Irmão de Dirceu admite ‘mesada’ e complica situação do ex-ministro
Sócio da JD, Silva diz que recebia 30.000 de lobista que delatou o ex-homem de Lula. Dinheiro era pago de forma “espontânea”
O irmão do ex-ministro José Dirceu, Luis Eduardo de Oliveira e Silva, expôs mais uma peça do quebra-cabeça das operações da JD Consultoria, que levou a dupla a ser detida pelo juiz Sérgio Moro no dia 3 de agosto, dentro da Operação Lava Jato. Em depoimento à Polícia Federal, Silva disse que entre 2012 e 2013 recebeu 30.000 reais mensais da empresa Jamp, de propriedade do lobista Milton Pascowitch, a título de “ajuda para despesas variadas”. Foi um pagamento espontâneo, segundo seu depoimento, e que na prática seriam descontadas das pendências financeiras entre a Jamp e a JD.
Pascowitch atuava para a empresa Engevix, cliente da JD, e também envolvida na Lava Jato, e firmou delação premiada com a força tarefa de Moro no final de junho. Foi o depoimento do lobista, antigo aliado de Dirceu, que confirmou detalhes dos movimentos do ex-ministro, relatando o esquema de negócios das empreiteiras com a JD em troca de acesso aos negócios da Petrobras.
O irmão do ex-ministro constava como sócio da JD e, segundo suas palavras, “apenas prestava serviços administrativos para a empresa de consultoria de seu irmão”, que era quem exercia as atividades da empresa. Ele confirmou, por exemplo, que a JD tinha contrato com a Engevix para prestar serviços de “prospecção de novos negócios no exterior, em países como Peru e Venezuela”. Sobre o dinheiro recebido por Pascowitch, ele diz que pediu para deixar de receber quando seu irmão foi preso em 2013.
O depoimento de Silva confirmou algumas suspeitas dos investigadores, como o teor de anotações apreendidas na JD. Parte desse material dizia respeito a nomes e valores de empreiteiras. “O declarante acredita que os nomes e valores estão associados a doações para campanha”, diz o relatório da Polícia Federal. “Mas que seriam doações oficiais."
As informações vão completando o quebra-cabeça sobre os acordos da consultoria para ajudar as empresas fornecedoras da Petrobras a fechar negócios com a petroleira. Na quebra de sigilo da empresa, foi descoberto que a JD recebeu mais de 8,5 milhões de reais por consultorias prestadas às construtoras investigadas pela Lava Jato.
Silva confirmou também que um imóvel em São Paulo, que estava em seu nome até fevereiro deste ano, teve uma reforma custeada por Pascowitch. E, ainda segundo ele, o valor seria descontado das prestações de serviço da JD ao lobista. Pascowitch já havia contado que pagou a reforma de um imóvel de José Dirceu em Vinhedo, no interior de São Paulo, e ainda, a compra de outro, para a filha de Dirceu, Camila Ramos de Oliveira e Silva, no valor de 500.000 reais.
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, Roberto Podval, advogado de Dirceu e de seu irmão, disse que o depoimento de Silva estava dentro do esperado, ou seja, que ele colaborasse prestando as informações pedidas na investigação. E que os 30.000 reais que ele recebia estavam dentro do acordo firmado pela Jamp e JD. ”O Milton tinha contrato da Jamp com a JD. Ele (Luiz Eduardo) estava precisando. Milton fica amigo do Zé Dirceu, vê o Luiz Eduardo sem dinheiro e empresta. Não há nenhum mensalão nisso.”
O seu depoimento, porém, levanta dúvidas se o ex-ministro conseguirá se livrar de alguma condenação. O ex- homem forte de Lula tem os passos monitorados pela Justiça desde o início das investigações da Lava Jato, e ele estava ciente disso. Depois que Pascowitch firmou acordo de delação, ele tentou entrar com habeas corpus preventivo para não ser preso, mas não teve sucesso. Sua prisão abalou o já fragilizado PT, que optou por não fazer defesa de seu antigo fundador desde a sua detenção na semana passada. A postura foi diferente à que foi tomada quando João Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do partido, que foi preso em abril, e teve defesa acalorada de dirigentes do partido.
Silva que está preso desde o dia 3, teve sua prisão prorrogada por cinco dias pelo juiz Sergio Moro, a partir desta sexta.
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