Como fazer detox de polêmica nas redes sociais
Só sei que por uma semana não dei milho aos pombos da polêmica tuiteira. Muito menos aos humanizados facebookianos. Simplesmente curti adoidado.
Só sei que nada sei ou simplesmente a abreviatura #SSQNS. Aplico o mantra de Sócrates, o grego —não o genialíssimo doutor e jogador corintiano!—, como método para passar uma semana, pelo menos uma semana, longe das polêmicas das redes sociais. Como se fosse um alcóolatra em tremelicas de uma abstinência, repito, só por hoje, mais um dia obrigado Senhor etc.
Aplica o Sócrates, funciona. Recomendo.
Que diabos tenho a ver com o episódio “Caetano tira foto de cueca com Carla Perez e Xanddy na Suiça”? Se de perto ninguém é normal, imagina de longe, e viva a baianidade relax. Achei tão-somente hilário e irônico o Caetano ali no camarim como se estivesse na aldeia hippie da praia de Arembepe das antigas. É só um jeito de corpo, não precisa ninguém acompanhar. Caetano de meia e cueca. Só não curti as cores. Nada tropicalistas, mas o movimento é sexy no Festival de Montreux 2015.
Só sei que por uma semana não dei milho aos pombos da polêmica tuiteira. Muito menos aos humanizados facebookianos. Simplesmente curti adoidado e até mudei o meu status para “estou em um relacionamento tipo fala sério”. Paz nas redes sociais aos homens de boa vontade.
Não opinei nem mesmo sobre o episódio protagonizado pela atriz gracinha Thaila Ayala. Sim, a moça que chamou a nossa sagrada taba tupi de “país de merda” depois de um probleminha alfandegário ao retornar de uma viagem aos EUA.
A inspiração para o detox de polêmica tirei de um trecho do artigo do filósofo Marcio Tavares d´Amaral, no jornal O Globo:
“Se cada um dos participantes de um debate filosófico não estiver profundamente convencido de não saber tudo, a verdade não aparece, refém da arrogância. O trabalho de Sócrates consistia em reduzir o companheiro à sua salutar ignorância. E então bastava afastar os preconceitos e cultivar a boa-fé. E cuidar cada um de si, conhecer-se bem o suficiente para que entre o não-saber das coisas e o saber de si mesmo a verdade florescesse como uma flor no asfalto. Com a democracia foi a mesma coisa”.
Tangerina descascada
Confesso que tremi diante de algumas polêmicas da semana. Não daquela da tangerina (mixirica, bergamota) descascada que vem em caixinhas de isopor do supermercado etc. Até acredito que esse tipo de facilidade e preguiça no sentido do tato faça algum mal a estes moços, pobres moços que nunca subiram numa árvore para roubar uma fruta.
Achei tão-somente hilário e irônico o Caetano ali no camarim como se estivesse na aldeia hippie da praia de Arembepe das antigas
Tudo bem. A única prática que faz falta mesmo à juventude, porém, é a arte de chupar manga, se lambuzar chupando manga, tingindo o rosto do amarelo-manga. A arte de chupar manga, como bem disse no meu “Catecismo de devoções, intimidades & pornografias” (editora do Bispo, 2005, esgotado), prepara a criatura para a vida. Se há uma queixa pública das moças sobre a ausência de sexo oral por parte dos rapazes, epa!, atribuo à falta da prática de chupar manga desavergonhadamente desde a infância. A manga ensina e desperta a vontade de se lambuzar no melhor dos mundos.
Cunha, o “Papabiru”
Diante das polêmicas da nossa imaculada classe política me tremi mais ainda. Difícil não se manifestar, afinal de contas curto fazer minhas pequenas sátiras anarco-comunistas e provocações do mesmo gênero. Resisti. Nem comentei sobre a declaração do ano: o deputado Eduardo Cunha dizendo que, doravante, seria oposição. Nem um debochado hahaha. #SSQNS.
Se há uma queixa pública das moças sobre a ausência de sexo oral por parte dos rapazes, epa!, atribuo à falta da prática de chupar manga
Só sei que nada sei. Aqui entre nós, porém, vale a pena recordar: a primeira vez que vi este senhor foi na antessala do PC Farias, tesoureiro da campanha eleitoral e homem-forte do governo Collor, começo dos anos 1990, num flat da Vila Olímpia onde o capo das Alagoas despachava. Repórter da Folha à época, eu seguia o dinheiro, como pede o manual do jornalismo investigativo americano, na cobertura do Collorgate.
Detox à parte, também não custa compartilhar o apelido que PC usava para falar de Cunha: “Papabiru”, mistura de papagaio —por causa do napa— com gabiru, um tipo de rato mais liso e mais esperto do que qualquer ratoeira.
7x1 das meninas
O apelido que PC usava para falar de Cunha: “Papabiru”, mistura de papagaio (por causa do napa) com gabiru, um tipo de rato
Para não dizer que não quebrei o desafio do detox, confesso: não resisti ao placar de 7x1 aplicado pelas meninas da Seleção Brasileira de futebol sobre o time do Equador, nos Jogos Panamericanos. Não poderia perder a chance, comentarista de boteco que sou, de tirar a buena onda com os marmanjos que tomaram o mesmo escore dos alemães no Mineirazo. E o melhor: a goleada das meninas se deu no Dia do Homem.
Aplique você também a fórmula milagrosa e sábia do Sócrates. Funciona. Nem na crise grega, vixi, me meti. Tampouco ousei a bancar o ombudsman da imprensa burguesa ou operária. Por mais um dia, só sei que nada sei.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Chabadabadá –aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha” (Ed. Record), entre outros livros
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