulheres, que elas vejam, sobretudo, quando não são tocadas.
A fêmea tem uma certa queda pelo pornô com enredo, a historinha, a sutileza, os gritos e sussurros. Será?
No que me resta, agora mesmo cheirando as folhas da revista, meu desejo gutenberguiano, que coisa linda, na Playboy de aniversário dos 40 anos no Brasil. Que bela história. Mais que isso. Uma mitologia nacional do erotismo. Estou dentro, com todos os dedos masturbatórios do amor platônico.
As folhas das folhas da relva, pra gente nessa manhã do Walt Withman, o maior poeta de todos os tempos, incluindo todas as sensações, sentir que já nos gastamos o suficiente de modo a ter o dobro, a invenção da putaria etc.
Só Walt Withman me interessa. Aquela folha descuidada que cai no pré-inverno duvidoso...
Só um olhar para a ideia de amanhã de manhã etc.
Vou vagar por ai, amigos, aqui fica o beijo e admiração, mas teimo, porém, por questões contratuais, firmar Walt Whitman, como testemunha do que teremos doravante a dizer, com ou sem amor.
Xico Sá, escritor e jornalista, autor de “Big Jato” (Companhia das Letras), entre os outros livros
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